INIMIGOS EM COMUM

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Vocês pedem, eu atendo. Postagens de Intocável começam hoje. Atualizações semanais (sem dia fixo, mas espero conseguir postar toda terça-feira). Boa leitura, xoxos.

***

No escritório do Paradise, Enrico está sentado atrás da mesa, fumando um charuto e bebendo uma dose de uísque enquanto conversa com Giovanni, seu mentor. Os capi dos demais clãs da famiglia também já estão aqui, rodeando o capo dei capi. Romeo De Santis, com seu corpanzil enorme, ocupa seu lugar de sempre, dentro de um terno grande e suspensório, e ri como um porco velho com alguma coisa que o velho Dario Parisi acabou de dizer.

Os homens param de conversar quando notam que eu cheguei e estou parado à porta, observando-os. Meu irmão mais velho acena para mim e me aproximo, tomando meu lugar à mesa, silencioso.

— Agora que estamos aqui, precisamos falar sobre os russos.

— O que tem esses putos vermelhos? — pergunto, pouco paciente ao se tratar deles.

A Mahyas D'Arezzo propriamente dita nunca entrou em qualquer conflito com os russos, mas entraram em conflito com outras famílias italianas, então somos inimigos só por conta de nossas ancestralidades.

— Temos uma chance de fecharmos um bom negócio — Enrico se pronuncia, girando de um lado a outro na sua cadeira.

Franzo o cenho e me viro para os demais chefes, para saber o que pensam disso tudo. Não é possível que estejam mesmo cogitando em aceitar compactuar com os inimigos vermelhos. A expressão no rosto de Parisi e De Santis, entretanto, me faz entender que eles meio que já estão a par do assunto.

— Como pretende fechar um bom negócio com os putos dos russos, Enrico? — Quero saber.

Ele se levanta do seu lugar, a mão em torno do copo de uísque e o charuto preso entre os dedos.

— Soube que há uma área na Espanha em que Sergei perdeu influência para os sérvios, depois de um desentendimento entre os clãs que não procurei entender — Enrico explica.

Ergo uma sobrancelha, curioso com o caso. Russos e sérvios são aliados há muito tempo, amigos de longa-data. Surpreende-me que uma das famílias mafiosas tenham se voltado uma contra a outra. Mas também não é incomum. Quando os interesses falam mais alto, nenhuma amizade é forte o suficiente para suprir a ganância e sede de poder. Guerra entre máfias por mais influência, mais poder, mais dinheiro, mais território é extremamente comum no nosso meio.

— A questão é que os sérvios expulsaram os russos dessa área da Espanha. Uma área bastante turística e lucrativa, e firmaram aliança com a Yakuza. Sergei tentou recuperar seus territórios, mas não conseguiu. Ele ainda tem tentado e segue fracassando, perdendo homens, e está a ponto de sofrer um colapso dentro da própria organização por conta dessa guerra e de outros problemas que está enfrentando.

— Que pretensões tem com isso tudo? — Noto que só eu estou fazendo questionamentos.

É claro que Romeo e Dario já estão a par de tudo. Só não entendo por que eu estou sabendo apenas agora. Talvez porque fiquei incomunicável nos últimos dias, tendo de lidar com o merda do Giordano.

— Oferecer uma aliança. Ajudá-los a recuperar o terreno e influência e dividirmos os lucros. O inimigo do meu inimigo deveria ser meu amigo — ele pronuncia, voltando-se para mim. — Mas, nesse caso, o inimigo do meu inimigo é um inimigo em comum e eu vou jogar do lado mais fácil de vencer.

Enrico abre um sorriso sacana, o charuto entre os lábios.

Nisso, eu sei que ele tem planos diabólicos para os russos. Não é difícil compreender. Enquanto a ideia vai assentando na minha mente, a sala fica em silêncio. Seria uma idiotice sem tamanho tentarmos tomar essa área na Espanha sozinhos. É um território que não temos influência, ao contrário dos sérvios e dos japoneses. Mas unindo forças com os russos, igualamos as forças e temos uma chance de recuperar o território. Depois, quando assentarmos alguma influência sobre a região, é fácil usurpar a parte dos putos vermelhos e monopolizarmos o poder.

INTOCÁVEL (NA ÍNTEGRA ATÉ 20/04)Onde histórias criam vida. Descubra agora