Missão de Amor

21.

Meredith PoV

Como se não bastasse o escândalo de uma, agora o outro anda falando mal de mim por aí, definitivamente a pior turma de voluntários que já passou aqui e olha que a turma anterior foi embora inteira no primeiro mês.

Eu ainda vou ter que trabalhar com ele o dia todo, eu não consigo explicar o quanto o Deluca me irrita, o jeito dele, a voz calma, o som da risada, o jeito que ele vira a cabeça de lado, a maneira como não hesita em me enfrentar, o quanto ele lida bem com crianças e aquele corpo insuportável, como se não bastasse tudo isso ainda tem que ser bonito, cada mínimo detalhe do Deluca irrita cada célula do meu corpo.

Eu queria seriamente poder quebrar alguma coisa agora, a cara dele de preferência, eu preciso respirar fundo pra me acalmar e faço isso mais de uma vez, pouco tempo depois que eu entro na sala, ele chega

- Eu posso dar um jeito de trocar com alguém e não ficar com você hoje

Ele diz, todo sério, encostado na porta

- Eu sou uma adulta, Deluca, não me deixo afetar pela infantilidade de vocês, as pessoas já chegaram pro atendimento, são casos específicos, pegue as fichas e volte logo que eu vou explicar

Eu respondo e sento na cadeira, começo a mexer em uns papéis ali e na verdade não tô fazendo nada, só quero que ele saia e é o que ele faz, pega a lista em cima da mesa e vai pra sala de arquivo pegar as fichas, eu solto o ar devagar, não faço ideia de como vai ser esse dia hoje.

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Os pacientes de hoje só são atendidos uma vez por mês, eles moram longe e não são moradores de Xalit,  foi muito difícil conseguir convencê-los a confiar em nós, praticamente só cuidamos das crianças, que é a parte mais triste, são muitas baixas por doenças e desnutrição, as mães tem muitos filhos o que deixa a escassez de alimentos ainda pior, os rajidistas controlam as entradas e saídas da cidade, mesmo eles podendo entrar pra ter atendimento, eles não podem sair com comida, é triste, revoltante e nós não podemos fazer nada, mas no dia que eles vem aqui, eles comem uma refeição forte e nós fazemos o possível dentro do que é seguro, se desobedecemos podemos colocar nossa vida e a deles em perigo.

O Deluca volta com as fichas, coloca na mesa e senta, então eu explico tudo pra ele que ouve calado

- Então o que você quer que eu faça?

Ele pergunta mas não tem ironia na voz dele dessa vez

- Só o que eu pedir, eu garanto que nós fazemos tudo possível mas será um dia tenso e triste

Ele concorda e sai da sala pra chamar o primeiro paciente, no caso deles, chamamos a mãe e ela entra com todos os filhos que ela trouxe, a primeira entra com três crianças, eu reconheço o nome e só olho a ficha pra confirmar, mês passado eram cinco, já começamos assim

- Dra Grey

Ela me cumprimenta com um sorriso mas os olhos são tristes, isso me mata

- Oi, Chinara, senta, oi, crianças, esse é o Dr Deluca, ele vai medir e pesar vocês enquanto eu converso com a mamãe um pouquinho tá bom?

Eles olham pra ele desconfiados, mas o Deluca fala com eles desse jeito que ele sabe, então eles deixam e sobem na balança