Capítulo 6

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A ceia foi ótima. Conversamos bastante, meus pais contaram várias histórias de quando eram mais novos e adoraram os trocadilhos do Chat Noir. Todos pareciam satisfeitos, até a hora da sobremesa. Meus pais foram dormir há alguns minutos.

— Chat Noir, você pode ir na frente, eu já vou. — Aponto com a cabeça para a porta.

Ele sai e eu começo a guardar alguns biscoitos de gengibre em um saco para entregar a ele antes dele ir embora. Vou para a sala, mas ele não está lá. Eu não pedi pra ele ir embora, pedi pra ele ir pra sala! Começo a procurar ele pela casa, mas não o acho. Tristemente eu subo as escadas do meu quarto.

— Ah, Tikk... — Congelo quando vejo Chat Noir olhando as fotos do mural. Sua expressão parece um pouco abalada. Entro sem que ele perceba e coloco o saco de doces em cima de uma mesinha. — Ei, tá tudo bem?

— Seu quarto não era cheio de fotos daquele modelo?

— Você também viu?... Sim, ele era... Nesses últimos tempos, não tô criando coisas novas, então tirei elas — Ele fica em silêncio. — Você disse que queria voltar a jogar, certo? Vou buscar os controles.

Desço e os pego, quando volto ele já está sentado em uma das cadeiras, mas ainda está olhando o mural. Me sento na cadeira ao lado e conecto os controles. Começamos a jogar, mas ele está em um ritmo bem mais devagar do que estava hoje mais cedo.

— Chat Noir, tem certeza que tá tudo bem?

— Eu só tô pensando em algumas coisas. — Ele inclina a cabeça. — Você sabe que eu gosto muito da Ladybug, certo? Me lembro de já ter te contado isso.

— Sim, eu lembro.

— Eu sei que ela gosta de um garoto, mas eu achei que um dia a gente ainda poderia ficar juntos. Agora eu sinto que ela realmente tá me rejeitando, sabe? Talvez você não entenda, não consigo pensar em algum garoto que te rejeitaria.

— Não sei se você  lembra, mas você mesmo já me rejeitou — digo com um sorriso tentando não soar grosseira.

— Ah, é... Foi mal por isso. — Ele coloca a mão atrás da cabeça.

— Eu tô de boa. Mas sei do que você tá falando. Também sinto isso.

— Desculpa. — Ele olha para baixo.

— Não tô falando de você. — Ele ergue o rosto com rapidez.

— Não? Então quem é?

— Não posso contar. — Ele se vira.

— Tem muitos garotos no seu mural. — Seus olhos percorrem cada uma das fotos e se voltam para mim.

— Que?

— Tem muitos garotos no seu mural. — Ele aponta. — Deve ser algum deles. — Levanta, vai até o mural, coloca a mão no queixo enquanto olha para as fotos. — É o de cabelo vermelho? — Me olha de soslaio.

— Nathaniel? Não. Por que seria ele?

— Ele já foi akumatizado porque gostava de você — Me encara e dá um sorriso convencido.

— É, mas agora ele gosta muito mais da Ladybug.

— Isso é verdade, preciso ficar de olho. — Se vira e volta a analisar cada uma das imagens a sua frente. — É o de cabelo azul? — Pergunta sem me olhar.

— Luka? Não.

— Hum, ele é o menino que mais aparece nas suas fotos, deve ser ele — diz, lançando um olhar desconfiado.

— Somos bons amigos.

— Ta. — Ainda me olha desconfiado. — E porque você gosta tanto desse garoto?

— Ah, ele é lindo, talentoso, muito gentil... — conforme vou falando, minha voz vai ficando mais leve. Começo a flutuar pensando no Adrien, na nossa vida, juntos, no futuro.

— Ele?

— O Nino? —  quase grito. — Não! Definitivamente não. Até porque, ele é namorado da minha melhor amiga.

— Em murais assim, a pessoa que mais aparece é geralmente o namorado, ou é a pessoa que você gosta. — Sorri brincalhão. — Luka, hum?

— Eu já disse, não é o Luka. — Solto um suspiro e jogo meu corpo na cadeira como se estivesse exausta — Tem muitas garotas atrás dele, mas eu não vou desistir. 

— Você também tem vários garotos atrás de você. — Ele se senta na cadeira com um sorriso doce. — Mais do que você imagina. Ele deveria agradecer por você ainda não ter partido pra outro.

De repente, ele me olha um pouco sério.

— Você não disse que não tava criando nada novo?

— Disse sim, porque?

— E aquilo?

— Ah — Me levanto e vou até a mesa que ele está apontando. —, é o presente do meu avô, eu ainda não terminei de embrulhar. O que acha?

— Não é assim que se faz! — ele imita meu avô. — É bem legal, mas não acha que ele vai preferir algo mais tradicional?

O presente são sapatos marrom escuro de algum modelo novo e eu fiz um avental azul bem claro com pequenos pães bordados no bolso.

— Quando passou a propaganda dele na tevê, meu vô disse que tinha gostado.

Os sapatos já estão na caixa, o avental ainda não. Tudo está em cima de um papel de presente.

— Posso te ajudar a embrulhar?

— Claro.

Afastamos o papel de presente e sentamos em lados opostos da caixa. Enrolo o avental como se fosse um rocambole, amarro e coloco dentro da caixa, ao lado dos sapatos. Começamos a dobrar o papel, o moldando em torno da caixa, prendemos com fitas adesivas. Passamos o laço e amarramos. Olho para ele e vejo que está com vários adesivos colados nas mãos e no rosto. Quanto mais ele tenta tirar, mais grudam em outras partes. Como os que tirou do rosto que agora estão grudados nas mãos. Passo a mão pelo meu rosto para ter certeza que não tem nada grudado.

— Quer ajuda? — digo rindo.

— Quero — responde meio sem jeito.

Com cuidado, para que não grudem em mim, eu tiro os pedaços da fita e amasso fazendo uma bola de várias cores. A bola cai e Chat Noir começa a correr atrás dela, jogando de um lado para o outro.

Ele para e me olha, eu começo a rir e ele fica envergonhado.

— Eu só... ia jogar no lixo, bem aqui.

Ele começa a rir, joga a bola no lixo e senta na cadeira da escrivaninha que estávamos antes. Vou até lá e me sento na cadeira ao lado.

— Mais uma partida?

— Mais uma partida.

Noite de natal - Miraculous LadybugOnde histórias criam vida. Descubra agora