8° capítulo - Babe

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  O sinal toca, dando fim a última aula do dia.

  Foi outro dia comum, então não tenho reclamações.

   - Te vejo lá em casa! - Ray e a magrela de mais cedo, passam andando agarrados ao meu lado. 
  Agradeço mentalmente pelo garoto ter pernas grandes e dar passos largos, já que assim eles saem rapidamente do meu campo de visão.

  Ela é mais uma boba que cai nos encantos do meu amigo.

  Ou será que ele foi o bobo da vez?

  Eu e Ray somos amigos desde muito cedo, ou seja, sabemos muito sobre a vida um do outro. Mas nem por isso nos intitulamos "melhores amigos".

  Rótulos são chatos.

  Digo, ao invés de espalhar para todo e qualquer lugar que tal pessoa é seu melhor amigo, vá e faça algo por aquela pessoa.
  Espero que tenha dado para entender...

  E se não entendeu, leia tudo outra vez até entender o conceito de melhor amigo!

  Sermão dado, agora voltemos à realidade, na qual estou esperando o ônibus para ir diretamente à porcaria da festa.

  Diria que foram cinco minutos até que o automóvel parasse e eu pudesse entrar e sentar nos bancos do fundo.

  Ponho meus fones e fecho os olhos, torcendo para o tempo parar e só voltar quando a música acabasse.
  Infelizmente não é isso que acontece. Não nesse mundo.

   - Quanta gente... - uma voz masculina pode ser ouvida mesmo com a música consideravelmente alta em meus ouvidos.
  A voz estava próxima. O homem parecia ter parado em minha frente.

  E o quê foi que eu fiz? Nada.

  Me fingi de morta. Simulei uma estudante cansada tirando um cochilo no ônibus.

  E não demorou muito para me arrepender de tal atitude.

  Haviam pouquíssimas pessoas na parte de trás do ônibus (o que acabava com a teoria de que o homem estava em minha frente, de pé, por falta de lugares), logo devia haver outra razão pela qual aquela pessoa estivesse ali.

  Abaixo o volume da música e posso ouvir um barulho característico de zíper. Em seguida ouço alguns murmúrios.
Eu espero estar enganada, mas será que ele...

  Mantenho meus olhos fechados por mais algum tempo até me sentir desconfortável outra vez. Ao abrir os olhos, me deparo com um rapaz, aparentemente mais velho que eu, bem mais velho, me observando enquanto tinha uma das mãos dentro da calça. Sua careta se transformou em uma cara de sonso.

   - Posso me sentar? - ele pergunta apontando para o assento ao meu lado.

  Não. Não pode.

  Ele senta antes de ouvir minha resposta.

  Inacreditável.

  Aumento a música e viro meu rosto para o lado contrário. Eu definitivamente não iria olhar na cara de um sujeito desses.

  Não é como se essa fosse a primeira vez que algo assim me acontece.

  Chegando no fim do trajeto, suspiro aliviada pronta para me levantar, e assim que o faço, o homem se levanta também.

  Uma fila se forma para que todos consigam sair do ônibus, e atrás de mim, o homem me encoxava.
  Se esfregava, pra ser mais sincera. Parecia um cão sarnento.

  E o quê foi que fiz? Outra vez, nada.

  Eu sei, deveria, mas sinceramente quem liga?

  Ele estava gostando e eu não me importo tanto assim. Já me acostumei com a ideia de que os seres humanos tem desejos e necessidades.
Pelo fato de eu ter um corpo, algumas pessoas se sentem atraídas e querem se aproveitar disso.

  E por mim, tanto faz.

  Ignoro totalmente o homem até finalmente sair dali e parar na frente da porta da casa do meu amigo. Abro a porta e não demora muito para Ray me alcançar sorridente.

   - Babe! Que bom que veio. Quer algo?

   - Valeu amigo, mas acho que preciso te pedir um favor... será que posso tomar um banho? - pergunto e o maior me olha confuso.

   - Vamos pro meu quarto. - enquanto íamos para o andar de cima, pude ver que mais e mais pessoas apareciam na casa e isso me assutava um pouco. Ele convidou todos da escola???

  Passamos perto de um grupinho específico que me chamou a atenção. Meninos e meninas, todos parecendo muito irritados com um garoto baixo e magrelo perdido ali no meio. Coitado.

  Assim que chegamos no quarto, Ray me olha preocupado e ainda confuso.

   - Aconteceu alguma coisa?

   - Nah. O mesmo de sempre. Um tarado quase sujou a minha roupa... - admito e ele bufa.

   - Babe... - começa passando as mãos no rosto, em sinal de irritação - Vai adiantar te falar pra avisar alguém sobre isso? - nego e ele bufa outra vez, parecendo decepcionado - Odeio isso mais que você.

   - Oo meu deus, não se preocupe bebê, eu já sei lidar. É só fingir que não vi. - digo sorridente e ele atira um travesseiro em mim enquanto rio.

   - É sério Babe, não pode viver assim pra sempre! - exclama ao sentar-se na cama com a cara emburrada que sempre faz quando perde em algo. Clássico Ray.

   - Olha, - vou até ele e me sento ao seu lado - Eu não me importo e já te disse várias vezes os meus motivos para não fazer nada.

   - Seus motivos não fazem sentido.

   - Por que você é burro.

   - Não sou não!

   - A prova de que é está lá em baixo, naquela sala, provavelmente bebendo e beijando outros adolescentes burros como você.

   - Fala da Amanda de novo? - nos encaramos e ele ri ao notar que sim, eu me referia àquela magrela.

   - Afinal, está enganando ou sendo enganado?

   - Hm... os dois eu diria. - posso ver um sorriso malicioso em seus lábios e me permito sorrir junto.

   - Que bad boy.

   - Muito mal.

  Nos encaramos por alguns segundos e quando noto, estamos gargalhando sem motivo.

  Nessas horas posso perceber o quão diferente é a nossa amizade, em comparação com as outras que tenho. Nunca haverá ninguém para substituir Ray. Ele é como um irmão para mim.

   - Enfim... - ele se levanta e me entrega uma toalha - Vai lá. Só não demore muito ou o meu pai vai me fazer pagar a conta.

   - Ok, capitão. - me levanto indo em direção ao banheiro e ele segue seu rumo para a parte de baixo da casa, onde se concentravam os grupinhos de adolescentes.

Opa oi

Só quero avisar que vai ser assim mesmo. Uns capítulos longos, outros mais curtos e tal e tal.

Bjss ^3^

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