5° capítulo - Ray & Babe

30 2 0
                                    

   - Ray, vai se atrasar!

  E mais um dia começa com meu pai me chamando para levantar e enfrentar outro dia.

  Confesso que não sou do tipo de pessoa que reclama de tudo e mal vê a hora de poder deitar novamente. Sou mais uma daquelas pessoas que prefere começar o dia bem e continuar no foda-se pras restantes horas seguintes.

  Sendo mais sincero ainda, admito que gosto de acordar, levantar e saber que vou ter um dia legal na escola com meus amigos.

  Acho que assim a vida se torna mais leve.

  Afim de não perder a hora, me levanto e corro trocar de roupa e tomar café da manhã.

   - Bom dia. - cumprimento ao chegar na cozinha e ver meu pai lendo o jornal em suas mãos e bebendo do café quente que sempre toma às manhãs de sexta.

   - Bom dia, filho. - ele me olha e sorri ao notar minhas olheiras mais chamativas que o normal - Parece que alguém ficou jogando até tarde ontem...

   - Aquele vilão era barra pesada... - ouço um riso seu e me permito sorrir de lado.

  Eu e meu pai nos damos bem atualmente. Sim, atualmente, já que antes da morte do Bill e da Nancy nós não nos falávamos muito, e eu achava que era ele quem fazia mal a minha mãe. Puff... Ray tolinho.

   - Vou ficar até mais tarde no trabalho, se quiser chamar alguns amigos para virem aqui... - sugeriu se levantando e dobrando o jornal, antes de me encarar e apontar o dedo indicador em minha direção - Só arrumem toda a bagunça depois.

   - Pode deixar. - ele deixa um beijo em minha testa e sai de casa.

  Nossa rotina era assim. Nos víamos de manhã e de noite, e tudo bem. Continuávamos nos dando bem. Afinal ainda somos uma família.

  Terminando de tomar meu café, levanto da mesa para escovar os dentes e dar uma última checada em minha aparência.

   - Hoje eu 'tô um gato. - pisco e sorrio saindo da frente do espelho para pegar minha mochila e deixar a casa rumo à escola, após trancar a porta e me certificar de que tudo estivesse bem fechado.

  O caminho que fazia era curto, umas 3 ou 4 quadras talvez, mas era essa uma das melhores partes do dia.

  Andar pela calçada quase abandonada e irregular era uma das formas de me sentir bem.
  As folhas que ocupavam quase todo o espaço e buracos traziam um cheiro reconfortante, ainda mais depois de uma noite chuvosa.

  Caminhar nessas condições me lembra que Bill sempre amou chuvas e folhas. Era fascinado por pular em poças e coletar folhas para sua coleção. Mesmo tão pequeno já era muito decidido e sabia o que queria se tornar. Sonhava em ser cientista. Talvez até um biólogo. Amava estar em contato com a natureza e animais, além é claro de adorar fazer experimentos no jardim de casa, ou como Nancy preferia dizer "Bill adora fazer bagunça".

  Um sorriso triste se forma em meus lábios todas as vezes que me lembro do irmão genial que tinha, mas sei que ele continua sendo genial onde quer que esteja e isso me conforta.

  Respiro fundo mantendo meu olhar para frente, já podendo ver a porta da escola a poucos metros de mim.

   - Lá vamos nós... - me encorajo a entrar de vez no local e são poucos minutos até sentir meu braço ser agarrado.

   - Chegou na hora certa, precisava mesmo falar contigo. - uma garota, pouco mais baixa que eu, sai me puxando até meu armário.

   - Oh, e o que seria tão urgente logo cedo? - olho sorrindo sacana para Amanda.

Nossa História Quase ComumOnde histórias criam vida. Descubra agora