Lívia

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Maya me convenceu a esperá-lo em frente aos portões do colégio. Minha irmã havia cumprido com a promessa de não exagerar na maquiagem e a trança que fez em meu cabelo castanho escuro ia até a minha cintura e estava bonita até onde eu podia ver. O problema era o perfume que ela me emprestara. O cheiro doce estava me dando dor de cabeça, o que não contribuía em nada para tranquilizar o monstro que arranhava meu estômago por dentro.

- Olha só quem está chegando, Liv! – Maya cutucou minhas costelas com o dedo repetidamente. Sempre detestei isso desde criança. – Prepare-se, maninha, a hora chegou.

- Obrigada por me deixar ainda mais nervosa. – ironizei.

Maya estalou a língua como se minha ansiedade fosse uma bobagem. E talvez realmente fosse, mas não consigo evitá-la. Apesar de conhecer-lo há mais de dez anos, os meus sentimentos por ele só faziam parte de um quinto deste tempo. E foi de repente. Sem aviso prévio. Sem uma coisinha pequena que foi crescendo com o passar dos dias. Simplesmente surgiu. Em uma hora, estávamos conversando amigavelmente sobre o trabalho de matemática, na outra: BUM! Não consigo tirar os olhos dele por mais que alguns minutos.

- Ah, não! – digo assim que vejo quem o acompanhava. – Ele não!

- Qual o problema? – pergunta Maya, assustada.

- Aquele idiota vai estragar tudo, Maya. – não que eu achasse que eu seria capaz de fazer algo que ele pudesse estragar.

- O Math? Deixa de ser boba. Ele vai nos ajudar.

- O Matheus? Ajudar? – quis confirmar, incrédula.

- Sim. Você vai ver. – Maya sorriu e piscou o olho para mim.

João V. e o amigo idiota dele se aproximam com sorrisos largos nos rostos. Tento retribuir, mas, pela mudança repentina de expressão dos dois, tenho a impressão que o máximo que consegui foi uma careta assustadora.

- Olá, meu lindo! – Maya pula no pescoço de Matheus e começa a enchê-lo de beijos. Eu e João V. ficamos constrangedoramente parados, esperando que a demonstração de afeto pública termine.

- Bom dia, Lívia. – João V., ainda sem graça com a cena, dá um sorriso tímido com o canto da boca que altera bruscamente o ritmo dos batimentos do meu coração. Abro a boca para cumprimentá-lo. Nenhum som sai dela. – Acho melhor eu ir entrando. – ele aumenta o tom de voz para poder ser ouvido pelo casal beijoqueiro. Sem receber qualquer tipo de confirmação, ele entra no colégio carregando sua mochila em uma das mãos e o livro de artes agarrado ao peito.

Quando o nosso alvo está longe o suficiente para que a minha respiração prossiga normalmente, Maya interrompe o beijo e me encara, inquisitiva. Percebendo que eu não iria tomar qualquer atitude até que ela fosse mais clara, Maya aponta com os olhos em direção ao caminho tomado por João V.

- Por que você não vai com ele, Liv? – ela piscou significativamente para mim. – Nós estamos um pouco ocupados.

- Aham! – foi tudo o que consegui dizer antes de me afastar, sentindo todos os mesmos sintomas voltarem a me atacar a cada passo que eu dava em direção ao João V.: falta de ar, arritmia, embrulho no estômago, nó na garganta... Eu não sabia mais se estava apaixonada ou estava com alguma doença. A única coisa sobre a qual eu tinha certeza era que a causa compensava cada um deles.

Almas GêmeasOnde histórias criam vida. Descubra agora