τρία

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⚠️AVISO DE GATILHO⚠️
Abuso Familiar

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- De novo. 

   O chicote desceu, uma linha de fogo líquido cortando o ar. Ela grunhiu e ofegou, cuspindo a dor no chão. Não era mais do que uma vara de roseira cravejada de espinhos vermelhos, pingando sangue na grama entre o cessar dos golpes e o gosto da dor.

   Era um tom bonito, aquele vermelho. Ela aprendera a relacionar tudo daquela cor à mãe, de uma forma que apenas o vislumbre dela a fazia tremer. Mas não podia negar a beleza daquele carmim, tingindo os lábios e o vestido branco da senhora. 

   Os deuses sangravam em dourado. Em ouro puro. Mas ela não. 

   Ela sangrava vermelho. Como o mais fraco dos ratos.

   Os céus pareciam zombavam dela, imitando o mesmo tom de vermelho que pintava suas costas, se arrastando pelo alvorecer como se prolongando sua dor. O vestido não parecia mais do que um trapo inútil, completamente rasgado onde deveria cobri-la, pintando ricamente o retrato de obediência e solenidade que sua mãe desejava. Naquele mesmo tom sombrio e nauseante de vermelho. 

   Ela tentou. De novo. E mais uma vez.

   Nada. 

   O chicote desceu novamente. 

- De novo. 

   Ela tentou novamente. Tentou invocar o nome do sol, fazê-lo ascender por entre as montanhas até que a mãe estivesse satisfeita, mostrar que herdara o poder da primavera e que traria orgulho para seu nome. Em que o chicote não seria mais necessário.

   Deméter não tolerava o fracasso. Nem vindo de seus servos, nem de seus aliados e muito menos de sua filha. 

   Era uma pena que a noiva da primavera nascera tão mortal quanto um rato nas ruas de Tessália. 

   Um calafrio chacoalhou todo o seu corpo quando a mãe estalara a língua. Era o pior momento, mas ela estava acostumada. Sabia o que fazer. 

   Com nada mais do que um grão de poder, Deméter fez o sol ascender, despontando imenso e poderoso para as Cortes menores, finalmente trazendo a aurora. Era lindo. Ardente e maravilhoso e imponente. 

   E terrível. Pois ela sabia o que viria em seguida. 

   O chicote desceu novamente. E de novo. E de novo. Sem intervalos entre os golpes, vertendo tanto sangue que deslizava pelas costas da jovem e encharcava a grama abaixo. Ela podia jurar que a mão da mãe parecia mais pesada do que de costume, carregada de frustração e raiva. 

   Ainda assim ela se concentrou em esquecer. A distanciar tanto a dor que não pareceria mais do que um sopro. Ela não lembraria dos golpes mais tarde, de qualquer maneira. A mente não era capaz de se lembrar da sensação de dor, e ela usava isso.

    Sombras pareciam se arrastar pelos cantos de sua visão, a puxando para baixo e baixo numa constância ágil e eficaz. Ela não vira mais nada além de uma silhueta negra à distância, a observando de longe e velando seu sono. 

   A voz de Deméter soou atrás de si.

- Você é uma desgraça, Koré.

Bênçãos de Fogo & FerroOnde histórias criam vida. Descubra agora