Londres, 1727John POV
- Mãe, pelo amor de Deus! - digo á mulher na minha frente, não aguento mais essa discussão - Não quero me casar! Nenhuma dama dessa cidade me interessa!
- Dessa cidade? Estamos em Londres! - retruca a mulher com o rosto avermelhado - E por que não? Você já está com 25 anos, já se formou doutor, tem um bom trabalho, e conhece muito das moças dessa cidade!
- Ah mãe... - bufo sentando em minha cama, massageando as têmporas -É justamente por isso, não busco ninguém em Londres. As moças que conheço, ou são bastante atiradas, ou bastante conservadoras. Não quero ninguém tão extremista assim.
- E a filha dos Mayers? Ela é bonita e muito bem educada, como se chama mesmo?
- Mãe! - repreendo-a - Ellie, seu nome é Ellie, sim, ela é bonita, mas é atirada. Podemos encerrar este assunto agora?
- Tudo bem querido - finalmente ela cede, sua voz está baixa e seu olhar cansado - Arrume-se e desça, está quase na hora, e os convidados do seu pai já vão chegar. Não esqueça de que, seu pai é um membro do conselho real, nossa imagem perante a sociedade é mais importante agora, do que era antes.
- Sim senhora mãe. E, por favor, perdoe-me se fui ignorante, apenas não encontrei a moça certa, ainda. Mas, assim que a encontrar, a senhora será a primeira a saber, combinado? - faço a proposta segurando suas mãos.
A mesma sorri e concorda com a cabeça.
- Está bem querido, estamos de acordo, mas não demore muito, quero conhecer meus netos - e com um último sorriso em seus lábios finos brilhantes, ela sai do meu quarto, deixando-me sozinho com meus pensamentos
Como hoje é sábado, e o clima está agradável em Londres, decido tomar um rápido banho de banheira.
Tanto minha mãe, quanto meu pai, dizem que tomar muitos banhos, é um costume desnecessário e que pode gastar a minha pele. Porém , a sensação de ficar sujo, suado ou fedendo, me incomoda muito mais do que frio. E outra, sendo médico, a higiene é importante, Manter-se limpo, ajuda me prevenir doenças.
[ . . . ]
Depois de me arrumar, olho meu reflexo no espelho: cabelos negros compridos até a altura dos ombros, olhos claros, de cor indefinida, fica entre o azul de meu pai, e os olhos verdes de minha mãe. Pele branca bem pálida, desvantagem de se morar em um lugar em um lugar onde mais chove do que faz sol. Barba bem aparada, com uma leve falha perto do lábio inferior, onde eu caí quando era pequeno, e cortou - minha mãe quase teve um ataque, e mandou a criada embora por falta de cuidado. Terno verde-musgo, gravata borboleta na mesma cor e sapatos perfeitamente engraxados.
Ouço barulhos de alguém batendo á porta:
- Quem é?
- Rosalie - diz a voz sutil da minha ''segunda'' mãe, que na verdade é a criada que minha família tem a anos, antes mesmo de eu nascer.
- Entre, Rosalie - digo e vejo a sua figura baixa, magra e pálida, usando uma roupa preta e branca, que os empregados usam em eventos que requisitam uma certa classe . Seus cabelos grisalhos, estão presos para trás, em um coque baixo - Em que posso ser útil?
- Sua mãe mandou lhe chamar, o jantar vai ser servido em 10 minutos - ela diz arrumando o nó em minha gravata nas pontas dos pés - E sei que não perguntou, mas a sala está cheia de homens do Conselho, mais do que o previsto, sei que não gosta - ela termina o nó, toca minha face e me dá um sorriso gentil
- Agradeço, tanto pelo nó, quanto pelo aviso. Como estou?
- Muito bonito e elegante, só falta arrumar os cabelos - passo os dedos pelos fios grossos e ponho para trás prendendo baixo - Agora está melhor.
Dou um sorriso a ela e saio do quarto.
Logo no corredor, me deparo com os retratos de alguns antepassados que eu nem sequer sei o nome. Candelabros na parede com velas, que ilumina o corredor branco com detalhes em dourado.
O chão está coberto pelo mais novo tapete persa, na cor vinho e dourado com desenhos que vão se vermelho claro ao marrom, extremamente elegantes.
Desço as escadas e me deparo com em torno de 16 homens na sala de visitas, ampla com cadeiras confortáveis e a maior do meio, onde meu pai está sentado. Há uma lareira, que aquece todo o local, algumas flores espalhadas, que da cor ao lugar.
Sento-me em uma cadeira afastada apenas ouvindo a conversa, sem prestado atenção ou participar.
Minha mãe, trajando um vestido vinho mostrando que é a dama daquela sala, onde conversa com algumas outras 4 mulheres.
O barulho da campainha é escutado por todos, e não tarda até um criado trazer um rapaz alto, de pele quase bronzeada, cabelos cor de fogo, olhos tão escuros quanto a noite, aparentemente mais velho que eu, usando um smoking completamente preto, juntamente de sua gravata. De longe, percebe-se que esse homem que entrou, é de uma família bem rica.
Todos na sala estão em silêncio tentando entender que rapaz foi esse que entrou. Eu não o reconheço, talvez nao seja de Londres.
O estranho aproxima-se do meu pai e lhe entrega uma carta preta, onde posso perceber um anel de prata com uma jóia negra cravada, que dá contraste a sua pele.
- Senhor Griphen, meu pai sente muito por não conseguir comparecer ao seu jantar de comemoração. O mesmo encontra-se muito doente, e pediu-me para substituí-lo nessa noite - o homem pronuncia, de forma clara e alta, sua voz é firme, e de longe, posso notar um sotaque, porém, as palavras saem com perfeição de sua boca.
- E quem seria seu pai? - um homem pergunta
- Crowley Humboldt - o jovem responde com orgulho
- Mas o senhor Humboldt - o homem diz com um desprezo na voz - mora na Escócia
De uma hora para outra, a conversa parece que ficou interessante
- Como disse senhor Mason, e pressinto ter a necessidade de responder, pois julgo o mesmo ser surdo, meu pai está doente. E ao que parece, Londres tem a melhor medicina da Europa - diz o desconhecido e eu me seguro para não dar um sorriso
- O rapaz diz a verdade senhores - meu pai finalmente se pronuncia - Esse é o brasão da família Humboldt - ele fala e mostra a carta, mas não consigo ver - E pelo que li, vão morar aqui?
- Só por um tempo, até meu pai melhorar, eu e minha irmã ficaremos e vamos estudar - ele responde - Talvez até administrar alguns negócios daqui, de Londres, mas isso são planos futuros
Posso ver alguns homens ficarem espantados pelo fato que uma mulher fosse estudar além do necessário. O que me fez ficar impressionado, e de certa forma curioso. Essa família realmente me interessou
- E qual seu nome jovem? - meu pai pergunta
- Edgar Humboldt, senhor.
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Através do tempo
FantasiLondres, 1627 Jhon, rapaz jovem da alta sociedade Londrina, cético e recém formado na academia. Seline e Edgar, irmãos misteriosos, muito bonitos, que possuem má fama. Brasil, dias atuais Jhon, professor em uma universidade de história, encontr...