A cena se repete em minha mente como efeito boomerang, até agora me sinto incrédula sobre o que fiz em meio aquele sangue. Não consigo me lembrar exatamente do que aconteceu, só sei que corri até a garota e tirando o avental estaquei seu sangue. A película do meu celular rachou, mas já não me importei, essa porcaria perto de uma tentativa de suicídio, não é nada.
A polícia já isolou o local. A garota foi direto para o hospital, fiquei preocupada com uma possível infecção no ferimento, mas pelo o que eles me disseram ficou tudo bem, e agora devemos esperar que ela acorde.
Uma policial negra veio até mim e fez algumas perguntas sobre o que eu lembrava. No fim como uma forma de me consolar disse : " Foi muito corajosa, ninguém saberia o que fazer". Que seja, ainda sinto que foi um erro ter a deixado sozinha.
Senhor Silver ainda desnorteado, se aproxima de mim.
- Você já está melhor?
Puxo o casaco que estou vestida, na tentativa de disfarçar um pouco da minha roupa manchada por sangue.
-Na medida do possível, sim. E o senhor?
-Eu? Bem, sinceramente não sei. Sinto muito por você ter passado por essa tragédia, ainda mais em seu primeiro dia.
- Ninguém tem culpa, foi algo inesperado. Por favor, não se preocupe com isso, vamos ficar bem.- Forço um sorriso.
-Certo, eu a levarei para casa.
-Não, não precisa se preocupar.
- Eu já tive um filha da sua idade e sei como é perigoso ficar zanzando por aí sozinha, então não será incomodo algum.
Ele se retira, andando até um dos policiais.
Eu o conheço há dois anos, foi através do meu pai que na época o ajudou a abrir a lanchonete daqui. Seus cabelos grisalhos já com falhas, e as rugas de seu rosto, evidenciam o cansaço de um homem sofrido, que já lutou muito para ter o que almejava.
Com a mente vazia observo tudo ao meu redor, caçando por algo interessante que possa me fazer pensar em algo, que me tire por um segundo deste caos.
-Boa noite, ou aproveite a noite?
Alguém próximo a mim diz isso, mas ignoro, talvez seja um desses civis conversando sobre coisas sem sentido. Passado alguns segundos a mesma voz volta com uma nova questão.
- Eu gosto de latim, você não?
Latim?
No mesmo segundo meus olhos correm pelo vidro ensanguentado, e aquelas palavras ecoaram por mais uma vez em meus pensamentos.
- Você está falando comigo?- Pergunto ainda incerta.
- Não sei, estou? Ou poderia ser sua cabeça pregando peças?
Ainda sem me virar, respondo a voz masculina tomada por um pouco de ironia.
- Então você é um fluente em Latim, incrível.
- Não diria fluente, só sei o necessário.
Ficamos quietos pelo o que eu diria ser dois minutos.
- Conhecia a garota?
- Não. - Respondo evitando esticar a conversa.
- Soube que ela falou com você, sobre algum tipo de recado...- O interrompo com impaciência, já entendi muito bem qual é o objetivo desse cara.
- Isso não é da sua conta, e pelo o que eu sei essa é uma informação que ninguém além de mim e da polícia, deve saber.
Uma risada abafada surge de sua parte, me causando irritação.
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Translúcidas Circunstâncias * Is It Love?Drogo *
Teen FictionApós tantos acontecimentos sufocantes e seguidos um do outro, Crystal decide procurar por um lugar onde possa se distanciar de tanto caos. Chegando em Mystery Spell tem a ajuda de uma amiga de infância para se estabelecer no pequeno município, e log...