Me chame de desconhecido

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CINCO ANOS ATRÁS

Se tinha uma coisa que Bright estava, essa coisa era farto. Farto da própria vida medíocre. Enquanto Light fazia uma boa faculdade de administração, Bright ficava em casa, sem muita coisa para fazer. Há quase um ano havia acabado a escola e não estava gostando daquela nova fase. Acabou se tornando um garoto mal-humorado, quase nunca abrindo um sorriso. Não havia se tornado um imbecil completo, claro que não. Bright, apesar do jeitinho impulsivo e da falta de paciência, era um rapaz doce, com sentimentos. Seu único problema foi apenas ter se apaixonado pelo cara errado: Win, o namorado do seu irmão.

Sabia que tudo ao seu redor viraria de cabeça para baixo desde quando conheceu Win, principalmente sabendo que Light gostava dele há um bom tempo. Não tinha que ter se metido naquela situação, nem devia ter saído de casa naquele dia do seu aniversário, na verdade. Todo santo dia se perguntava o motivo de tudo aquilo, de ter se metido em uma circunstância delicada como aquela, mas não encontrava respostas. Já tinha plena consciência de que gostava demais de Win depois de ter começado a conviver com ele. Claro... ele namorava com Light, e consequentemente passava boa parte do tempo na casa dos Vachirawit, com Bright sempre esbarrando com o casal, ou participando de quase todo encontro dos dois, afinal, tinha se tornado o melhor amigo de Win também. Havia momentos onde Bright se sentia muito íntimo de Win sem nem ao menos tocá-lo. Era quando trocava olhares com ele e era retribuído. Não entendia o motivo de ser retribuído com aquele olhar intenso, parecia que Win queria falar alguma coisa, mas nunca dizia nada, assim como Bright. Quando Win estava sentado no sofá com Light, os dois com as mãos entrelaçadas enquanto assistiam filme na sala de estar, Bright, por perto, não conseguia se concentrar no filme, então observava o casal sem que o irmão percebesse. Caramba... eles eram lindos juntos, e aquilo fazia Bright se sentir sujo. Queria ter evitado gostar de Win, fez o possível e impossível, passava muito tempo trancado no quarto e tentava recusar sair com o casal, mas Light sempre dava um jeito de puxar o irmão junto. Um erro enorme. A verdade era que Bright gostava imensamente de Win, o namorado do seu irmão gêmeo, e não tinha como voltar atrás. Tinha que conviver com aquele sufoco sabe-se lá por quanto tempo. Aquilo o tornava um garoto quieto e triste, tanto que Light começou a perceber aquela diferença.

Em uma manhã de sábado, os pais dos gêmeos tinham ido ao supermercado, e Light e Bright tomavam café juntos. Light tinha um ótimo humor, já que namorar com Win era um sonho sendo realizado. Quase nunca conseguia tirar o sorriso bobo dos lábios. Bright, de frente para o irmão, estava de cara fechada e o observava enquanto tomava seu café.

— Bright, eu sei que algumas coisas mudaram, mas eu espero que você ainda saiba que entre nós tudo continua igual.

— Nada é a mesma coisa entre a gente desde que você começou a namorar o Win.

— Eu não quero que ponha a culpa nele.

— Mas a culpa é dele. — Se irritou, aumentando o tom de voz. Sua vontade era falar tudo o que pensava, inclusive contar sobre a paixão que sentia, mas a sua situação já estava ruim o bastante, não queria piorá-la ainda mais. — Você passa muito mais tempo com o Win do que comigo, Light, admita. Nada, escute, nada mais é como antes, ouviu? Isso já faz um ano, e eu praticamente não te conheço mais.

— Não fala assim, Bright. Vou acabar me sentindo mal.

— Acredite, eu sou o mais machucado dessa história. — Foi o que disse, se levantando da mesa. Light o seguiu, puxando seu pulso. Pararam na escada. Bright não quis olhar o irmão. O toque no pulso incomodava e ele queria puxar, mas precisava manter a calma antes que terminasse de destruir a própria vida.

— Bright, me diga. Eu fiz algo que o deixou magoado? Se fiz, me perdoe, garanto que não foi a minha intenção.

— Você não tem culpa de nada, inferno. — Foi sincero, mas não olhou o irmão. Ele não tinha culpa, era verdade, mas sentia raiva dele. Não fazia sentido, mas sentia como se o gêmeo roubasse Win de si. — Tira essa ideia da sua cabeça. O problema é comigo, e só comigo. Você não tem nada a ver.

Me Chame de IrmãoOnde histórias criam vida. Descubra agora