Nossa História Quase Comum

4° capítulo - Aya

  Com 12 anos Aya notou um garoto em sua turma. Ele era diferente, solitário e incrivelmente gentil. Sim, aquele era Tom.

  Antes que se tornassem amigos tiveram alguns momentos em que interagiram e se deram muito bem, afinal era impossível dizer que não haviam se falado em nenhum momento se estudavam juntos.

  Contudo, foi a partir daquele dia, na enfermaria que tudo mudaria.

  Depois desse encontro ocasional, não se desgrudaram mais. Viviam indo e vindo juntos para todo lugar, o que gerou muitas fofocas e boatos de seus amigos.

   - Aya, você e aquele garoto estão mesmo namorando?! Por que não me avisou amiga? - perguntava indignada uma das amigas de Aya.

   - Não estamos namorando, sua louca! Ele é só um amigo muito legal... apenas. - a resposta foi dada mais uma vez entre risos.

  Os dois não davam a mínima para o que os outros achavam sobre as milhares de risadas e piadas internas que tinham. Não ligavam caso achassem que estavam namorando, ficando ou começando algo. Nada disso realmente importava. Eram amigos, melhores amigos, e nada nem ninguém poderia mudar esse rótulo a não ser um deles.

  Adoravam a companhia um do outro e sair juntos havia virado uma rotina. Nas tardes em que não ficavam na escola, iam tomar sorvete na arquibancada ao lado do enorme espaço dedicado para os skatistas em treinamento. Passavam algumas horinhas ali conversando e vendo os garotos e garotas se desequilibrando de seus skates e patins. Era hilário.

  Logo que se cansavam daquele local já seguiam rumo para a casa da garota e vez ou outra Tom era convidado a dormir lá para curtirem mais tempo juntos.
  Faziam essas pequenas festas do pijama pelo menos uma vez por semana. A nomeada "missão pinguins".

~ Flashback On ~

   - Tom, precisamos de um código para quando quisermos fazer nossa festa do pijama a dois - dizia a garota enquanto se mantinha parada com uma rosa em mãos e a cabeça levemente erguida.

  Era fim de tarde e estavam novamente na pista de skate agora quase vazia.
  O sol acertava o perfil de Aya entregando a Tom uma linda visão de sua amiga que parecia brilhar com os raios solares que lhe atingiam suavemente.

   - E o que sugere? - questionou o garoto focado em passar para o papel todos os mínimos detalhes presentes na imagem que tinha da garota à sua frente.

   - Hm... não sei.

   - Então não haverá código algum.

   - Aff Tom! Deixa de ser chato, garoto! É só pra ter um jeito mais fácil e discreto de dizer que precisamos nos ver pra fofocar! - exclamou levemente frustrada pela resposta do amigo que agora suspirava. Ela havia saído da pose.

   - Tudo bem senhora pinguim, teremos um código. Agora volte pra pose pra eu terminar logo esse desenho - se permitiu sorrir após ver Aya se sentar novamente enquanto bufava irritada.

  Tinham um acordo entre si que teve início logo no começo da amizade; O garoto poderia usar Aya como modelo de suas obras.

  Era um acordo simples e justo.

  Tom queria aperfeiçoar seus talentos como desenhista, e Aya era linda e gostava de posar para fotos e ser admirada de alguma forma. Com isso o acordo seria bom para ambas as partes.

   - Não me chame assim, oras. - reclamou outra vez do apelido que recebera há algum tempo.

  " Você é toda branquela, anda meio devagar, grita, vive rodeada e procura amor eterno. Claramente um pinguim! "  foi o que Tom lhe dissera.
 
  Ao se lembrar do apelido, Aya sorriu dando um pulo se levantando mais uma vez para olhar o amigo que bufava cansado de sua inquietação.

   - Qual é Aya? - reclamou parecendo de saco cheio.

    - E se for... missão pinguins? - sugeriu animadamente ignorando o quase mal humor preso no amigo que agora lhe olhava confuso - o código.

   -  Ah - recordou - Claro, claro, mas será que podemos voltar o foco pro que realmente importa? - apontou para seu caderno após dar ênfase no "realmente". Agradeceu aos deuses vendo a amiga voltar para a pose parecendo mais feliz que antes e foi inevitável um sorriso ser formado em seus lábios.

~ Flashback Off ~

  Eram como opostos, mas se encaixavam muito bem e por essa razão a amizade entre eles só melhorava com o passar do tempo.

No dia em que se viram na enfermaria, Aya descobriu por Collin que Tom tinha vários desenhos de si naquele caderno.

  A mulher lhe dissera que o garoto usava um mesmo modelo de garota em grande parte dos desenhos; uma asiática de cabelos negros e corpo bem modelado para a idade que aparentava ser entre 12 e 16 anos.

  Aya se sentiu feliz em saber que ele notava sua existência, no entanto estava confusa.

  Por que ele a desenhava? Era mesmo ela? Será que ele gostava de si?

  Suas duvidas foram tiradas depois de alguns poucos anos de amizade. Percebera que não, Tom não a amava de maneira romântica, já que o mesmo começou a namorar algumas de suas amigas.

  Não que ela se importasse tanto, mas já havia gostado do melhor amigo por alguns meses até se tocar que eles não eram feitos para ter algum outro tipo de relacionamento se não amizade.

  Agora no segundo ano do Ensino médio, Tom namora uma linda garota, amiga de Aya, Catarine.
  E se você acha que eles se afastaram após o começo do namoro do garoto, está muito enganado. Na verdade nunca estiveram tão unidos!

  O acordo entre eles funcionava bem e nada nem ninguém mudaria aquilo.

  Era isso que pensavam...