Capítulo 2 ◉ O Pulso

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A cena se repete em minha mente como efeito boomerang, até agora me sinto incrédula sobre o que fiz em meio aquele sangue. Não consigo me lembrar exatamente do que aconteceu, só sei que corri até a garota e tirando o avental estaquei seu sangue. A película do meu celular rachou, mas já não me importei, essa porcaria perto de uma tentativa de suicídio, não é nada.

A polícia já isolou o local. A garota foi direto para o hospital, fiquei preocupada com uma possível infecção no ferimento, mas pelo o que eles me disseram ficou tudo bem, e agora devemos esperar que ela acorde.

Uma policial negra veio até mim e fez algumas perguntas sobre o que eu lembrava. No fim como uma forma de me consolar disse : " Foi muito corajosa, ninguém saberia o que fazer". Que seja, ainda sinto que foi um erro ter a deixado sozinha.

Senhor Silver ainda desnorteado, se aproxima de mim.

- Você já está melhor?

Puxo o casaco que estou vestida, na tentativa de disfarçar um pouco da minha roupa manchada por sangue.

-Na medida do possível, sim. E o senhor?

-Eu? Bem, sinceramente não sei. Sinto muito por você ter passado por essa tragédia, ainda mais em seu primeiro dia.

- Ninguém tem culpa, foi algo inesperado. Por favor, não se preocupe com isso, vamos ficar bem.- Forço um sorriso.

-Certo, eu a levarei para casa.

-Não, não precisa se preocupar.

- Eu já tive um filha da sua idade e sei como é perigoso ficar zanzando por aí sozinha, então não será incomodo algum.

Ele se retira, andando até um dos policiais.

Eu o conheço há dois anos, foi através do meu pai que na época o ajudou a abrir a lanchonete daqui. Seus cabelos grisalhos já com falhas, e as rugas de seu rosto,  evidenciam o cansaço de um homem sofrido, que já lutou muito para ter o que almejava.

Com a mente vazia observo tudo ao meu redor, caçando por algo interessante que possa me fazer pensar em algo, que me tire por um segundo deste caos.

-Boa noite, ou aproveite a noite?

Alguém próximo a mim diz isso, mas ignoro, talvez seja um desses civis conversando sobre coisas sem sentido. Passado alguns segundos a mesma voz volta com uma nova questão.

- Eu gosto de latim, você não?

Latim?

No mesmo segundo meus olhos correm pelo vidro ensanguentado, e aquelas palavras ecoaram por mais uma vez em meus pensamentos.

- Você está falando comigo?- Pergunto ainda incerta.

- Não sei, estou? Ou poderia ser sua cabeça pregando peças?

Ainda sem me virar, respondo a voz masculina tomada por um pouco de ironia.

- Então você é um fluente em Latim, incrível. 

- Não diria fluente, só sei o necessário.

Ficamos quietos pelo o que eu diria ser dois minutos.

- Conhecia a garota?

- Não. - Respondo evitando esticar a conversa.

- Soube que ela falou com você, sobre algum tipo de recado...- O interrompo com impaciência, já entendi muito bem qual é o objetivo desse cara.

- Isso não é da sua conta, e pelo o que eu sei essa é uma informação que ninguém além de mim e da polícia, deve saber.

Uma risada abafada surge de sua parte, me causando irritação.

Translúcidas Circunstâncias * Is It Love?Drogo *Onde histórias criam vida. Descubra agora