1. Kickstart My Heart

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– Puta que pariu, puta que o pariu. – Olho o horário no relógio na mesa de cabeceira. Meu celular não despertou no horário certo. – Merda!

Me levanto da cama em um pulo, eu não poderia me atrasar no primeiro dia, afinal, essa era minha grande chance. Trabalhar em uma produção de um filme, por mais que o cargo não fosse nada além de um faz tudo da produção, poderia muito bem ser minha porta de entrada para alavancar na minha carreira. Eu sabia qual era o filme? Não, não sabia. Mas Johnny jurou que eu iria amar trabalhar nessa produção, e mesmo que eu não adorasse, os boletos não se pagam sozinho, não é mesmo?

Saio catando as roupas que encontro pelo chão a procura de alguma que me deixasse apresentável, mas em meio minha bagunça e o fato de ter acabado de acordar, eu não conseguia pensar direito, então acabei optando por uma calça jeans, uma camiseta de banda, que não me dei o trabalho de ver qual era, mas 90% do meu guarda roupas era composto de camisetas de banda, e minha inseparável jaqueta de couro, o clima de Nova Orleans nessa época do ano é bem fresco, então não iria derreter usando uma jaqueta. Calcei o All Star vermelho, minha marca registrada e sai do pequeno apartamento.

Nova Orleans era uma cidade maravilhosa, cheia de cultura, mas para quem sonhava em ser diretora e roterista de cinema não era a melhor opção, mas ainda assim, foi aonde consegui minha bolsa para estudar cinema da Universidade Dillard, então nos últimos três anos, Nova Orleans é o lugar que chamo de lar, mas esse era o meu último ano aqui e por mais que eu amasse der uma Bleu Devil¹, sabia que aqui não era meu lugar e não conseguia esperar a hora de sair daqui.

Assim que sai do prédio a sorte sorriu para mim, consegui pegar o bonde no horário correto, então consegui recuperar parte do tempo perdido pelo despertador não tocado. Parei em um café maravilhoso e peguei alguns cafés, melhor prevenir do que remediar, talvez não percebessem que eu estava atrasada se eu aparecesse com café e comida. Então após pedir uma dúzia de Beignets² e oito cafés, o máximo que seria humanamente possível para eu carregar, desci a rua para o endereço que Johnny havia me mandado, seria coincidência ser há uma quadra do nosso café preferido?

– Eu não estou atrasada, eu estava buscando café. – Falei para Johnny que estava na entrada.

– Caralho, Liv, você salvou minha vida, eu esqueci total de buscar o café. – Disse me dando um beijo no rosto. – E eu sei que você está atrasada sim. – Disse sorrindo.

– Não custava tentar, mas foca na parte que eu te salvei. – Falei fazendo biquinho, ele odiava que eu o chantageasse, mas era impossível, esse era meu jeito.

– Você não presta. Vamos quero te apresentar algumas pessoas. – Falou seguindo para dentro do prédio que estava acontecendo a produção. – Quantos cafés você comprou? – Parou de repente.

– Oito cafés e uma dúzia de Beignets. – Falei, tomando cuidado para não esbarrar nele e derrubar tudo.

– Um para mim, um para você, quatro para os rapazes, um para Jeff e um para Amanda. – Disse contanto mentalmente, mas vociferando ao mesmo tempo. – Você tem algum sexto sentido, Olivia? – Disse boquiaberto.

– Era o máximo que eu conseguiria carregar. Sorte de principiante? – Disse sorrindo. Apertando o passo para seguir Johnny que tinha voltado a andar, quando chegamos ao destino final estávamos em uma grande sala com vários instrumentos montados. Seria essa a produção de algum musical? Eu ficaria eternamente grata ao Johnny. – Ei, é um filme musical? – Sussurrei em seu ouvido.

– Mais ou menos, você vai amar isso, vem. – Disse pegando uma das bandejas de café da minha mão e colocando na mesa, escolhendo um café para si. Fiz o mesmo, colocando a bandeja ao lado da que ele colocou e pegando um café e um Beignet, eu era viciada nesses bolinhos.

