Soltou um palavrão quando viu o líquido laranja escorrer pelo chão e ir de encontro a um CD que por ironia do destino tinha uma foto do seu irmão estampada. Não podia acreditar que por causa de um sorriso tenha se esbarrado em uma estante, derrubando suco em si mesma e no chão. Estava tendo um ótimo dia, na verdade, uma ótima semana e não iria deixar aquele pequeno desastre estragar o seu humor. O que iria fazer era pedir desculpas pelo estrago, pagar por ele e então iria para sua casa, tomar um bom banho, ir para a cama e esquecer sobre esse rapaz bonito e seu maldito sorriso.
No momento já tinha problemas demais para ficar sentindo coisas estranhas e sendo afetada por um desconhecido, esse tipo de coisa era inaceitável e totalmente fora da sua realidade.
- Você está bem?
Soltou um pequeno gritinho ao ouvir uma voz dizer essas três palavras tão perto de si. Ali a alguns passos de distância se encontrava o balconista, continuava a olhá-la de forma intensa, porém em seus lábios já não se encontrava o sorriso de minutos atrás.
- Me desculpe.
Me desculpe? Ele não tinha motivos para pedir desculpa, pelo contrário, se tinha alguém ali que devia um pedido de desculpas era ela, afinal foi ela que derrubou CD's e suco no chão.
- Por lhe assustar. - O rapaz explicou enquanto se aproximava mais. Assim de tão perto podia ver o quão verde os olhos dele eram e todos os sinais em seu rosto e pescoço.
- Oh.
Uma onomatopeia, poderia ter dito ou feito tantas coisas, mas em vez disso tudo que saiu foi um oh. Aquele dia estava passando rapidamente de bom para estranho.
- Você está bem? - Ele repetiu.
Fez que sim com a cabeça, no momento não confiava em si mesma para falar.
- Não precisa se preocupar com a bagunça, acredite em mim já fizeram coisa pior. Uma vez uma garotinha passou sorvete em uma prateleira inteira e depois chorou porque não tinha mais nenhum sorvete para comer, nunca irei esquecer dela jogada no chão enquanto o pai falava para ela parar de chorar que quando saíssem da loja ele lhe compraria dois sorvetes, meio que me lembrou aquela cena do primeiro filme de Harry Potter onde o primo dele faz um escândalo por causa dos presentes de aniversário e você não ouviu uma palavra que eu falei né? - Ele passa a mão no cabelo ao dizer isso, se antes os fios já estavam desarrumados agora ficaram em um estado pior, mas por incrível que pareça isso só fez com ele ficasse mais bonito ainda. Isso era meio injusto, pois se ela saísse por ai totalmente despenteada com certeza o último adjetivo que iriam usar para descrevê-la seria bonita.
- Desculpa.
- Desculpa por não prestar atenção no que eu estava falando ou por ter derrubado suco na minha loja? - O tom de voz dele era divertido, como se não se importasse com nenhuma das duas coisas. Mais uma coisa para adicionar na lista de coisas que ela tinha inveja dele, além dos olhos verdes e do cabelo desarrumado ser um charme a mais.
- Pelos dois? - Assim que falou percebeu que saiu mais como uma pergunta do quê como uma afirmação.
Ele riu e Sabina teve que morder os lábios para não sorrir, pois a risada dele era contagiante.
- Não precisa se desculpar.
- Eu preciso, também preciso pagar pelo prejuízo.
O moreno olhou para o chão em direção aos dois CD's que tinham sido molhados pelo suco.
- Você não...
- Por favor, eu insisto. - O interrompeu antes que terminasse a frase. Abriu a bolsa antes que ele tivesse a chance de negar novamente, retirando rapidamente algumas notas de dentro da carteira. Estendeu o dinheiro na direção dele, mas o gesto foi ignorado pelo rapaz.
- Pelo menos me deixe pegar uma blusa para você.
Definitivamente não estava esperando por aquela resposta. Olhou para baixo com o intuito de conferir sua blusa, por ser preta não dava para ver o estrago, mas podia sentir o tecido molhado roçando em sua pele.
- Você por acaso tem blusas extras escondidas embaixo do caixa só esperando garotas desastradas precisarem delas?
A risada dele preencheu o ambiente e de novo ela tentou esconder o sorriso.
- Não, mas irei anotar isso na lista de sugestões dos clientes.
- Então você pretendia tirar a blusa e me dar? Quanto cavalheirismo. - Uma pitada de ironia acompanhou sua fala.
- Se você queria me ver sem blusa era só falar, não precisava disso tudo.
E novamente mais uma resposta que ela não esperava.
As bochechas deles que já se encontravam vermelhas ficaram mais ainda quando Sabina se aproximou. Estendeu mais uma vez a mão com o dinheiro em direção ao rapaz e dessa vez ele o pegou, seus dedos segurando os dela por mais tempo do que necessário.
- Adeus.
E então virou as costas e saiu, sem olhar para trás em nenhum momento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
contos urridalgo.
Aventurapequenos contos sobre o noah urrea e sabina hidalgo, cada capítulo foi tirado de umas das histórias que posto no twitter.