Capítulo 14: Um passeio...

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- Mãe, dê uma olhada – eu disse entregando o folheto que Abby me dera.

- Hum! Interessante.. é tipo um acampamento de sobrevivência? – ela me perguntou animada.

- Não, mãe. É apenas um acampamento, sabe? Para estar com os amigos e essas coisas do tipo – Eu falei timidamente, já esperando um "não" como resposta, pois não levava em consideração o fato dela ceder. Mas com um súbito "sim" de alegria da parte dela, me fez ficar feliz.

- Sério que você deixa? – perguntei ansiando outra confirmação.

- Claro! Estou completamente feliz que você fez amigos, não aguentava mais a demora, já faz dois meses que estamos aqui,estava na hora – ela me disse levantando-se alegremente, prendendo seu cabelo com uma piranha que estava na mesa. Fiquei possuída de alegria e realmente não via a hora deste dia chegar.

  Tinha ficado um tanto surpresa, não sabia se minha mãe tinha lido apenas o grande e chamativo "acampamento", no folheto, ou se ela lera o textinho que havia ali também. Não fazia ideia se algum dos meus pais já ouviram falar de Deus, também não tinha em mente se eles sequer sabiam quem era Deus. Mesmo eu sendo muito feliz na presença do Senhor, não tinha uma opinião formada, eu não tinha certeza se estava disposta a negar algumas vontades, minha esperança, era que talvez aquele acampamento pudesse me ajudar.

  Quando minha mãe havia me liberado, eu, segundos depois liguei para Abby afim de contar o que me tinha ocorrido , ela ficou imensamente contente,eu conseguia ouvir seus gritinhos de alegria quando ela afastava o celular de seu rosto pedindo "um segundo". Depois de conversarmos mais um pouco, desliguei o celular despedindo- se de Abby, pois ouvi a voz de meu pai...

  Desci ligeiro as escadas e olhei meu pai me esperando para um passeio, junto com meu irmão e Astro.

- Sairemos agora? – perguntei logo após ele ter feito o convite. Eu não via meu pai a dois dias.

- Sim – ele respondeu um pouco constrangido. Olhei de relance para minha mãe e ela me olhou com um olhar singelo, resolvi aceitar o convite, para não gerar intriga e não entristecer meu pai, por mais que eu estivesse queimando de raiva dele – Está bem, irei me arrumar.

- Vish! Vamos ter que esperar até amanhã! – Ben resmungou, todos rimos como fazíamos antes, mas de uma certa forma, houve um clima não muito confortável, então resolvi fechar a cara e ir me arrumar, percebi uma leve decepção no rosto de meu pai.

- Enquanto se arrumava sua mãe contou que você que irá escrever você para um acampamento, é isso? – meu pai perguntou sorrindo, segurando firmemente a guia de Astro.

- Sim – respondi secamente.

- Acho que será muito divertido, e também, bom, para você se enturmar – ele continuou da forma mais gentil que conseguira agir.

- sim, será – respondi bruscamente.

- Pai! Pai! Compre um sorvete para nós! Compre, compre! Por favor – Ben implorava apontando para um carrinho de um homem que passava.

- Claro Ben! – ele respondeu radiante tirando a carteira do bolso. Ele comprou um sorvete para cada, escolhi de framboesa, um dos meus preferidos. 

  Após a compra dos sorvetes, fomos até o parque de Abita Springs. Lá, minha expressão de seria e emburrada desapareceram quando avistei sr. Duarte, sorri radiante, o que de fato surpreendeu meu pai que estava ao meu lado, corria ao encontro de Duarte e ele me recebeu com um sorriso e um abraço encantador.

- Já meio que esperava te encontrar aqui – eu falei com um sorriso divertido no rosto.

- Haha, confesso que fico surpreso em vê-la– sr. Duarte me disse fazendo um sinal com sua mão, e falando de um jeito amável.

- Vim passear com meu pai – eu pronunciei dando uma lambida no meu sorvete. Meu pai vinha vindo atrás de mim, ainda segurando Astro e Ben estava andando do seu lado lambendo seu sorvete alegremente.

- Olá sr. Duarte – meu pai o cumprimentou com um aperto de mão saudavelmente elegante.

- Olá Sr. Baker – Duarte disse puxando meu pai para um abraço amigo. Meu pai ficou um pouco surpreso mas devolveu o abraço com amabilidade.

- Cidade pequena faz com que todos se encontrem com facilidade, não é? – papai proferiu dando risinhos.

- Bem isso! – concordou sr. Duarte com um sorriso de orelha a orelha. Conversamos mais um pouco e logo sr. Duarte foi para sua casa , pois gostaria de descansar, ele nos convidou para um dia iramos jantar com ele na sua amável e aconchegante casa, aparentemente meu pai aceitou e eu fiquei imensamente feliz.

- lembre-se de aparecer lá em casa para estudarmos mais sobre a palavra, não se esqueça – sr. Duarte me disse feliz, fazendo meu pai olhar confuso para mim. Logo após ele ter ido embora, estava eu e meu pais sentados no banco da praça, dando um pequeno tempo para Ben brincar e obvio havia começado o questionamento de meu pai...

- Estudar o que?

- Um livro, pai – respondi sem paciência.

- Mas que tipo de livro?

- Um livro, não sabe o que é um livro, quer que eu desenhe? – disse irritada ele apenas abaixou a cabeça.    –Desculpa – recuei -Não queria falar desse jeito – eu disse me desculpando. Eu tinha clareza, naquele momento, que eu estava me envergonhado do Senhor!

- Você quer mais alguma coisa? Podemos comer mais algum lanche e ir ao cinema, fazer várias coisas, Ben vai adorar e...

- Pai – eu o adverti já me arrependendo, mas era tarde então resolvi continuar – se está fazendo todas essas coisas, para me alegrar, para dizer que você e mamãe irão se divorciar, desiste , já sei e também não se preocupe, não acho que você se importe – meu pai gelou, uma tristeza se derramou sobre ele e pude ver isso pela sua compostura e seu olhar, eu com o coração duro e irritado não conseguia me arrepender.

- Clara, não é nada disso, e você sabe – ela falou triste a ponto de perceber tal tristeza no seu falar. Não olhei para ele, mas perguntei se eu poderia voltar para casa ele respondeu que sim mas muito e muito triste.

  Saí correndo dali, deixei por acidente meu sorvete cair no chão, ele fez uma lambança no chão e eu quase caí por conta dele. Enquanto corria para casa, uma pontadinha de arrependimento começou a surgir no meu coração, pensei bem, mas por algum motivo não conseguia perdoar ninguém. 

  Cheguei em casa marchando e raiva, abri a porta forte, minha mãe me olhou espantada e perguntou:

 -Como foi o passeio?

 - Sei lá - respondi bruscamente.

  Então, como sempre me tranquei no meu quarto, mas não chorei, nem me amoleci, apenas fiquei lá, me remoendo de raiva.

  Quando escutei meu pai entrar dentro de casa tomei forças e gritei "o que uniu Deus não separe o homem", me referindo a bíblia, na passagem de Mateus 19:6. Eu gritei tão alto que tive a impressão de que Abita Springs inteira ouvira meu grito.

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