Por que eu disse isso?
Chocolate. O cheiro é inebriante. Quero encostar meu rosto no cabelo sedoso dela e inspirar profundamente. É um desejo tão bobo que fico corado só de imaginar-me fazendo isso.
A cintura de Hanna é magra e sinto-a enquanto abraço-a desajeitadamente. Deveria soltá-la. Mas o perfume... É bom demais! Vejo algo diferente em seus olhos, como se estivesse gostando da minha proximidade.
Preciso respirar fundo para tentar me acalmar.
Quando a olho, perdido em meio às sensações, para meu espanto, vejo-a inclinar-se sem hesitação alguma em minha direção.
Meu coração está prestes a saltar do peito. Engulo em seco, sentindo-me tão ansioso que quase deixo-a cair.
Minhas mãos ficam suadas e algo pulsa em minhas veias, uma energia vibrante e nova.
Quando seus lábios tocam os meus, prendo a respiração, pois isso não pode estar acontecendo!
Meus problemas parecem bobos e idiotas perto dos dela. Ainda estou processando o segredo que ela acabou de me contar, mas é difícil concentrar-me nisso quando seus lábios estão sobre os meus.
Beijá-la é como eu sempre imaginei que seria: revigorante, intenso e especial. Afinal, é a garota por quem eu sempre fui apaixonado.
Não me atrevo a tomar as rédeas da situação, com medo de estragar tudo. Percebo-a sorrindo por entre o beijo e meu coração pula no peito, agitado e animado.
Afasto-me e vejo-a de olhos fechados, com um sorriso bonito no rosto, nos lábios lindos que acabaram de tocar a minha boca! A realidade é como um caminhão passando por cima de mim.
Quero me beliscar para ver se não é um sonho.
Hanna finalmente termina o beijo e me olha. Ficamos em silêncio por longos segundos constrangedores. Ela ajeita a blusa, como se estivesse amassada, pigarreia e evita me encarar.
Por que ela me beijou?
Seguro uma mecha de seu cabelo entre os dedos e enrolo-a delicadamente, sem prestar atenção ao que estou fazendo.
Ela arregala os olhos para o gesto e, com isso, me afasto.
━Beijar pode ser um ritual contra a má sorte natalina, murmuro, tentando fazer uma piada.
Hanna dá um sorrisinho torto que faz meu coração pular novamente.
━Foi exatamente por isso que eu te beijei.
Engulo em seco. Como devo me sentir ao saber disso? Coço a nuca com nervosismo. Ela começa a rir baixinho, balançando a cabeça.
━Qual a graça? Rindo do meu sofrimento? Pergunto.
━Sofrimento? Ela aqueia as sobrancelhas, cruza o braço e me encurrala perto da estante mais próxima.
Estendo as mãos atrás de mim e as apoio na madeira. Ela é mais baixa do que eu, mas é mil vezes mais intimidante. De cima consigo ver a expressão concentrada que ela sempre mostra em competições e em provas.
━Quando a garota que você gosta finalmente te beija e diz que foi só para quebrar o azar natalino dela é bem triste. Espera, isso faz de mim um sapo?
Estou divagando como um idiota, em voz alta, e fico surpreso ao ouvir a risada sincera dela ecoar pelo local. Esqueci o horário e a nevasca há tempos.
Acabo de confessar que gosto da Hanna.
Alguém deveria me impedir de falar.
━Se serve de algum consolo, eu gostei de te beijar.
━Mas por que me beijou?
━Porque...
Ela suspira com frustração e passa as mãos nos cabelos, mandando outra onda de chocolate na minha direção.
━Porque eu quis. Não é motivo suficiente?
━Não para mim. Nunca trocamos uma palavra antes!
━Precisa saber de tudo, Nate? Ela revira os olhos e odeio o fato de que a acho linda quando faz isso.
━Se eu soubesse que era só ficar trancado com você em uma sala para que você caísse de amores por mim eu já teria arranjado esse encontro antes.
Estou brincando com a situação, porque obviamente não tenho toda essa confiança. Engulo em seco, esperando que ela leve na esportiva. Hanna dá um sorrisinho.
━Você sempre gostou de mim? Essa é a revelação da noite. Talvez seja seu maior segredo, Nate.
A piscadinha que ela dá faz meu coração acelerar mais ainda, se é que isso é possível. Vou sair daqui direto para um cardiologista desse jeito.
Respiro fundo, sentindo meu rosto esquentar, e digo:
━Sei muitas coisas sobre você, Hanna. Agora sei seu segredo, mas também sei que é a menina mais inteligente da turma, é melhor em matemática do que todo o clube de cálculo, é uma ótima dançarina, não que eu tenha reparado, tem muitas amigas, odeia o Natal, ama ler tanto quanto eu, gosta de Jane Austen, usa seu cabelo numa trança durante a educação física, tem um sorriso torto e irônico capaz de fazer todos os caras do time de futebol fraquejarem...
Começo a falar como um louco, mas por quê? Para impressioná-la? Para ganhar uma chance? Sim, talvez seja isso.
Gosto como o rosto dela muda de choque para uma expressão envergonhada. Adoro como os cabelos caem sobre seus ombros. Amo o sorriso tímido que Hanna dá.
Algo cresce dentro de mim, uma confiança nunca vista antes. Esse sentimento só aparece após eu finalmente entender o que aconteceu: Hanna me beijou. Se ela me beijou a minha chance está aqui.
Então é minha vez de beijá-la.
Seguro-a com delicadeza pela cintura novamente, inclino-me para baixo e beijo-a nos lábios com gentileza, como se estivesse agradecendo pelo beijo anterior.
Os braços dela rodeiam meu pescoço. Não quero esquecer esse momento nunca.
Me afogo em seu cheiro de chocolate. Dramático, eu sei, mas eu poderia ficar horas só admirando esse cheiro.
Beijo-a nas bochechas, na testa e no queixo. Ela ri e se encolhe de cócegas. Abraço-a pela cintura e digo:
━Esse é o meu Natal da sorte.━Talvez seja o meu também, Hanna praticamente sussurra em meu ouvido.
Um arrepio estranho passa por meu braço. Hanna entrelaça os dedos nos meus e diz:
━Acha que o dueto é necessário?
━Só para garantir, dou uma piscadinha para ela.
Abraço-a pelos ombros e caminho em direção ao piano.
Sugeri o dueto não só para mostrar minhas habilidades no piano, mas também para ouvi-la cantar. Às vezes Hanna canta nos jogos de futebol, para minha alegria. Sua voz é doce, melódica e bonita, assim como ela. Agora poderei ouvi-la mais de perto, ao meu lado, próxima a mim...
Talvez eu seja bastante apaixonado por ela, ainda mais depois de dois beijos.
Meu coração não consegue desacelerar. Realmente precisarei do cardiologista.
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Presos na Biblioteca
RomansaPara alguns o Natal é uma celebração, mas para outros é motivo de tristeza. Todos os anos, na mesma data, Hanna, a garota mais popular da escola, vai até a biblioteca buscando esquecer, através dos livros, as lembranças tristes de Natais passados. N...