Cap.4 | A primeira consulta

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Antes, eu me senti confuso. Durante, eu estava assustado e impotente. Mas, após o fatídico episódio no vestiário, eu me senti culpado.

A misofobia, de certa forma, nunca havia me atrapalhado, já que era como um estilo de vida adotado propositalmente. A única coisa que me prejudicou, foi o fato de eu não conseguir mais jogar vôlei. Mas agora a situação era totalmente diferente!

Uma pessoa precisava de ajuda e eu simplesmente fugi por não conseguir fazer nada. 

"E se acontecer de novo?", era algo que se repetia em minha mente desde que isso aconteceu, há cinco dias atrás. Tal questionamento interno não era apenas sobre Yuri, e sim, em geral.

Apesar de não me importar muito com as pessoas e ignorar quem não me convém, prejudicar alguém ou não agir quando necessitam de ajuda são coisas das quais não quero compactuar.

Este questionamento foi o estopim para o início de meu monólogo. "Há quanto tempo não saio com amigos?" ou "Quando foi a última vez que me diverti de verdade?" são exemplos do que atualmente está passando em minha cabeça neste momento. O que me fez finalmente tomar um posicionamento sobre o assunto:

Eu realmente preciso de ajuda!

Marquei uma consulta no dia seguinte, no consultório da Doutora Yamada, que ficava não muito longe da minha casa. Não precisei aguardar muito para entrar em sua sala, sentei-me e contei sobre tudo o que aconteceu comigo durante os anos e qual era exatamente o meu problema, anulando o fato que aconteceu com Yuri há dias atrás.

— Hmm, entendo... — A loira diz. — Eu já trabalhei com alguns casos de misofobia. Não é um tratamento tão complicado quanto parece.

E como funciona?

— Você vai passar pelo tratamento cognitivo-comportamental, onde basicamente vamos tentar reduzir qualquer resposta de ansiedade e a mudar seu conceito sobre sujeira e germes. Vamos fazer isso juntamente com a terapia de exposição, onde vamos expor você ao ambiente até que se habitue a ele, tudo bem pra você?

Okay. — Falei, ainda um tanto receoso sobre o assunto. — Tudo bem.

— Então, vamos começar! — Yamada disse pegando seu computador.

O que? Agora? 

— Fique tranquilo, essa é sua primeira consulta, então vamos apenas organizar tudo por aqui.

Okay, continue. — Me ajeitei na cadeira coberta pelo plástico que eu havia colocado.

— A proposta que eu tenho é a seguinte, eu vou te dizer várias ações que envolvem interação humana ou com o ambiente a sua volta, e você vai enumerá-las de 1 á 3, sendo: 1, algo que você conseguiria fazer sem muita dificuldade ao se esforçar. 2, algo que você não se imagina fazendo mas acha que conseguiria se tentasse. E 3, algo que não se imagina fazendo e não acha que conseguiria fazer. Podemos começar?

Podemos.

— Apertar a mão de outra pessoa sem as luvas?

Três.

— Deixar que outra pessoa use suas coisas?

Três.

— Se sentar sem o uso deste plástico?

Três.

Ela muda sua atenção do computador para mim, eu me sinto incomodado perante seu olhar.

Touch  Him  •  [Sakusa]Onde histórias criam vida. Descubra agora