3. A Lenda que percorre a verdade

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Olhei para ela ansiosamente, me preparando para o que iria ouvir, embora no fundo me perguntava se realmente algum dia estaria preparada para tudo aquilo.

— Há muito tempo, além dos humanos, existiu outra espécie, uma que continha todo o tipo de criatura sobrenatural, uma raça chamada Mistyceenia ou místicos. Essa raça não possuía rei único, mas sim 3 governantes, elegido por respeito pelo povo. São chamados de reis justamente por esse respeito, embora todos os místicos convivam como um todo. Tendo esses governantes como chefes dos clãs mais fortes, o Clã Ukidon, o Clã Aniiki e o mais poderoso, o Clã Eclesius.

Olhei para Aren, ele parou de me encarar para olhar para a tia, com um sorriso de quem se acha o maioral, percebi que ele tinha dentes pontudos como de um vampiro e que era a primeira vez que o via sorrir. Ver ele irritado certamente seria uma figura realmente assustadora.

— Humanos e Místicos viviam em harmonia, até os humanos traírem nosso povo com ajuda do Clã Aniiki que os manipularam. Juntos, eles roubaram milhares dos nossos tesouros ocultos, dentre eles a maior relíquia e mais temida dos místicos: Um vaso de obsidiana onde dentro estava selado um mal antigo, uma rainha, com poderes inimagináveis, de acordo com a lenda, ela possuía cerca de 5 metros de altura, cabelos negros como a noite, a pele azulada, olhos brancos e uma coroa de prata e safira que reluz toda sua glória.... Se os humanos conseguirem libertá-la, ela destruirá tudo nesse mundo, se ela conseguir recuperar seu cetro de gelo, os minutos estarão contados pro fim de tudo.

Olhei pro chão, absorvendo toda aquela informação.

— Desde então os Místicos, preferiram se afastar de um povo como os Humanos, no entanto, alguns anos depois surgiu-se uma profecia da antiga anciã do clã Eclesius, que o portal entre os Humanos e os Místicos seria aberto, e marcaria o retorno da rainha, por isso os místicos decidiram apagar todos os laços um dia tidos, destruíram todos os portais e magias que restavam no mundo humano... Deixando apenas seu marco nas memórias daqueles que os viram de perto, acredito que isso que tenha gerado as lendas que vocês conhecem.

Arregalei os olhos, não sabia como reagir.

— Você com certeza conseguiu vir por meio de um dos dois últimos portais que não foram destruídos... Yriel, você é a primeira humana há milhares de anos a vir aqui, certamente não foi por acaso que aconteceu, talvez tenha sido o destino, pode não confiar em mim ainda mas saiba que estou feliz com sua visita... Quem sabe você possa trazer a paz aos corações odiosos dos místicos com os humanos.

— E-eu...

— Vai demorar alguns dias até eu conseguir abrir o portal, você pode ficar aqui até lá, use esse tempo pra aproveitar um pouco, há místicos que ainda odeiam humanos porém não são mais tantos, afinal já se passaram milhares de anos. Alguns nem sequer sabem da existência dos humanos e depois de ter sua vida revelada sei que tem curiosidade sobre este mundo e as criaturas aqui.

Não digo nada, mas logo em seguida suspirei, Brigitte tinha razão...

— Aproveite, mas lembre-se: De jeito nenhum se aproxime de alguém do Clã Eclesius, eles são os que mais odeiam os humanos. 

Olhei de novo para Aren e me mexi um pouco pro lado, para alguns centímetros mais distante dele.

— Você acha que eu odeio humanos? – Ele pergunta indignado enquanto se levanta do sofá

Arqueei uma sombrancelha, relembrando que ele me jogou de uma colina mais cedo.

— Se odiasse, não teria te ajudado e trazido você até aqui! – disse irritado enquanto se sentava de volta como uma criança emburrada

— Tudo bem, você pode confiar em Aren, ele é a exceção – Brigitte diz rindo — Por que não mostra pra ela a casa, Aren?

Aren se animou novamente.

