♠DAMA DE ESPADAS♠

CAPÍTULO 1

Cheguei em casa com a cabeça fervilhando de pensamentos. O dia tinha sido um verdadeiro campo de batalha, repleto de reuniões intermináveis e pressões insuportáveis. A última coisa que eu precisava era de mais estresse, mas a realidade da vida de executivo parecia nunca dar trégua. Ao abrir a porta, fui recebido por um silêncio que parecia denso. A luz suave da sala iluminava o caminho, mas não havia sinais de vida. A casa estava vazia, como a sensação que me acompanhava.

O aroma de um jantar que não seria servido pairava no ar. Eu já esperava por isso, mas ainda assim uma pontada de frustração me atingiu. O relógio na parede marcava quase oito horas. Lívia, minha esposa, deveria estar em casa. Uma vez, eu tinha me acostumado a esperar que ela me recebesse com um sorriso, uma palavra doce ou até mesmo uma provocação. Mas, conforme o tempo passou, a rotina se tornou um peso e a conexão entre nós, um eco distante.

Resolvi subir as escadas, seguindo o som de água correndo e algo mais... um som que parecia ter vida própria. À medida que me aproximava do banheiro, percebi que não estava preparado para o que estava prestes a ver. A porta estava entreaberta, e pude ouvir os gemidos suaves e inebriantes de Lívia, misturados com o gotejar da água.

Senti meu coração disparar. Um turbilhão de emoções se formou no meu peito, entre a curiosidade e a dúvida. O que ela estava fazendo ali? Sem pensar, parei na entrada do banheiro, um impulso me fazendo hesitar. A visão dela, tão vulnerável e entregue ao momento, me prendeu. Ela estava em pé sob o chuveiro, a água escorrendo por seu corpo como se cada gota a libertasse, como se a conexão que eu desejava tivesse renascido ali, sem mim.

— Hmmm, isso é tão bom... — ela murmurou, sem perceber que eu estava tão perto.

Era um som que eu não ouvia há muito tempo. Um desejo imenso se agitou dentro de mim, uma vontade de ser aquele que lhe proporcionava esse prazer, mas a angústia me impediu de agir. A lembrança de nossas noites sem paixão, da distância que se instalara entre nós, tornou-se um peso que me fez hesitar. O que eu deveria fazer? Intervir ou ficar em silêncio, absorvendo aquele momento de intimidade que não era mais meu?

Desci um pouco a cabeça, observando-a. Ela parecia tão livre, tão intensa. O sorriso em seus lábios, mesmo sem saber que eu estava ali, era contagiante. O calor que emanava dela era quase palpável. Se eu fosse tocar naquele momento, teria que quebrar o feitiço que a cercava. Não queria interromper, não queria ser o intruso. Então, permaneci ali, à porta, um espectador do prazer que ela estava experimentando.

— Oh, sim... — Lívia suspirou, a água ainda caindo em cascata sobre ela. — Isso é tudo o que eu precisava...

Suas palavras soaram como um soco em meu estômago. Quem lhe proporcionava esse prazer? Alguém a havia feito sentir-se assim, tão viva e desejada? Um turbilhão de inseguranças me invadiu. O que havia acontecido com o nosso amor? Por que não éramos mais assim? O desejo se misturava com a tristeza, e eu sabia que a imagem dela sob aquele chuveiro era a melhor e a pior coisa que eu poderia ver.

Enquanto continuava observando, fui tomado por um desejo de ser parte daquela cena. Mas a verdade é que eu estava ali apenas como um espectador da felicidade dela, incapaz de intervir. O som do prazer de Lívia ressoava na minha mente, e eu me peguei pensando em como as coisas tinham mudado entre nós. A vida nos empurrou para longe um do outro, e aquele momento foi um lembrete brutal de que o amor não é apenas um sentimento; é uma ação, um compromisso renovado a cada dia.

Um último gemido escapou de seus lábios, e eu sabia que não poderia mais ficar ali. Com um suspiro profundo, voltei para o corredor, decidido a encontrar um jeito de reacender a chama que há muito estava apagada. Se Lívia estava se permitindo sentir prazer de novo, então eu também precisava encontrar a minha própria maneira de voltar a sentir. O que quer que estivesse acontecendo ali, eu não poderia mais ignorar. O tempo estava se esgotando, e era hora de eu lutar pelo que ainda restava de nós.