3- Unica Cura

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Diario da Shuhua 📔 24/06/2020

Acordei sentindo uma forte dor de cabeça. Tentei abrir os olhos enquanto me levantava, e então escutei uma voz rouca falando comigo.

-Senhorita Yeh! Não se levante agora -A pessoa me empurrou de volta na cama me impedindo de fazer tal ato.

-Quem é você? -Abri os meus olhos.

-Me chamo Lee Chon, sou o doutor que esta cuidando de você. A senhorita teve um desmaio hoje, não se lembra? -Me encarou preocupado

Hoje....hoje....ah sim, hoje!

Pela manhã me arrumei e fui para escola, como de costume. Vi Soojin na terceira aula, após o intervalo.

Ela parecia animada hoje, tenho quase certeza que era pelo presente que seu pai havia lhe dado. Ela mostrava a bolsa a todos com o sorriso mais lindo do mundo, estava muito contente.

Você é sortuda, Soojin.

Durante a terceira aula, eu senti dores no estômago, eu mentiria se dissesse que estava surpresa, na realidade eu estava muito acostumada com essas dores.

Os bullies me xingavam de gorda (e qualquer outro xingamento relacionado a não estar no padrão) na infância, então eu parei de comer.

Primeiro pelo fato de que o meu pai não deixava eu comer direito e também pelo fato das pessoas quererem que eu fizesse uma dieta.

Então eu me acostumei a não comer, e essas dores ficaram mais comuns na minha vida.

Ja passei por diversos médicos que diziam para que eu me alimentasse melhor. E um deles disseram que eu podia ter anorexia.

Os bullies não pararam, pois agora, eles me xingavam por ser magra demais. Definitivamente não dava para agradá-los.

Desmaios ficaram frequentes quando parei de comer. A fraqueza se tornou a minha melhor amiga, tive até que parar de fazer educação física. E a vontade de emagrecer ficou cada dia maior.

Mas o que eu posso fazer? Se as pessoas queriam me ver emagrecer, eu iria fazê-lo.

Quando chegou a hora da quarta, e última aula, eu senti as dores no estômago ficarem mais fortes, e eu ja sabia o que iria acontecer.

Então me levantei e fui até a mesa da professora. Contudo, no caminho, senti o meu corpo enfraquecer, perdi o controle dos meus movimentos e cai no chão.

A última coisa que escutei foi a professora chamando o meu nome, e os bullies rindo.

-A escola te chamou aqui? -perguntei

-Sim. Eles te levaram para a enfermaria quando desmaiou, e a escola ligou para o hospital pedindo um médico. Os seus pais foram convocados ao colégio e então te trouxeram para casa.

-Ah sim...entendo... -respondi com o menor interesse

-Yeh Shuhua... -Se sentou ao meu lado na cama- Quando conversei com a direção da escola eles me disseram que isso era comum com você. Que você tinha desmaios repentinamente, e também me disseram que te pegaram se cortando algumas vezes. -Pois a mão em cima da minha -Você precisa ir para um psicólogo urgentemente. Sei que é difícil para você, mas eu tenho certeza que isso vai te fazer ficar melhor.

Psicólogo....esse era o problema.

Eu não confio nas pessoas, eu não sei lidar com elas, não sei falar com elas e muito menos me abrir.

Fui para dois psicólogos por recomendação da escola mas o primeiro alisava a minha coxa por baixo da mesa, e o outro não parecia muito interessado em me ajudar, parecia estar ali por obrigação.

-Sabe...eles me disseram que você não se enturma muito com os alunos, não tem amizades. Sempre fica sentada no fundo e dificilmente fica no centro das coisas.
Nós nos preocupamos com você. Eu, os seus pais, a escola. Queremos que você fique bem.

Tive vontade de rir quando ele terminou aquela frase. Os meus pais? A escola?

O meu pai era um desgraçado que só bebia as custas da minha mãe e me odiava.

A minha mãe vivia trabalhando para sustentar o alcoólatra e para sustentar a filha que ela dizia ter sido um erro.

E a escola? Porra, eles veem como os bullies agem comigo e com outros alunos e não falam nada! Eles dizem se importar mas na verdade estão nem ai!

Sem contar os professores. Ja ouvi muitas piada deles. Me lembro bem quando a professora me zoou na frente de todos fazendo piada com o meu corpo.

A escola me odeia, os meus pais me odeiam, ninguém se importa comigo!

Eu queria gritar, eu queria falar tudo que tinha vontade, eu queria botar para fora tudo que estava entalado a anos na minha garganta.

Mas o que eu respondi foi

-Vai ficar tudo bem, eu vou me cuidar a partir de agora -tentei forçar um sorriso

-Tem certeza? -Balancei a cabeça dizendo sim- Certo então... -Se levantou- Bem, você precisa de açúcar, a sua glicose esta muito baixa. Recomendo que faça nascau com leite para tomar agora, vai ajudar.

-Obrigado, doutor.

-De nada, fica bem, Yeh. -Saiu do meu quarto

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