Capítulo 1 - Muita tristeza, pouca alegria

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       Oxford, Inglaterra, Dezembro de 1810

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       Oxford, Inglaterra, Dezembro de 1810

       O passado é infelicidade, o presente é monotonia, o futuro é solidão.

       O mantra que Noah King Allen, um industrial bem sucedido no ramo siderúrgico, repetia para si mesmo nos últimos anos, de repente tornou-se enjoativo.

       Aquela foi a realidade que ele escolheu, aquilo que ele desejava para si mesmo. Era oco e sombrio por dentro, e esperava que, em breve, também se tornasse assim por fora. Era respeitado no meio profissional mas não tinha amigos, a família já não se preocupava com ele minimamente, porém isso foi tudo culpa sua. Ele afastou todos os que ainda pudessem gostar dele com a sua grosseria e menosprezo, tomando como seu maior e principal aliado o dinheiro. Era absurdamente rico e a verdade é que, com o passar dos anos, ele foi o único que não o desiludiu ou apunhalou. O dinheiro não o traía, isso ele constatou com os próprios olhos e a própria experiência, por isso é que lhe dava toda aquela importância exacerbada que por muitos era vista como ganância e avareza.

       Na escuridão do seu escritório, tragando o seu charuto com a postura serena, Noah sentia-se cansado e farto. Farto de tudo o que o rodeava, e tudo piorava com o facto de as malditas festividades do Natal estarem a chegar. Ele sempre odiou aquela época do ano, pois só lhe trazia à memória todo o clima infeliz que os pais não faziam o mínimo esforço para dissipar, nem que fosse por pouco tempo, naquela época em que não havia presentes, não havia visitas da família, não havia carinho ou desejos de um feliz natal, assim como não existia uma única fagulha de ansiedade para a passagem do ano. Mal havia comida na mesa, e isso era o motivo da maioria das discussões dos progenitores, discussões que Noah ouvia e tinha que lidar sozinho, pois nunca teve irmãos:

       "A casa humilde da família Allen, localizada num bairro pobre no subúrbio de Londres, era o ponto de partida para os gritos que os maltrapilhos que moravam por ali ouviam. Todos ignoravam, pois por mais incrível que pudesse parecer, era tragicamente comum aquele cenário, especialmente naquela casa.

       O menino de apenas oito anos, o único filho que aquele casal teve, fugiu para o seu diminuto quarto assim que os primeiros gritos dos progenitores começaram, encolhendo-se a um canto enquanto tapava os ouvidos e escondia a cabeça entre as pernas, para abafar os sons o mais possível.

       Noah até imaginava os motivos: o pouco lucro na loja que a família geria; os ciúmes doentios do pai; as cobranças da mãe; a escassez de comida e aquela que mais feria o seu coração: o quão dispendioso era manter uma criança que não era sequer desejada.

       — Eu já não te posso ouvir, mulher!

       — Ah não? Então porque motivo é que começaste a gritar feito uma harpia?! Hã? Se não querias ouvir não abrisses a merda dessa boca!

A vez de NoahOnde histórias criam vida. Descubra agora