— Vamos! – ele diz me puxando de novo. Antes de sair, pude ouvir Brigitte dizer algo em voz baixa.

— Pode confiar em Aren.... Mas não em Håkon...

Decidi não perguntar, embora aquele nome tenha continuado ecoando em minha cabeça. Contudo, naquele momento estava mais interessada em ver aquela imensa casa mágica.

Não sei quanto tempo se passou, mas Aren fez questão de me mostrar cada canto acessível do lugar.

—...E finalmente, esse é o quarto de hóspedes, onde você pode ficar – Aren explicou, abrindo uma porta branca.

Olhei surpresa ao me deparar com um quarto digno de uma princesa.

— Ainda não consigo acreditar que cabe um quarto desses numa casinha... – digo olhando tudo em volta

A casa estava (obviamente) envolta na magia de Brigitte, fazendo com que a pequena casa do lado de fora fosse apenas uma máscara para não chamar atenção dos místicos curiosos que passavam pelas redondezas uma vez ou outra. A tia de Aren, não gostava muito de socializar com os místicos da cidade pelo visto…

— Você logo se acostuma – Aren falou enquanto se jogava na cama do quarto que eu ficaria

Olhei pela janela, que dava vista para um jardim imenso e uma horta, era realmente uma visão bonita, sorri maravilhada.

— Então... – Aren fala

Olhei para ele.

— Como é no lugar de onde você vem? Todos os humanos são iguais a você? – perguntou parecendo bem interessado, seu rabo balançava mostrando sua animação.

— Bem, sim e não – falei me sentando em uma poltrona, me impressionando com o quão confortável era — Temos diferentes tamanhos, cores, religiões, nacionalidades, línguas, idades diferentes, aparências variadas, mas nenhum de nós tem chifres, asas, rabo ou sequer magia, embora tenhamos classes sociais e governadores somos... Comuns...

— Uau, parece incrível – Aren respondeu sorrindo animado

— Não mais do que tudo isso, os místicos são muito mais interessantes.

— Mas e você?

— Hã?

— Me fale mais sobre você, seu dia-a-dia, sua família, gostos...– Ele pergunta, mas em seguida faz uma cara preocupada e diz – Ou vocês não tem famílias?

— Temos sim – falei rindo e em seguida olhei para o teto — Bem, você já sabe meu nome, eu tenho 13 anos... Ah, bem, eu faço 14 amanhã, dependendo de como os dias e noites passarem aqui, moro com meus pais em casarão antigo dos meus avós, mesmo tendo casas e apartamentos mais modernos, eles preferem manter as tradições de família, todos debaixo de um mesmo teto. Eu particularmente gosto de ler e desenhar na maior parte do tempo, a música também me atrai bastante... Sempre fui ruim pras coisas domésticas, tipo cozinhar e tals. A única coisa boa no casarão dos meus avós, é a biblioteca e o quintal, onde eu deitava na grama e ficava olhando as nuvens... Sonhando com os contos de fadas que lia em meus livros.

Fechei os olhos relembrando aquelas experiências, sorri e quando os abri Aren estava com um brilho nos olhos.

— Eu sempre quis visitar o mundo humano – ele diz — Por que mesmo sendo comuns, vocês são livres...

— Nem sempre – murmuro, mas digo em seguida – Mas você não é livre aqui?

— Nem um pouco, lembra quando eu disse que era filho do chefe do Clã Eclesius?... Pois é, eu tenho que ser um exemplo, ser um príncipe, alguém que deve ser temido pelos outros clãs... Mas eu ainda sou muito novo pra isso e meu pai não entende – Aren falou olhando pro chão triste, suas orelhas pontudas abaixaram acompanhando sua tristeza — Quando eu fizer 19, terei que subir ao trono, porque fui marcado por nossos ancestrais pra carregar o nome do Clã.

— Marcado?

Olhei por seus braços procurando algum símbolo ou marca. Ele apontou para o cristal em seu peito

— Este cristal, é a prova...

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YRIELOnde histórias criam vida. Descubra agora