Embora fosse filho único, Noah possuía primos tanto por parte do pai como por parte da mãe, e mesmo sendo família, as condições de vida deles não se podiam igualar ou até serem dignas de comparação ao modo de vida de Noah enquanto morava com os pais, porque estas eram infinitamente melhores e mais dignas.
Enquanto jovem, conviveu bastante com os primos, claro que sem os pais saberem pois por algum motivo que Noah até hoje desconhecia, ao pais cortaram relações com a família, e esse afastamento foi-lhe impingido à força. Porém tratava de ignorar essa ordem quando estava na rua sem vontade de ir para casa e encontrava-se com eles, retardando ao máximo o seu regresso. De qualquer modo, a sua ausência não era sentida e falta não fazia, mas mesmo assim chegava a hora em que teria que regressar.
Mesmo após sair de casa o contacto com os tios e primos não se perdeu, tanto que chegou a partilhar casa com um deles quando foi para Londres. Quando conseguiu dinheiro suficiente alugou um apartamento modesto em Spitalfields, em East End, onde viveu por dois anos, até conseguir financiar a sua primeira fábrica siderúrgica. Quando começou a acumular a sua fortuna, começou a adquiriu residências de luxo nas imediações de Londres: Mayfair, Oxford e North Kensington, e em zonas mais afastadas da capital: Bath, Luton, Bristol, Yorkshire, e inclusive no País de Gales.
Quanto mais o tempo passava mais dinheiro acumulava, e com ele conseguiu adquirir uma vida repleta de luxos e conforto como era o seu desejo. Os seus quatro primos também tornaram-se bem sucedidos: Theodore e Aaron, primos por parte da mãe, tornaram-se advogados reconhecidos pela honestidade e por serem dos poucos advogados que não eram corruptos que existem no país; já Tristan e Thimothy, primos por parte do pai, tornaram-se administrador de um conde e negociador de obras de arte respetivamente.
Porém o contacto com eles não era muito, pois chegou a um ponto da sua existência em que até os primos conseguiu afastar, mas não por completo, já que eles ainda se importavam mas já não como antigamente. Porém sentia-se num estado de dormência que impedia o seu coração de sentir qualquer dor por isso mesmo, ou até de se importar.
Como é que conseguiu tornar-se alguém desprovido de emoções? Alguém tão insípido e até intragável?
Não tinha resposta para isso.
Para uns a vida sorri, para outros ela chora.
Para Noah, ela chora e grita até hoje.
Confortavelmente sentado na sua carruagem, Lorde Allen tentava não proferir um rosnado furioso por as estradas estarem cobertas de neve, dificultando o andamento do veículo.
Mas será que ninguém sabe limpar a neve das estradas?! Que raiva!
Decidiu fazer o restante do caminho a pé, num modo de não perder mais tempo e para espairecer a cabeça, porém assim que saiu da carruagem sentiu o ar frio bater em cheio no seu rosto.
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A vez de Noah
Historical FictionFoi preciso duvidar da própria sanidade, para Noah finalmente se tornar lúcido. Noah King Allen era um homem solitário e desprezado. Com o passar dos anos conseguiu afastar as poucas pessoas que se importavam com ele, acabando rico, mas soli...