Prólogo

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Hanniel

Anos antes...

— Temos mesmo que ir ? — Meu pai choramingou.

— Sim, nós temos. Sabe disso. — Minha mãe respondeu.

— Não gosto daquela casa, nunca consigo dormir bem lá e me sinto estranho.

— Você fica paranoico. — Ela alertou.

  Estávamos indo visitar meu avô. Ele mora em uma cidade afastada, e em uma casa mais afastada ainda. Ele não tem vizinhos ou pessoas que moram próximos a casa, além dos empregados. Meu avô diz que as pessoas são curiosas demais e que existem coisas que é melhor elas não tentarem descobrir. A única coisa que existe perto da casa é uma floresta no lado oeste e um lago no lado leste, meu pai nunca me deixa entrar na floresta.

— Não acho que seja algo bom para o Hanniel. Podemos ficar hospedados em alguma pousada na cidade. — Meu pai sugere, enquanto mantém os olhos fixos na estrada.

— Não, seu pai vai ficar chateado. O Han vai ficar bem, não se preocupe. — Minha mãe garantiu.

Eu não gostava quando falavam sobre mim como se eu não estivesse ali, mas as vezes eles pareciam realmente esquecer da minha presença. Fiquei olhando pela janela, observando as árvores no auge da primavera e os pássaros cantando. Assim que passamos pelos limites a cidade, senti algo diferente. Eu não comentei pois meus pais me chamariam de maluco ou diriam que é impressão minha, mas eu senti como se atravessasse uma barreira.

A discussão perdurou até que estivéssemos nos portões da casa. Observei a casa a minha frente e entendi o porquê dela causar medo em muitos forasteiros. Era sim um lugar bem cuidado, mas possuía uma aura misteriosa e sombria. Meu pai estacionou o carro e nós descemos, minha mãe segurou minha mão e nos seguimos pelo caminho de cascalhos até a porta alta de madeira escura. Tocaram a campainha e logo ela se abriu, com um rangido agonizante.

— Desculpe, senhores. Temos que passar óleo na porta. — O mordomo nos deu espaço para entrar.

— Tudo bem. Onde está o velho ? — Minha mãe deu uma cotovelada nele. — Aí! Tudo bem, desculpe. Onde está o meu pai ?

— No escritório. Seu irmão está lá também, senhor. — Meu pai confirmou com a cabeça e fomos em direção ao escritório.

  Andamos pelos corredores com o chão de mármore escuro. Até chegarmos perto do escritório, escutamos gritos. Minha mãe me apertou junto a ela.

— Eu não vou morar aqui! — Meu tio gritava. — Eu não vou ficar preso nesse lugar e ser assombrado por aqueles pesadelos! É a forma daquela coisa nos chamar para a floresta!

— Fale baixo! A coisa está presa, seus recursos se limitam a essa propriedade. — Meu avô afirmou. — Enquanto ela estiver naquele lugar, não poderá lhe alcançar de verdade. Você é o filho mais velho, é seu dever ficar no meu lugar.

— Vai a merda. Nem morto eu fico aqui. E o que você tinha na cabeça para chamar o garoto para cá? Tem ideia dos problemas que ele pode causar ? E se ela conseguir ve-lo ?

— Ele ficará na ala mais afastada e no máximo ele vai ter alguns sonhos ruins, nada demais. É só a influência dela pairando por aqui. O garoto só não pode ir até...

  Meu pai abriu as portas e minha mãe me pegou no colo, me retirando daquele lugar. As vozes foram se afastando, mas posso notar que meu pai entrou na conversa.

— Mamãe, não vamos ver o vovô? — Perguntei.

— Não, agora não. Mais tarde iremos nos encontrar. — Eu deitei a cabeça em seu ombro e abracei seu pescoço.

○○○

— Querido, você pode nos chamar se algo acontecer. Não tenha medo. — Minha mãe me abraçou.

— Hanniel, não exite em nos chamar. Principalmente se tiver algum pesadelo. — Estranhei a atitude do meu pai, mas concordei com a cabeça.

— Bons sonhos. — Ele desejaram e saíram do quarto.

  Deitei na cama. Escutei o vento uivando do lado de fora e a luz prateada da lua invadia o espaço. Senti que estava sendo observado. Como se tivesse algo espreitando a casa. Respirei fundo ignorando a sensação. Me envolvi nos cobertores e me entreguei ao sono.

○○○

  Eu estava em um lugar diferente. Era escuro, eu sentia folhas e galhos sob meus pés. A minha frente existia uma ponte que parecia assustadora, mas eu não estava com medo. Do outro lado eu vi um vulto escuro passando. Dei alguns passos para trás e bati contra algo, ou melhor, alguém. Uma mão segurou meu ombro, seus dedos eram pálidos.

— Quem é você? — Perguntei, sem ter coragem de olhar para trás.

  A pessoa sumiu e eu quase cai. Ela apareceu novamente mas agora estava meus afastada e escondida pelas sombras. Eu não conseguia ver quem era ou como era.

— Eles são muito tolos por deixarem você passar a noite aqui. — Sua voz me deu arrepios.

— O que é você?

— Você não entenderia o que eu sou. — Vi suas mãos apoiadas na árvore; mas agora ela tinha garras escuras. — Deveria correr.

— Eu não tenho medo de você. — Afirmei.

  A pessoa se tornou um vulto novamente e eu pulei de susto quando uma parte do meu pijama foi rasgado. Agora, ela não estava nas sombras, mas eu ainda não conseguia ver nada além de suas mãos.

— Deveria ter, criança tola. — a voz baixa e sensual respondeu.

— Vai me machucar? Me matar ? — Perguntei curioso.

A voz riu, me deixando arrepiado.

— Talvez sim. Talvez não. Veremos. — Ela cantarolou. — Você ainda vai ser muito útil.

— O que quer de mim ? — Vi seus olhos aparecerem. Eles eram azuis, um tom frio e lindo de azul.

— No tempo certo você descobrirá. Volte a dormir, criança. Não diga nada a ninguém, ainda não está na hora de nos encontrarmos. — Foi a última coisa que disse antes que desaparecesse.

  Abri meus olhos e encarei os raios de sol entrando pela janela. Foi um sonho, apenas um sonho. Olhei para a manga do meu pijama e uma delas estava realmente rasgada, mas...Talvez não tenha só um sonho. O que aconteceu ?

🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤

Bem vindos a nova história.  O que acharam ?

 

My Dark Queen Onde histórias criam vida. Descubra agora