Capítulo I

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Era uma tarde de sexta-feira na cidade de Évora, para a qual me tinha mudado há pouco tempo e, como sempre, saí do autocarro, pus os fones e comecei a andar. Estava já a meio do caminho, quando me deparei com um grande e velho portão. Assim que me aproximei senti o cheiro horrível que vinha de dentro dele, mas como sou teimosa, decidi entrar na mesma, olhando para todos os lados para me verificar que ninguém me estava a observar. Como não havia ninguém decidi entrar, o que foi, provavelmente, um dos maiores erros que cometi na minha vida. Assim que olhei para a minha frente, vi não um, mas três cadáveres. Eu tinha três corpos à minha frente. Como qualquer pessoa normal que acaba de encontrar três cadáveres, tirei o telemóvel do bolso e liguei para o 112, mas assim que a chamada foi atendida, algo inesperado aconteceu.

— Olá Sofia, tudo bem? Parece que meteste o nariz onde não eras chamada, por isso nem sequer penses em ligar para a polícia a não ser que queiras que os teus queridos parentes morram, acho que ninguém quereria isso.

Bastante preocupada, respondi:

— Quem és tu e o que queres? Eu só fiz o que qualquer pessoa faria, liguei para a polícia.

— Acho que ninguém entraria numa propriedade privada, quer dizer, acho que ele não te denunciaria. É que esse homem enforcado com a corda cortada era o proprietário, sabes? E pensa melhor antes de telefonar polícia a dizer que encontraste três pessoas mortas, o que achas que eles iriam pensar?

— Não sei, nunca precisei de ligar ao 112 para denunciar homicídio.

— E nem vais, se não quiseres perder parentes.

— Podes responder-me a uma coisa? — questionei, nervosa.

— Isso depende do que perguntares. O que é que queres?

— Quem és tu? Foste tu a matá-los?

— Primeiro, isso são duas perguntas, segundo, não te posso dizer quem sou porque fui eu que os matei.

Assim que elu (pronome cujo género é desconhecido) disse aquilo, eu desliguei a chamada e de seguida recebi uma mensagem de um numero desconhecido a dizer: "Porque desligaste? Não faças nada estúpido, sei onde moras."

Fiquei apavorada e comecei a correr para casa, sempre com medo de que elu aparecesse na minha casa, então, quando lá cheguei abri a porta, esperando o pior. No entanto estavam lá todos sentados no sofá. Os meus irmãos mais velhos, Marco com a namorada e Edu com o namorado e o meu pai a ver televisão. Suspirei e quando me perguntaram o que se passava eu apenas respondi que estava cansada e iria para o meu quarto fazer os deveres de casa. Eles não duvidaram de nada, então cumprimentei todos e fui para o quarto.

O resto do dia foi normal, mas estava constantemente preocupada caso elu voltasse a ligar. Assim que acabei de jantar fiz as minhas higienes e fui para a cama, mas não conseguia adormecer. Então fui buscar um comprimido para dormir e acordei na manhã seguinte com o meu pai a bater na porta e a dizer para eu acordar. Levantei-me e fiz o que sempre fazia, vestir-me, fazer a mala, comer, lavar a cara e os dentes e andar até à paragem do autocarro.

Ao passar pelo portão, aproximei-me e espreitei, suspirando ao perceber que os três corpos lá continuavam. Fui para o autocarro como se nada tivesse acontecido e como cheguei um pouco tarde, quase todos os lugares estavam ocupados. Sentei-me, então, ao lado de uma menina gótica, que logo começou uma conversa perguntando:

— Também és nova aqui?

— S-sim, mudei-me para cá na semana passada porque os meus pais se separaram e fiquei a viver com o meu pai — respondi com um pouco de vergonha.

— Os meus pais também estão separados, — disse ela — vivo com a minha mãe. Já que não conheço ninguém aqui, podemos ser amigas? Tudo bem se não quiseres.

— Também não conheço ninguém, então pode ser — respondo, contente por fazer uma amiga. — Chamo-me Sofia, e tu?

— Sou a Riera — respondeu ela sorrindo. — Então... porque é que os teus pais se separaram? Os meus foi porque o anormal do meu pai que é homofóbico e me agrediu por me assumir lésbica.

— Também, mas no meu caso é a minha mãe. Ela queria expulsar-me e ao meu irmão por nos assumirmos gay.

—Somos mais parecidas do que pensava — ela diz, sorrindo.

Eu coro e sorrio para ela também.

Eu coro e sorrio para ela também

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Imagem do Pinterest.

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