Prólogo

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— Haira, querida...

Como que obedecendo a um comando mudo, aproximo-me mais do leito colocado no centro do quarto. Sob os finos lençóis esbranquiçados repousa o corpo de uma mulher pálida e com ar cadavérico, iluminado apenas pela fraca luz de um candeeiro distante.

— Promete-me... — roga, com a voz num fio quebradiço e quase inaudível. — Promete-me... que o encontras.

Seguro a sua mão nas minhas, tentando reconfortá-la. Mesmo na penumbra do quarto, consigo vê-la na perfeição. O seu estado deixa o meu coração apertado. Quero fazer qualquer coisa por ela, mas não posso. Agora só me resta assistir ao seu lento definhar.

— Prometo — digo, convicta.

Um esboço de um sorriso surge nos seus lábios, mas não chegar a desenvolver-se completamente. A sua cabeça, rodada na minha direção sobre a almofada, pende para o seu ombro no momento em que ela perde a consciência.

Ainda que estivesse à espera daquele momento, não sou capaz de conter as lágrimas e a tristeza que me rasga o peito. Caio para trás, incapaz de continuar ajoelhada junto ao colchão da cama. Sentada no chão e lavada em lágrimas, vejo o que antes foi uma mulher sábia e bela a transformar-se em poeira cintilante, saindo pela janela aberta para o início da noite de outono.

Lá fora, as rajadas de vento tornam-se mais intensas, agitando as árvores ao ponto de as fazer gemer. É o choro da Natureza pela partida de mais uma das suas filhas.

O luto pela morte de mais uma das poucas bruxas que existem no mundo.

260 palavras

O desejo de uma Bruxa ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora