3° capítulo - Ray

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Ray sempre foi um garoto arteiro e extrovertido. Vivia rodeado de amigos dos mais variados jeitos; dos baixos do clube de informática aos altos rapazes do time de basquete; das mais introvertidas e criativas pessoas do clube de artes até as mais populares garotas do colégio.

  A verdade era que Ray adorava pessoas, exceto uma...

  Quando menor fazia de tudo para chamar a atenção de sua mãe e seu irmão, Bill, que era 3 anos mais novo que si.

  Falava alto, ria alto, gritava, esperniava, e até chorava alto. Era um verdadeiro bebezão que amava ganhar o colo da mãe. Perto dela se sentia importante, amado e principalmente calmo. Quase como se ela fosse seu calmante, sua droga, sua maneira de ganhar atenção e carinho.

  Uma acontecimento curioso que acontece em quase toda história de herói é que nosso herói só é um herói por alguma razão;
Primeira hipótese: Eles já nascem heróis e só seguem a vida sendo perfeitinhos.
Segunda hipótese: Eles sofrem e voltam arrasando e se superando.

  Partindo deste ponto, vamos considerar que Ray é nosso protagonista, nosso herói.
  Ray era alegre e animado, contudo, a partir dos 8 anos se tornou mais fechado, reservado e até meio medroso.

  Por que?

  Nosso herói seguiu uma infância ótima ao lado de sua mãe e irmão, mas... e seu pai?

  O pai de Ray, Tony, não esteve muito presente na criação dos filhos, porém isso não significava que havia deixado a família de lado!
  Tony trabalhava horas e mais horas para manter a família, já que sua esposa não podia trabalhar e deixar os filhos de 7 e 4 anos sozinhos em casa.

  Ray constantemente notava o cansaço de sua mãe e tentava anima-la de diversas maneiras, porém de nada adiantava. Nancy parecia cada vez mais exausta, cansada e infeliz, o que acabou gerando um grande problema no futuro.

  ~Flashback On~

   - Vamos mamãe! - corria o mais velho dos filhos.

   - Ray, não corra! Vai se machucar! - alertou a mulher com Bill nos braços.

   - Vamos logo! Quero andar de tirolesa, ir na montanha russa, no carrossel e na roda gigante!

   - Nós vamos, mas pare quieto! - segurou no braço do garoto para que não corresse e se perdesse no local.

  Foi uma tarde divertida e memorável.
  Foram em vários brinquedos do parque infantil, e até Tony pôde aparecer para algumas voltas na roda gigante.

   - Olha mamãe! A escola, as casas, as árvores... Estamos no topo do mundo mamãe! - dizia, ou melhor, gritava Ray arrancando risos de sua mãe que abraçava o garoto sentado em seu colo para o manter parado, enquanto seu marido se encarregava de cuidar de Bill que chorava baixo em seus braços começando a perder  o medo da altura.

   - Ray querido, vê aquela estrela? - apontou para um ponto de luz perdido no  lindo céu do anoitecer. Azulado em um tom escuro que revelava algumas estrelas, e dentre todas elas, Nancy escolheu uma. A mais próxima da Lua, que invadia sem dó aquela quase noite - Aquela é a estrela que você deve seguir daqui para frente.

   - Mas elas mudam de lugar todos os dias, não?

   - Mudam sim, o que quer dizer que amanhã você deve seguir outra estrela.

  O garoto alternava o olhar confuso entre sua mãe e a estrela.
  O que ela queria dizer com aquilo tudo? Fazia mesmo sentido?

   - Meu amor - segurou o rosto de seu filho o fazendo a encarar nos olhos - Quero dizer para seguir o exemplo das estrelas mais altas. Sabe o que isso quer dizer? - Ray acenou negativamente para a mãe que sorriu acariciando suas pequenas bochechas - Nada é impossível. Pense grande, pense alto. Sonhe grande, voe alto. Nunca deixe que outras estrelas te puxem para baixo. Se mantenha alto, sempre.

  O brilho nos olhos de Nancy revelava o quão feliz estava naquele momento.

  Ou será que eram lágrimas?

  Ray não havia entendido exatamente o que a mãe queria dizer com aquilo tudo, mas acharia uma resposta! Disso ele sabia.

  Existiram vários outros dias como aquele até que Ray completasse seus 8 anos. 8 anos de muita alegria e amor.

  Mas nada é perfeito...

  O Sol nasceu e Ray acordou sozinho no quarto que dividia com seu irmão.

   - Deve estar com a mamãe. - foi o que supôs.

  Desceu as escadas e ao chegar na sala encontrou seu pai sentado no chão, chorando. Desolado.

   - Papai? - chamou hesitante percebendo o pulinho que seu pai dera ao ouvir sua voz.

   - Ray... - Tony foi até o filho e o abraçou fortemente - Ray, meu filho...

  Ray retribuiu o abraço sem entender nada até que seu pai separar seus corpos e lhe revelar a verdade mais dolorosa que já ouvira.

   - Ray... eu serei franco com você, meu filho. Sua mãe e o Bill sofreram um acidente de carro à caminho para o mercado e... eles... - suspirou profundamente antes de continuar. Não podia acreditar. Não queria acreditar.

   - Eles morreram, Ray.

~ Flashback Off ~

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