Quem é a autora?

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Eu sinceramente não faço ideia do que eu sou. Minha psicanalista diz que preciso sair do lugar de objeto, e passar a não fazer ideia de quem eu sou, ao inves de não fazer ideia do que eu sou.

Eu tenho tido sonhos que segunda ela mostram que tenho conseguido, mas sinceramente? Não faço ideia de como to conseguindo fazer isso. Quer dizer, tenho uma vaga ideia mas sei lá, é tudo borrado demais quando eu falo de mim.

Vamos lá, quem eu sou?

Quem.

Eu.

Sou.

Não sei. Mas se tratando do que eu sou eu consigo falar, e eu não sei se é realmente bizarro que eu só consiga falar assim, ou se é só algum problema semântico do meu cérebro.

Se tratando do que eu sou, eu sei que sou fotógrafa, e uma das boas.
Eu tenho olho bom pra fotos, e o que me fascina nas fotos é a possibilidade de eternizar um momento, talvez porque eu raramente tenha momentos bons, e minha memória é uma merda e o meu cérebro míope, então, guardando a faísca de momento feliz eu... não sei. As fotos também são um retrato do que eu queria que tivesse acontecido, e me deixam lembrar com mais carinho das coisas (as que eu lembro, eu realmente já tive medo de ter propensão a alzheimer). Quando eu vejo uma foto de viagem onde eu to sorrindo com a família, eu sinto algo gostosinho, ao invés do grandessíssimo ódio que eu senti no dia, quando meu padrasto ficou de mau humor por um motivo estupido e destruiu o dia de todo mundo.

Eu sou escritora, porque falar é simplesmente sufocante demais, ao ponto de as vezes eu simplesmente ficar completamente muda e só me comunicar com gestos com o meu marido. Eu gosto de poder causar sentimentos bons ou de fingir sentimentos que eu não tenho (desde as delícias da maternidade ao assassinato), porque todos os meus são uma bosta, e se eu ficar focando só no que eu sinto o tempo todo, existir vai ser insuportável.

Eu sou leitora, porque gosto de sair desse universo onde eu sou uma maluca que do nada fica muda, pra ir pra uma propriedade grande onde moram quatro amigas que tem uma empresa de casamentos e vão se envolver em um romance repleto de emoções que eu não suportaria se fossem comigo porque tenho borderline. Eu leio como meu mecanismo de fuga, e isso me incentivou a ser imaginativa ao ponto de poder escrever minhas próprias histórias, em carácteres, já que a minha história de verdade, a da minha vida, eu não tenho o menor controle, porque os meus problemas de química cerebral são enlouquecedores.

Eu sou uma aspirante a dona de pequeno negócio que simplesmente não vai pra frente por motivos que não consigo falar sobre. Também sou aspirante a blogueira, nas minhas redes sociais secretas, e posso dizer com quase toda certeza do mundo, que não to indo bem nisso também. Sei lá, eu sou criativa, tenho boas ideias, minha execução de projetos (quando executo) é excelente, mas só que eu fico extremamente empolgada e obcecada por um tempo, e depois simplesmente tudo no mundo perde a graça, porque a quimica idiota do meu cérebro idiota me deu diagnósticos de temperamentos explosivos. Melhor, destemperamento. Sempre salgado demais, doce demais, amargo demais, suave demais, tudo demais sempre, não cabendo no meu corpo porque eu tenho 1,63 de altura e sou magra, transbordando em choros e soluços, que me fazem acreditar que estou manipulando as pessoas que querem cuidar de mim, porque cada vez que algo sai do controle eu explodo que nem um gêiser.

Acho que essa é a conclusão da pergunta o que eu sou. Eu sou um gêiser. Sempre, e em todos os aspectos.

Eu não tenho um blog.Onde histórias criam vida. Descubra agora