PROVOCAÇÃO

1.7K 197 64
                                    

Acordo com meu telefone tocando sobre a mesa de cabeceira. Quando atendo, é Antonela do outro lado da linha, querendo saber o que diabos meu marido aprontou dessa vez para que tenha deixado o dela tão extremamente irritado. E eu, sinceramente, não sei do que ela está falando.

Sento-me na cama, encostando-me à cabeceira e coçando os olhos. Não é a primeira vez que Ettore se mete em alguma confusão, e Enrico se irrita com isso. Talvez nem seja a última. Toda vez, o motivo é quase sempre o mesmo: o temperamento explosivo de meu amado esposo. Soube que nem sempre ele foi tão temperamental. O comportamento inconsequente e irresponsável são frutos do seu luto.

— Eu nunca sei as merdas que o Ettore faz, Antonela. Por que ainda insiste em me ligar para tentar descobrir? — Ela faz isso porque Enrico dificilmente confidencia qualquer coisa com a esposa. Uma tradição idiota de não falar de negócios na frente de mulheres.

Tanto faz, Giovanna. A questão é que, dessa vez, parece que ele passou dos limites. Nunca vi Enrico tão possesso como hoje. Ele saiu daqui umas cinco da manhã, praguejando toda a descendência do irmão.

— Uma perda de tempo — retruco, conseguindo me levantar e ir até o banheiro — porque sabemos que Ettore dificilmente terá um herdeiro.

Ao menos legítimo. — Antonela ri do outro lado da linha, e eu preciso acompanhá-la. — Vocês realmente nunca transaram?

Não é segredo para ninguém que Ettore se recusa a consumar nosso casamento. Toda a famiglia sabe sobre isso porque ele nunca fez questão de esconder, principalmente quando, certa vez, foi perguntado sobre um novo herdeiro. É um pouco crucial que tenha um filho, para assumir o clã quando ele não estiver mais aqui, mas meu marido não se importa muito. Qualquer outro mafioso pode assumir a liderança — até mesmo Enrico ou seu filho —, então meu marido não se preocupa. E, por não se preocupar, não vê motivos para se deitar comigo.

Sento-me ao vaso sanitário depois de abaixar a calcinha.

— Não. — É tudo que respondo, dando de ombros.

Nunca me importei muito com a indiferença dele. Em certo nível, até o compreendo. Maggie tinha morrido não fazia muito tempo, e logo se viu preso a um acordo de casamento. Eu, a vida toda, fui criada para isso. Sempre soube que jamais me casaria com alguém do meu interesse, por quem nutrisse qualquer sentimento. Condicionada a essa vida, não foi difícil aceitar. Diferente de muitas outras mulheres dentro da máfia, que se rebelaram contra a estrutura sexista, machista e patriarcal da famiglia, aceitei minha sina porque é o que me traz conforto, de qualquer maneira. Não serei uma Giane da vida, que renegou o próprio sangue e vive às próprias custas. Se para ter meus luxos sustentados preciso me casar com um homem que se nega a me tocar — literalmente, de todas as formas — que assim seja. Não faço questão.

Não sabe o que está perdendo — Antonela zomba, trazendo-me de volta ao mundo real.

Seguro o telefone com os ombros, termino meu xixi, seco-me e subo a calcinha. Lavo as mãos na pia, enquanto digo:

— Posso arranjar um vibrador.

Ela ri, de uma forma exagerada. Eu já pensei no assunto, sinceramente, mas desisti porque não é algo que fertilize minha imaginação. Não é um pedaço de plástico que vai me trazer satisfação, se querem saber. Sou virgem, mas não sou idiota. Mesmo que às escondidas do meu pai — porque sexo e liberdade sexual para mulheres é algo muito tabu ainda no nosso meio — eu me interessei pelo assunto e passei a conhecer meu corpo. Sei que um orgasmo depende muito mais de mim do que de um pau — de plástico ou de carne. Aos dezoito, peguei-me muito interessada por voyeurismo e comecei a assistir casais na internet. Depois, passei a frequentar locais especializados, sem que meus pais soubessem, é claro, e, desde então, tem sido minha fantasia favorita, meu modo favorito de me masturbar.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 16, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

INTOCÁVEL (NA ÍNTEGRA ATÉ 20/04)Onde histórias criam vida. Descubra agora