O Que Músicas Brasileiras E Crush's Tem A Ver? ◠ Verkwan

09. II. Mentira Tem Perna Curta.

Os próximos acontecimentos são uma bagunça e eu só posso adiantar que, talvez, assim como eu, você vai ficar em um misto de emoções entre Raiva, Angústia, Paixão e Boiolice.

***

O que aconteceu foi aterrorizante. Eu tive que ficar trancado com Hansol e Sofia no quarto por quase uma hora.
Nesse tempo eu tive que confortar os dois; quando Hansol me contou que aqueles ferimentos quem fizera foi, na verdade, o seu padrasto e que ele o batia desde que descobriu que gostava de garotos também; que já tinha batido uma vez em sua mãe; disse também que ele nunca tinha batido em Sofia, mas que dizia palavras horríveis demais para se fizer a uma criança, eu fiquei puto, triste e com nojo. Eu queria gritar, chorar e matar aquele desgraçado. Como alguém pode ser tão ruim assim? Piorou tudo quando ele disse que a mãe dele queria se separar do homem, mas tinha medo do quê ele poderia fazer com os filhos, já que o homem é policial de trânsito de Ansan e que conhece muitos policiais e juízes que podem o ajudar em ganhar o caso, ou seja, eles iriam sofrer até arranjar um jeito de se salvar daquele inferno. Todo o choro e emoções sobrecarregadas que estavam dentro de mim explodiram naquele momento.
Eu chorei porque estava com  raiva; chorei porque estava triste; chorei porque não podia fazer nada pra ajudar ele; chorei porque vi eles tentando me reconfortar sendo que esse era o meu papel naquele momento; chorei por ver eles chorando de novo; chorei por lembrar que eles viviam em um inferno; chorei porque a mãe deles estava lá em baixo discutindo com aquele cara para nos proteger mesmo podendo ser agredida novamente; chorei porque a justiça desse país é corrupta e chorei porque não consegui controlar meus sentimentos.
Só consegui me controlar um tempo depois no conforto de Hansol, estava me sentindo horrível por desabar assim, em cima dele, quando ele mais precisava de mim. Tentei pedir desculpas mas ele me impediu com um selinho e disse que iria me bater se eu terminasse a frase. Sofia perguntou se podíamos assistir algo ou brincar com ela, eu e o garoto concordamos em assistir algum filme da Barbie pelo notebook dele mesmo.

***

Eu e Sofia ficamos tão concentrados no filme que nem percebemos quando a discussão encerrou e quando Sol saiu do quarto, só percebemos quando ele voltou com uma vasilha enorme cheia de biscoitos e salgadinhos em uma mão e na outra um refrigerante de Uva e três copos — Como ele acertou que eu amo refri de Uva? Eu quero casar com ele agora! Aposto que meus olhos brilharam com o tanto de comida que tinha ali, acho que não só os meus, os de Soffie também.
— Hora de sair da dieta, bebês.
— Que dieta? — Eu e a garotinha dizemos ao mesmo tempo e depois sorrimos cúmplices.
— Vocês dois são igualzinhos. — Riu. — Mas estão certos. Criança não faz dieta e você nem precisa, Kwan.
— É verdade, Kwan! Você é tão magrinho.
— Na verdade eu até me acho meio gordinho... — Falei baixinho. Acredito que o garoto tenha ouvido, mas preferiu ignorar.
— Agora vem, vamos comer à vontade.
— O senhor quem manda. — Engatinhei até ele, puxei o notebook um pouco para mais perto de nós e peguei um pacote de Cheetos que eu tanto amo enquanto Sofia dava play no filme de novo.
Ficamos assistindo por um tempo, mas eu tinha que perguntar uma coisa que estava deveras me incomodando então cutuquei ele.
— Sol?
— Pode falar, meu bem.
— Aquele homem… ele já…
— Já foi embora. Pode ficar tranquilo, ele só deve voltar amanhã. — Se inclinou e deu um beijo em minha bochecha. Não consegui controlar o sorriso.
— Mas e a sua mãe? Ela tá bem? ele não fez nada, não, é...?
— Não, ainda bem. Por que está tão longe? Vem mais pra perto. — Reclamou. Não que eu estivesse tão afastado assim.
— Você tá tão grudento hoje. Gosto de espaço pessoal, sabia? — Coloquei mais salgadinho na minha boca.
— E o que uma coisa tem a ver com a outra?
Sofia estava tão concentrada no filme que se um meteorito caísse  do nosso lado, tenho certeza que ainda assim ela terminava de assistir a maratona de Barbie.
— Você vai se apegar mais em mim e isso vai começar a ficar estranho porque você vai começar com aquela história de "você é só meu", aí não tem condições.
— Ué, mas você já não é meu?
— Cala a boca, boboca! —  Aproximou o rosto do meu e fez biquinho. Ignorei.
— Quero beijo.
— Por que você não pergunta se pode me beijar invés de pedir para eu te beijar? E por que você tá querendo tanto me beijar?
— Porque eu gosto de ver você corado e porque eu gosto de beijar você. Já te falei que virou meu vício. — Sussurrou pra mim. Por que eu tô achando que vai entrar alguém aqui? Nessas horas sempre tem alguém pra interromper.
— …Então você tem que resolver isso aí de vício, não é muito legal, não... — Desconversei e desviei o olhar dele e (só tentei) me concentrei no filme que estava passando.
— Não desvia do assunto, não.
— Ai, Hansol... sua irmã tá bem aqui do lado e tem chances de sua mãe entrar aqui a qualquer minuto. Para de ser assim.
— E o que que tem?
— Hansol! — Dei um tapa no braço dele. Ele riu e me abraçou de lado.
— Tá bom, tá bom, não vou te forçar já que você não quer. — Abracei ele de volta meio torto e encaixei meu rosto na curvatura do seu pescoço. Fiquei um tempo ali, inalando o cheiro do seu perfume.
— Depois, bebê. Quando você for me levar em casa eu te dou um beijinho.
— Eu vou te levar em casa?
— Você não vai me levar em casa?
— Vou.
— Então, tá.
— Gente, quero mais. — Sofia falou depois de um tempo, quando os créditos do filme apareceram na tela.
— O que?
— Mais filme da barbie, bobão.
— Quero assistir "Barbie Lago Dos Cisnes”. Eu gosto desse filme. — Comentei. Eu realmente gosto muito desse.
— Okay, vai ser esse então. Todo mundo gosta desse, então a gente assiste esse mesmo.
— Para falar a verdade, — Falei baixinho só para o americano escutar. — eu tô com sono... — Bocejei.
— Você sente muito sono de tarde, não é?
— Sinto. — Bocejei de novo. Hansol é quase uma cama pra mim: quentinho, macio, confortável e com um perfume muito gostoso. Como não sentir sono?
— É um bebe mesmo.
— Não sou, não… — Falei já com os olhos fechados. A última coisa que escutei antes de me entregar ao sono foi "É, sim! Meu bebe ".