MORTE SÚBITA

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Volto para o hotel logo depois da reunião com Sergei. Eu podia ter seguido seu conselho e aproveitado a devushka que estaria à minha disposição apenas mostrando na recepção o cartão que me entregara, mas decidi que farei isso depois. Primeiro, preciso comunicar Enrico dos últimos acontecimentos.

Ao chegar, jogo meus pertences sobre a mesa de centro — carteira, dinheiro e chaves do carro alugado — e não encontro Giovanna. A suíte toda parece silenciosa demais e, não podendo segurar minha curiosidade, verifico seu quarto — separado do meu — e constato que, de fato, não está. Não me preocupo com seu paradeiro, mas também não deixou de me perguntar por que seu segurança não me informou seu paradeiro, e sigo para meus aposentos. Sento-me na cama um instante, baixando a cabeça e inspirando fundo, precisando desse momento, sem um motivo aparente. Então tiro o paletó, sirvo um uísque que encontro no minibar e acendo um charuto que trouxe comigo, embora uma das regras do local seja não fumar nos quartos.

Foda-se.

Apoio o copo na mesinha de cabeceira — o gelo que começa a derreter transpira no vidro e deixa uma marca na madeira — e saco meu celular do bolso, discando o número do meu irmão. Espero alguns toques, que não são atendidos. Então, tento de novo. Ele atende, com um rosnado raivoso, quando estou quase desistindo outra vez:

— São três da manhã em Vegas, seu maldito filho da puta.

Não seguro uma risada maior.

— Acordei a Bela adormecida? — provoco, soltando a fumaça do tabaco no ar.

— Ettore... — Meu nome nos seus lábios é uma mera advertência.

— Está bem. Liguei para avisar que acabei de vir da reunião com Sergei.

Ouço um farfalhar do outro lado da linha, como se ele estivesse se levantando da cama. Meu irmão não diz nada por um ou dois segundos, o que me dá a entender que se afastou de Antonela para conversar comigo. Enrico não fala de negócios perto de mulheres, exceto Brooke, sua amante.

— Ele aceitou o acordo?

— Ainda não. Disse que precisava analisar a proposta. Vamos nos encontrar amanhã de novo. — Dou outra tragada no charuto, agora mais devagar, apreciando o momento.

Russo desgraçado — resmunga. — Espero que volte com um tratado, Ettore. Ou teremos perdido tempo.

Dou de ombros. Não me importo muito em ter perdido tempo. Estava mesmo precisando dar uma arejada.

— Vou fazer o meu melhor para convencê-lo — minto, porque não darei meu melhor em nada. Se Sergei não quiser essa aliança, eu é que não vou persuadi-lo do contrário. — Se ele não aceitar, pelo menos minha viagem para cá não terá sido um desperdício total.

Do que está falando?

— Vou foder uma prostituta russa. Sergei me deu uns cartões pretos que são tipo um passe-livre pra isso. Basta que eu apresente no hotel e terei uma puta para me chupar — conto, me sentando na cama e pegando meu copo de uísque com a mão que seguro o charuto entre os dedos.

Então faça bom proveito, já que tem uma bela esposa e se recusa a comê-la.

Fecho o semblante. Ele sempre vem com essa provocação idiota para meu lado.

— Eu me recuso e seguirei me recusando — rebato, precisando de um gole generoso do uísque. O líquido parece descer com dificuldade, como se fosse viscoso, e engulo um nó que, inexplicavelmente, se forma na minha garganta. Depois, dou uma última tragada na nicotina antes de apagá-la no cinzeiro sobre a mesa de cabeceira e deixá-la ali, ao lado do copo vazio. — Giovanna vai morrer sem saber o que é ter meu pau na boceta dela. Não que ela esteja realmente muito preocupada com isso.

INTOCÁVEL (NA ÍNTEGRA ATÉ 20/04)Onde histórias criam vida. Descubra agora