PRÓLOGO

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JAKE FRASER II - 19/05/2017

Eu mal posso acreditar que o meu garoto, meu irmão mais novo, vai se casar. Minha admiração por ele só cresceu quando encontrou a Grace. Ele amadureceu, não sei se quando a encontrou ou se ainda antes, mas há uma diferença enorme entre o Thomas que conhecia quando eu estava na faculdade, morando longe da minha família, e o Thomas que eu vejo hoje, estando diariamente com ele na Escócia.

Só o Thomas mesmo para me fazer pisar novamente neste país chamado Estados Unidos da América. Talvez por covardia minha, prometi a mim mesmo que nunca mais entraria em contato com qualquer um dos meus amigos da faculdade. Ir morar na Escócia com Thomas foi uma oportunidade gigantesca de me livrar daquilo tudo que me sufocava.

Voltar aos EUA me deixava mais reflexivo do que nunca. Tentei me esconder atrás dos salgadinhos, mas ninguém pareceu querer deixar os últimos momentos de solteiro do meu irmão serem silenciosos nesta cabana.

- Vocês convidaram os Henderson? Alguns dos amigos da Escócia? - meu avô perguntou ao meu pai.

- Não, papai. Muito inviável... Eles não poderiam vir... Sem contar que eles não são mais tão chegados. Thomas nem se lembra deles - meu pai explicou com muita paciência, meu avô não entendia que meu pai e o seu melhor amigo de infância, Ítalo Henderson, já não tinham contato por quase duas décadas.

- Eu tenho certeza que a Grace ia adorar conhecer a primeira escolhida do Thomas - eu brinquei para descontrair, meu irmão parecia mais nervoso do que nunca. Minha piada o despertou para uma risada.

Então era disto que ele precisava: do Jake versão comédia. Hoje era o dia dele, era isso que ele merecia ter.

Cutuquei Luke, o melhor amigo do meu irmão, para que ele entrasse na onda.

- Primeira escolhida? Explica essa aí.

- Ítalo e eu éramos como irmãos - meu pai começou a explicar aquilo que todos nós já sabíamos. - Queríamos ser da mesma família, e eu tinha certeza de que a filha dele seria ideal para um dos meus filhos. Como tivemos o Thomas no mesmo ano em que eles tiveram a filha deles, acho que o nome era Daisy, Margarida, algo assim...-

- E eles praticamente casaram as duas crianças - eu completei.

- Isso não é ilegal? - Luke perguntou na maior inocência, o que fez todos nós rirmos.

- Mas o ponto é que eu acho que vocês deveriam ter chamado os Henderson - meu avô começou o sermão novamente.

- Por quê? - Thomas disse, sem entender.

Eu já tinha entendido tudo.

- Vovô ainda acha que eu vou querer a Marguerita. Desencana, meu velho, ela não faz meu tipo.

- E você já a viu depois de crescida, por um acaso? - meu pai questionou, ao que eu dei de ombros.

- Tenho a vaga lembrança de uma loirinha dentuça. E eu não gosto de loiras - eu respondi, convicto.

- Eu até pesquisei na internet por ela há um tempo... - Thomas disse, despretensioso. - Mas ela é um fantasma, não parece ter redes sociais.

- Ah... que a sua noiva não ouça que você andou pesquisando por outra mulher! - eu brinquei, muito tendencioso.

- Isso foi antes de conhecer a Grace - meu irmão se justificou em meio às risadas. - Ainda bem que não encontrei...

- Você está querendo dizer que, se essa Marguerita tivesse Instagram, a gente talvez não estaria aqui? - Luke perguntou.

- Não gosto de pensar assim - Thomas afirmou com segurança. - Seria a Grace de qualquer forma, sem qualquer sombra de dúvidas.

Eu gosto desse tipo de pensamento; de que existe, sempre existiu, alguém lá fora destinado a você. Isso é fácil de falar quando você já tem a pessoa ao alcance do seu olhar. Para mim, que sou o irmão mais velho - e míope, diga-se de passagem -, parece que não há ninguém: nem lá fora, nem aqui dentro, nem em qualquer canto.

Para o Thomas, tinha que ser a Grace. Acho, de verdade, que nunca encontrarei alguém para dizer que "era para ser assim". Talvez seja um pouco de falta de fé de minha parte. Mas é que, sinceramente?, não estou com cabeça para esse tipo de coisa por agora.

NÃO QUERO ACORDAROnde histórias criam vida. Descubra agora