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𝔼𝕣𝕒 segunda feira, o que quer dizer que uma semana se passou. O que quer dizer que hoje ela vem buscar minha resenha de seu livro/diário/autobiografia/rabiscos aleatórios com muito sentido de uma mente encarando um fim tragicamente mórbido.
O que quer dizer que hoje é o grande dia — e a maioria das pessoas acha que só vai dizer essa frase no dia do seu casamento. Mas eu provavelmente nunca vou me casar, então precisava de uma desculpa para falar isso.
Tenho estado ansioso desde que acordei, assim como tento me convencer até agora de que estou em meu estado normalmente apático. Mas é claro que não ando sendo bem sucedido. Primeiro por que esbarrei em pelo menos cinco coisas — isso ainda só sem sair do apartamento — e eu sempre estou atento o suficiente em tudo que acontece a minha volta, nunca fui do tipo atrapalhado, e realmente não lembro qual foi a última vez em que tropecei, quebrei, trombei ou adicionei leite extra no pedido de um cliente que obrigou o garçom a escrever em letras garrafais "INTOLERANTE A LACTOSE!" — felizmente os três tons mais claros da bebida eram o suficiente para alertar o cliente, como uma placa em neon dizendo "Perigo!". Felizmente ninguém foi parar no hospital, e nosso banheiro não está interditado.
E eu realmente nunca, em todos esses anos como barista, errei algum pedido — o que torna o engano ainda mais contrastante. E é por isso que não vou ganhar o quadrinho de "Funcionário do mês" nem a porcentagem a mais no salário, porque obviamente a megera da gerente só precisava de uma desculpa. Qualquer uma.
Vilões só são legais na ficção.
Em meio a todas essas catástrofes apenas consigo culpá-la, porque não aguento mais jogar a culpa em mim mesmo, preciso de uma segunda cabeça a quem queira decapitar — e, bem no fundo, acredito mesmo que ela seja parcialmente culpada. Afinal, não foi por causa dela e daquele maldito diário que estou assim?
Acho que quando nos vermos vou pedir que ela assuma as consequências — sim, isso inclui os honorários que vou deixar de ganhar.
A questão é que já passa das dezessete horas, e eu sei que ela costuma vir aqui até as vinte, mas ela não poderia ter um pouco mais de consideração e passar o mais rápido que pudesse?
Eu só quero poder largar isso em suas mãos e me livrar do peso de questões que não são minhas. Passei a vida toda evitando problemas para me apegar aqueles que nem são meus, obrigado.
Mas, por alguma razão, sempre que o sino toca espero ver o prata de seus cabelos dando cor ao ressinto e seu perfume adocicado se mesclar aos grãos de café. Nada. Era só uma senhora idosa com seu doce netinho que armou um circo por não termos mais bolos de chocolate e ele ter que se contentar com um de morango. Pirralho chato — não gostar de crianças deveria ser algo perfeitamente plausível como, sei lá, "Hey, não vou com a cara do Henri, o da contabilidade.", quero dizer, elas são máquinas de choro mimadas, dependentes e que não servem pra nada além vídeos que viralizam no YouTube. Ninguém deveria ser considerado um monstro sem sentimentos por não achá-las engraçadinhas ou fofas, mas depois de cometer o erro de falar isso em voz alta e sofrer a retaliação em massa de nossa sociedade, aprendi a guardar certas opiniões.
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A doença das flores
Romance𝐒e eu nunca a tivesse conhecido não teria em meu histórico de buscas do Google tantos sites sobre essa tal doença das flores, Hanahaki Byou. E quem diria que um amor não correspondido poderia fazer nascer - literalmente - flores entre pulmões, traq...