Não me chame de irmão

630 90 250
                                    

ATUALMENTE

A adrenalina era só um sentimento, mas um sentimento que podia ser muito intenso, principalmente para Bright desde que tinha começado a trabalhar com Mike há anos. Não era considerado um trabalho limpo, mas pelo menos o rapaz tinha o que fazer agora. Já era um homem feito e não mais um adolescente. Ganhava o próprio dinheiro e tinha o próprio apartamento. Não era rico como seus pais eram antigamente, mas Bright conseguia viver muito bem — infelizmente, não de um jeito honrado. Seu trabalho era basicamente fazer entregas para os clientes de Mike. Encomendas de peças contrabandeadas de carros e motos, já que Mike era dono de uma oficina que ganhava muito dinheiro no roubo — não só no roubo, mas consertando automóveis em um preço absurdo. Bright não se entregava de corpo e alma naquele negócio, afinal, sempre foi honesto e teve educação, e por isso se comprometeu apenas nas entregas. Tinha comprado uma moto bacana, e era só dele. Ela era grande e pintada de preto e branco. Sempre que andava com ela pelas ruas, se achava incrível, embora no fundo não se achasse tão incrível assim. Uma parte sua ainda se sentia um fracasso. Não tinha sequer um curso superior, não era bom em fazer nada, tinha ido embora de casa quando ainda era um adolescente, se metido com ladrões, abandonado a família, e deixado Win para o irmão gêmeo. Bright ainda amava Win com todas as suas forças. Era impossível esquecê-lo quando Win ainda tinha o seu número e sempre mandava mensagem perguntando aonde ele tinha se metido, e que, detalhe, estava com saudades. Bright nunca respondia. Apesar de tudo, Bright adorava subir na moto depois de um dia cansativo de entregas e voltar para o apartamento com aquele sentimento de dever cumprido e uma boa grana na conta. Aquela era a vida que levava em outra cidade, e não se achava no direito de reclamar.

Assim que o rapaz chegou no apartamento, encontrou Gus sentado em seu sofá de couro. Gus trabalhava com Mike.

— O que tá fazendo aqui?

— Mike me mandou te dar um aviso.

— E por que ele não esperou até amanhã? — Perguntou e fechou a porta, não tirando o olhar de cima de Gus. Não confiava em ninguém. Seu irmão gêmeo era a única exceção, mas fazia mais de seis anos que não falava com ele e nem o encontrava. Não fazia ideia de como ele estava vivendo. — Poderia muito bem falar comigo pessoalmente.

— Bom, você sabe, eu só cumpro ordens. — Ele se levantou do sofá e andou até Bright. — O que você aprontou há três dias?

Bright ficou tenso. Não queria deixar transparecer nada, mas era impossível com ele o encarando tão de perto, quase o obrigando a confessar o que tinha feito só com o olhar.

— O que vai acontecer se eu falar?

— Infelizmente, nada, porque o Mike gosta de você e do seu trabalho. Mas se fosse por mim, eu te daria uma surra.

Ele pensou se deveria falar o que tinha aprontado, embora já soubessem, só que, confessar, era uma história diferente. Estava morrendo de medo de realmente levar uma surra.

— Eu não entreguei a mercadoria, satisfeito?

— Não, Bright, eu não tô satisfeito. Ninguém tá. A gente perdeu grana por sua causa.

— Ah, pelo amor de Deus, vocês ganham dinheiro a cada segundo. Uma entrega que não foi feita não é nada.

Gus pegou Bright pela gola da blusa e o aproximou dele.

— Escuta aqui, você não é mais um adolescente, e pelo que eu saiba, você nunca foi medroso, então para com essa merda e trabalha direito, ouviu?

Bright empurrou a mão da sua roupa, mas não deixou de olhar Gus nos olhos. Não abaixaria a cabeça. Se tinha feito aquilo, desistido da entrega, era porque tinha seus motivos.

Me Chame de IrmãoOnde histórias criam vida. Descubra agora