– Pode finalmente me contar que filme é esse? Eu já estou ficando ansiosa. – Falei olhando em volta para ver se encontrava alguma dica do que estava acontecendo ali.

– Lembra que você me ama, que eu sou o melhor amigo do mundo e que esse é seu presente de aniversário, já que você odeia que a gente realmente te de presentes. – Disse sorrindo, me deixando mais curiosa ainda, mas no momento que iria perguntar mais alguma coisa a porta se abriu e várias pessoas entraram, e eu conhecia parte daqueles rostos e sabia que o meu ficaria vermelho em breve.

– Nikki, Tommy, Colson e Douglas, esse é o Johnny, ele é assistente de produção, então tudo o que precisarem é só pedir para ele. – Uma mulher de cabelos pretos apresentou os rostos conhecidos e venerados por mim para Johnny, que cumprimentou todos com um aperto de mãos.

– E essa é... – Ela deu abertura para eu me apresentar.

– Olivia, Olivia Jackson. – Disse com o pouco de voz que consegui reunir, estendendo a mão para cumprimentar todos, eu era absurdamente fã de Motlëy Crüe, então estar na frente do baixista e baterista era uma grande coisa para mim. Mas apertar a mão de Machine Gun Kelly, rapper que eu tinha um absurdo crush por, deixava minhas pernas parecendo macarrão.

– Ela também faz parte da produção, então caso não encontrem o Johnny é só falar com ela. – A mulher que imaginei ser Amanda, dos nomes que Johnny falava enquanto contava os cafés.

Fiz o melhor para manter a compostura e não surtar na frente dos meus ídolos. Nós não iriamos ficar para reunião, mas eu e Johnny distribuímos os cafés e Beignets entre os participantes antes de sair da sala.

– Bela camiseta. – Colson Baker falou com um sorriso maroto no rosto enquanto eu entregava um café para ele, tentando fazer minhas mãos pararem de tremer. Olhei para baixo para descobrir qual camiseta eu estava usando para deparar com a estampa de uma caveira de moicano com a icônica bandana EST. 19XX e a logo MGK abaixo, senti meu rosto queimar.

– Obrigada. – Consegui dizer com um sorriso antes de me virar e sair da sala com Johnny, com meu café em mãos e uma Beignet. – Eu vou te matar. – Falei assim que tive certeza de que estávamos fora do alcance da audição dos participantes da reunião.

– Lembra que você me ama e que sou seu melhor amigo. – Falou rindo imitando meu biquinho.

– Porque você não me avisou que era o famigerado filme sobre o Motlëy Crüe? Você sabe o quanto eu amo a banda? – Suspirei sonhadora.

– Não só a banda né, pelo visto um dos atores também. – Disse apontando para minha camiseta.

– Puta merda, ele deve achar que eu sou uma groupie agora. Eu jamais teria usado essa camiseta se soubesse. – Eu me sentia mortificada de vergonha.

– Relaxa, gostou do seu presente de aniversário? – Ele diz debochado, recebendo um soco no ombro como resposta. – Vem, deixa eu te apresentar para o resto da equipe que já está aqui.

Eu fui muito bem recebida pela equipe de apoio como se conhecesse todos há muito tempo, o que me deixou mais confortável, depois da vergonha que passei. Recebi os calendários de filmagens e locais das locações, seria filmado em vários locais da cidade, então nem sempre estaríamos aqui, mas essa primeira etapa eram apenas ensaios, os atores conhecendo as pessoas reais por trás dos papeis que iriam interpretar, o que ao meu ver era legal para caramba, esse filme iria ser incrível.

Me peguei pensando onde estaria o meu livro The Dirt, porque de repente senti uma vontade incontrolável de reler.

¹Nome dado aos estudantes da Universidade Dillard.

²Bolinho tradicional de Nova Orleans, parecido com nosso bolinho de chuva.

The Dirt | Machine Gun KellyOnde histórias criam vida. Descubra agora