Cunhadão

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O suor pingou do bigode de Bernardo, brilhando então em seu queixo, e Pedro sentiu uma pontada de nojo. Ele estremeceu, fechando os punhos, e não ousou mexer-se. Os olhos frios de seu cunhado se estreitaram como se estivessem em uma batalha de velho-oeste. Pedro não se surpreenderia se Bernardo tirasse uma pistola do bolso e atirasse nele, mas a cena continuou a se arrastar, e Bernardo continuou parado, apenas encarando Pedro como se ele fosse a última pessoa no mundo que quisesse ver.

Pedro, ainda paralisado, tentou bolar um plano de fuga, mas sabia que devia ter alguém bloqueando a porta por onde havia entrado, e de jeito nenhum conseguiria contornar o brutamontes à sua frente antes de levar três facadas, ou, no mínimo, apanhar tanto que só acordaria no dia seguinte. E se ele tentasse convencer o cunhado com sua lábia?

Quando entreabriu os lábios, Bernardo se aproximou com dois passos largos, então Pedro cerrou a boca. Nada de falar, nada de se mexer. O tictac irritante do relógio da cozinha parecia cada vez mais alto, e cada movimento que acontecia atrás de si parecia ser de uma metralhadora. Era isso... era o seu fim. C'est la vie. Quem diria que roubar 12 gramas de maconha que encontrara na casa da irmã ia dar nisso tudo, não é? Pedro até achava que tinha as manhas da malandragem, mas como poderia saber que Bernardo era um puta chefão desses? Será que iria morrer por meras 12 graminhas de maconha? Nem que fosse, sei lá, metanfetamina, saca?

"Eu conheço um cara-"

Mas foi um erro falar. Bernardo pegou Pedro pelo pescoço e jogou o cunhado contra o chão, xingando-o. O suor daquele bigode nojento pingou no rosto de Pedro, que tentava se debater, e os capangas de Bernardo o ajudaram a imobilizar o garoto.

"Isso é pra tu aprender a ficar esperto", o brutamontes quase rugiu, depois falou um bando de coisas sem noção. Um dos homens de Bernardo socou Pedro com tanta força que ele pensou que fosse desmaiar, mas logo mais recobrou a consciência.

No segundo seguinte, uma sirene pôde ser ouvida se aproximando.

"Porra", Bernardo sussurrou. "Tu chamou alguém, seu filha da pu-"

"Eu não!"

E Pedro não tinha mesmo.

Ele olhou para o lado imediatamente, para onde havia a maior escuridão da casa da irmã em que estava hospedado naquele Natal, e viu, de relance, um brilho fraco. Mesmo zonzo, conseguiu identificar os óculos dela reluzindo contra a meia-luz da sala de estar. Não era para sua irmã estar em casa naquele momento, mas, de alguma forma, ela estava, e ela viu tudo, escondendo-se no escuro.

Graças a Deus, Pedro suspirou, aliviado, finalmente relaxando o corpo contra o chão. Bernardo ainda o pressionava com força, mas não demorou muito para os policiais baterem à porta e a irmã de Pedro tomar coragem para atravessar a sala e abri-la. Todos ficaram perplexos, mas Pedro riu, até mesmo enquanto era levado pelas autoridades para a delegacia.

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A didática do exercício: Escrever uma cena bem lenta e descritiva a partir da premissa de: Bernardo e Pedro brigam até serem levados para a delegacia.

Vão Sentir Minha FaltaOnde histórias criam vida. Descubra agora