eight🍦

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Após aquele dia as coisas não se tornaram mais fáceis e muito menos melhores, mas pelo menos descobri que manter Chan por perto fazia com que os sonhos parassem temporáriamente, mas alguém não estava contente com os resultados...

- Min Li, você não pode virar a noite e dormir no trabalho! Como fica o atendimento? Eu trabalho sozinho?? - o Bang reclamava enquanto trancava a sorveteria.

- Não combinamos que você pararia de reclamar dos meus cochilos? Só não quero ver você morrer.

- Me deixe morrer, mate você mesma, mas por favor não me deixe trabalhando sozinho!

Levantei as mãos em rendição, parecia mesmo injusto...só um pouquinho.

Sem perigo, sem sonhos ruins, sem assassino maluco, apenas dois jovens saindo do trabalho. Seguimos juntos até minha casa e então ele me deixou lá.

Fiz faxina na noite anterior, estava tudo tão limpo e tranquilo. Tomei um banho e preparei pipoca, em seguida me joguei no sofá para assistir algum drama. A noite estava muito prazerosa, até que após um certo tempo um barulho alto ecoou do andar de cima, alguma coisa caindo.

Com uma garrafa de vidro em mãos fui subindo devagar, minhas pernas quase fraquejando. Não é assim que os filmes de terror começam?

Nenhuma luz acesa, como imaginei, a conta de luz não é algo para se brincar. Uma silhueta não tão grande foi se aproximando, por mais que meu corpo estivesse lotado de adrenalina e arrepiado, não consegui me mexer.

A respiração daquela pessoa era quente, nada aconchegante, 'pra falar a verdade um calor agonizante. Então Chan realmente não consegue ver a minha morte, certo? Bom, se isso fosse possível ele estaria junto de mim agora.

- Você vai me matar? - perguntei descaradamente, algumas lágrimas frias escorriam por minhas bochechas.

A única resposta que consegui foi uma mão quente em contato com meu braço.

- Eu não tenho medo de você. Quero dizer, se você me matar agora tudo acaba, né? - Por alguma razão ele continuava não fazendo nada. - Pode ir logo, por favor?

Tudo continuou silencioso, quem era aquele filho da mãe para invadir a minha casa e ficar me encarando? E por que diabos ele invadiu minha casa? Como ele fez isso?

- Espera, por onde você entrou?

- Min Li...

Oh céus. Ai mamãezinha. O que foi que eu fiz? Sem assassinos por aqui, alarme falso.

- Chan?! Você invadiu a minha casa? Como assim? Garoto??

Exatamente, eu reconheceria aquela voz e jeito de proferir meu nome em qualquer lugar. As pessoas costumavam dizer meu nome como "uau Min Li!", mas Chan sempre era mais como "aff Min Li, você de novo".

- Eu não queria te deixar sozinha, mas você simplesmente...

- Eu simplesmente...?

- Você... - Senti seu hálito quente mais próximo do meu rosto. - Min Li?

- Oi.

- Posso tentar uma coisa?

Como assim "tentar uma coisa"? Ele enlouqueceu? Eu jamais, em hipótese alguma, deixaria ele fazer algo comigo!

- Tudo bem. - Espera, como é? Wang Min Li?!

As mãos quentes do rapaz tocaram meu pescoço, deixamos que nossos corpos assumissem. Os lábios dele estavam pressionados contra os meus, aos poucos foram se abrindo e me incentivando. Por que de repente me peguei trocando saliva com o Bang? Tipo, isso não era extremamente nojento um tempo atrás?

Dizem que quando gosta de alguém seu coração dispara, você se arrepia e sente um frio estranho na barriga. Mentira! É muito pior, você perde seus sentidos e nem consegue identificar que está apaixonado, simplesmente perde o chão, seus órgãos parecem estar mudando de lugar, você quer vomitar de tanta bagunça, mas também é bom. Só não é tão bom quando chega a hora de encarar a pessoa por quem está apaixonado, já que você também não escolhe quem vai ser, e só percebe que se trata de afeto quando quer fazer tudo de novo.

Quando nos separamos eu obviamente não soube o que fazer, onde colocar as mãos ou o que dizer.

- Podemos descer? - Mas Chan sabia, claro que ele sabia.

Apenas afirmei positivamente com a cabeça.

Me acomodei no sofá juntamente com Chan, o cobertor quentinho nos cobrindo deixava a atmosfera mais tranquila enquanto ele me explicava que foi até a minha casa para impedir os sonhos ruins. A voz do rapaz foi ficando cada vez mais longe, e então logo eu estava em um lugar escuro.

As paredes gastas e a luz falha apontavam um porão velho, havia uma pilha de velharia no canto da sala. Passos na escada me despertaram, meu corpo consumido pelo medo estremeceu, mas algo tornava aquilo todo familiar.

- Por que está aqui? Os convidados estão esperando - uma voz familiar proferiu palavras em tom tão doce quanto a pessoa que as dizia.

- Chan? Onde estamos? - perguntei, assustada e por alguma razão confortavelmente.

- Como assim onde estamos? Em casa, ué. Vamos, você vai sujar seu vestido.

Só então percebi que usava um vestido branco discreto, alguns detalhes em renda delicada demonstravam que não era uma ocasião qualquer.

Chan me levou até o andar superior, atravessando a porta tínhamos um aglomerado de pessoas vestidas elegantemente. Mas o que diabos...

- Min Li! O que você fez com seu vestido!

Mãe??

- Eu estava...

- Não importa. Vocês precisam entrar agora.

Senti as mãos velhas em meu ombro, eu e Chan passamos pela porta. Todas as pessoas presentes começaram a sorrir, aplaudir e parabenizar. Eles diziam coisas como "meus parabéns pelo noivado". Que noivado? Horas atrás eu estava na faculdade!

Demorei um pouco para assemelhar tudo, era um jantar de noivado, eu e Chan vamos casar. Ainda sem entender como exatamente chegamos naquele momento, fui ao banheiro. Certo, precisava de tempo, e também uma corda para pular a janela.

Um barulho alto vindo da sala com convidados chamou minha atenção, em seguida gritos. A porta do banheiro foi aberta bruscamente, Chan me encarou de forma protetora.

- Você precisa sair daqui! - ele falava baixinho, provavelmente com medo de ser encontrado.

- Como assim? O que aconteceu?

- Min Li, é só um pouco de fogo. Vai ficar tudo bem, então você tem que sair.

Meus olhos começaram  lacrimejar, sem me controlar acabei por abraçar Chan. Por que estava acontecendo de novo?

- Não posso, nós vamos sair juntos.

- Não, ainda tem algo que preciso recuperar.

Ele se foi, caminhou para fora e fechou a porta. De repente pular da janela não parecia uma má ideia. Quem precisa de corda? Não era mais tão alta assim.

As próximas e únicas sensações e tive foram a umidade da grama molhada contra minha pele e um aperto esquisito no peito. Procurei por todos os lados algo que fizesse doer menos, ou alguém. Ele não estava lá, um buraco ia se abrindo dentro de mim, crescendo cada vez mais. Pude sentir quando meu noivo morreu, já que meus membros pareciam estar sendo queimados também. Segurei firme o anel de noivado, desejando internamente que pudéssemos nos encontrar e ficar juntos algum dia.

No mesmo momento em que a primeira chama tocou minha pele, abri os olhos assustada, o suor escorrendo por todo o corpo indicava que um banho seria necessário. Mas antes disso eu precisava explicar tudo ao garoto assustado que acordara do meu lado no sofá.

Equalize - Bang ChanOnde histórias criam vida. Descubra agora