Capítulo 15 - A Provação da Skanteij

10 1 0
                                    

Quando o branco se tornou algo, Gabriel estava dentro de seu quarto no Castelo de Reagan. Parecia que nunca tinha saído. Até Amanda não estava mais do seu lado segurando sua mão.

Era dia, pois a luz do sol entrava pela janela. Um passarinho de penas amarelas pousou ali. Ele olhava para Gabriel com apresso, como se esperasse que o humano a sua frente falasse alguma coisa.

Para o lago da Torre Norte, foi tudo que o passarinho disse antes de sair voando. Não por voz, mas por telepatia.

Como que animais podem falar?, pensou Gabriel. Aquilo deveria ser um sonho.

Gabriel sentiu um arrepio correr por seu corpo. Teria que ir para Torre Norte novamente? Seria essa sua provação? Viver o passado que queria esquecer? Ele não estava pronto ainda, mas quando é que estaria? Ele seguiu para o local, mas não deixou de observar o céu acima dele.

Conforme subia para o lago, o céu claro estava mudando para o azul noturno da noite. Era uma mistura bem suave, como se um grande pincel estivesse viajando pelo céu. Seu coração acelerou levemente somente por pensar que teria que enfrentar aquele dia novamente.

Uma brisa gelada passou por sua nuca, a mesma daquele dia.

Ali estava ela.

A Torre Norte.

A construção parecia a mesma, não aquela que foi destruída pela junção de poderes.

Os tijolos em cor bege ainda estavam inteiros. Ela era alta como um deus, mas a aura do local estava bem diferente, como se alguém tivesse morrido. Gabriel olhou ao redor, ninguém estava ali a não ser ele. As estrelas acima estavam em seu brilho mais forte.

Gabriel! ― Era uma voz vinda pelo ar, quase como um grito. Uma voz doce e suave. ― Me ajuda!

A voz era de Amanda, Gabriel a reconheceria em qualquer lugar.

Ele seguiu o som dos gritos. Ao chegar lá percebeu que o campo de grama verde estava cinza como grafite. Alguns pássaros que antes tinham um amarelo vivo, estavam mortos no chão. Gabriel seguiu o caminho de pássaros mortos, encontrando Amanda presa a correntes de prata, onde as correntes tocavam, sangue escorria. Ela estava de joelhos no chão chorando, as lágrimas pingavam no chão como o sangue pingava também.

Ver aquela imagem foi como receber um tiro no peito.

Atrás dela, segurando a ponta das correntes, estavam duas figuras humanas. Elas não tinham rosto, eram somente um amontoado de luz espectral ― como as que Amanda produzia ― que se moviam como água calma. A única forma de diferenciá-las era pela altura, uma era mais baixa e outra mais alta.

― Olha que lindo, Mazekin ― disse a figura mais alta. ― Ele voltou para nós.

― Sim, Kozin ― respondeu a mais baixa. ― Temos o prazer de tê-los novamente aqui conosco.

Ah não, os espíritos.

Gabriel soube na hora.

Esses eram seus nomes.

Os espíritos que tomaram conta de seu corpo naquela noite tinham esses nomes.

Mazekin e Kozin.

Gabriel sentiu o coração gelar, como se tivesse tornado uma pedra de gelo, seus poderes tremularam levemente. As lembranças daquele dia começaram a tomar conta de sua mente, sentiu seus ossos doerem na mesma intensidade que um tiro doeria em seu corpo.

Kozin que segurava a corrente de Amanda, passou-a para o colega. E começou a ir em direção a Gabriel, seus pés nem tocavam no chão.

Místicos - As Crônicas De Myustic - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora