I - H a n n a

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Eu costumava amar o Natal, antes da data ser marcada pela morte da minha mãe. Para a maioria das pessoas é um dia de celebração, reunião e agradecimento. Para mim esta é uma data repleta de tristezas desde que eu tinha 10 anos.

Todo final de ano é igual, preciso lidar com o luto enquanto vejo todos os meus colegas comemorarem e praticamente pularem de alegria a cada minuto. 

Mas eu tenho um segredo sobre o que eu faço na fatídica véspera de Natal: eu leio. Quem olha para mim jamais diria que eu sou do tipo que lê, mas acreditem, esse é meu hobby favorito. Gosto mais de ler do que de dançar (isso que eu sou uma líder de torcida).

Passo por lojas abarrotadas de gente, vejo crianças fazendo guerras de bolas de neve na rua e casais apaixonados se beijando em praças brancas e iluminadas por luzinhas coloridas. Se ao menos Justin ainda fosse meu namorado eu poderia passear com ele por aqui. 

Outra coisa que ninguém sabe é que eu tenho um azar enorme em todos os Natais. Quando eu tinha 10 anos minha mãe faleceu em um acidente de carro, quando voltava do trabalho. No ano seguinte, meu cachorro fugiu de casa. Com 12 anos eu caí da escada enquanto prendia enfeites festivos nela. Depois disso tudo, a partir dos 13 anos, os incidentes tornaram-se menos graves, mas mesmo assim continuaram acontecendo.

Chego em frente à biblioteca e não consigo segurar o sorriso que dou. As luzes coloridas emolduram a porta principal e todas as janelas. Na parede algumas luzes led estão ligadas e reunidas de certa maneira para formar livros famosos. 

Não há muitas pessoas dentro, consigo notar da calçada.

Uma moça sai pela porta e, nesse instante, escuto uma música instrumental que deve estar vindo de um piano. Desde quando a biblioteca possui um piano? A melodia é suave, baixa e, ao mesmo tempo, poderosa. 

Um arrepio percorre meus braços, porque lembro da mamãe instantaneamente.

É inevitável e meus olhos se enchem d'água. Coloco as mãos nos bolsos do casaco de tricô vermelho que papai me deu no Natal passado e balanço a cabeça, tentando pensar em outra coisa. 

A melodia é natalina e tenho certeza de que reconheço a música, mas não consigo decifrá-la por completo.

Respiro fundo e subo as escadas em direção à entrada do lugar aconchegante que sempre me recebe todo Natal. Assim que piso no interior quente, a porta atrás de mim bate com tanta força que me assusta. 

Procuro o piano com curiosidade e o encontro no meio das poltronas vazias bem conhecidas minhas, em cima do tapete surrado e vermelho no qual eu sempre sento. 

Olho para o pianista e é impossível manter uma expressão séria. Minha boca quase toca o chão.

O nerd do Nate?

Ele franze o cenho ao me ver e para de tocar. Então diz, com o rosto sério:

━Não sabia que líderes de torcida frequentavam a biblioteca. 

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