O Despertar

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A menina é violentada pelo pai

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A menina é violentada pelo pai.

Calma lá, não eu – a menina. Mas, de certa forma, se eu entregava meu corpo todos os dias para ela, eu deixava que seu pai me violentasse todas as noites por quatro semanas, certo? Ah, sim, foi intenso, foi terrível, e como foi bom. Não a parte de ser violentada, mas de ter o que fazer nas férias de julho.

Minhas amigas todas foram para Porto Seguro, era nosso terceiro ano no ensino médio, mas eu não poderia me importar menos. Naquela época, jurava que jamais iria beber ou usar drogas. A minha versão de hoje, sentada em minha cadeira ergonômica porque tenho uma hérnia de disco e cinco protusões discais já na glória dos meus 22 anos, aqui digitando para quem decida ler esse relato, deu uma gargalhada. Mas não, eu não quis ir para Porto Seguro, e o único ritual de formatura pelo qual passei, além da própria festa de formatura em si pela qual nem paguei, entrei de penetra, comi três crepes e fui embora, foi ter ido ao aeroporto ver o sol nascer na formatura do ensino fundamental. Minha adolescência se resumiu em interpretar papeis, tenha sido lendo livros ou vivendo-os em um palco.

Mas, sim, quando ganhei o papel, me disseram:

A menina é violentada pelo pai, e eu pensei: tudo bem.

Tudo bem?!

Meu pai odiava que eu estudasse a música da personagem em casa, o que era compreensível, mas esse curso de inverno era rápido, o musical seria montado em apenas um mês, então eu precisava treinar minhas partes sempre que pudesse.

"Só não canta no banho, os vizinhos vão ouvir", pediu minha mãe, já que a saída de ar ficava bem no meu banheiro.

"Quando você foi com aquela trança para um dos ensaios, antes da audição, eu já pensei em você para a Martha", disse o nosso diretor.

"Ah, sério?", me fiz de boba.

Eu queria a Martha, queria mesmo, e sabia que ela usava tranças porque seu pai a obrigava. Meu cabelo era ruivo, falso, claro, e batia na cintura naquela época. Eu tinha apenas 16 anos, mas fiz 17 durante o processo, e meus pais tiveram que assinar um termo para me permitir participar do espetáculo. É óbvio que eu fui de trança já com a intenção de ser notada. Tudo e absolutamente tudo que você faz em uma sala de ensaios conta para a sua audição.

Eu cantei três vezes naquele dia. Eles nunca pedem para você cantar de novo!, mas eu cantei três vezes.

Eu jamais contarei...

sobre o escuro que eu sei...

"Faz de novo", a assistente pediu. "Mas tira os óculos dessa vez."

Ah, sim, que burra, óbvio que eu tinha que tirar os óculos antes!

Chega a hora de dormir...

Mamãe só sorri...

Talvez ela nem note...

Talvez não se importe...

Vão Sentir Minha FaltaOnde histórias criam vida. Descubra agora