Dia 1
— Kusakabe?! — Sajou abriu a porta. Seus olhos estavam arregalados. Ele segurava o próprio celular nas mãos, ainda com a minha chamada conectada. A tela brilhante era a única fonte de luz porque toda a casa estava escura. — São duas da manhã.
— Desculpe.
Lá estava eu. Molhado, com o olhar baixo na porta de Sajou. Com a mochila nas costas e minha moto mal estacionada no seu quintal.
— Eu…— você pegou chuva? — ele perguntou, eu assenti. — ah! — gemeu aborrecido acendendo as luzes ao nosso redor.
Eu entrei e tirei meus tênis e meias, estavam úmidos. Coloquei eles do lado dos guarda-chuvas. Rihito parecia tão abismado em me ver ali que me sentia um idiota. Ele vestia calças de pijamas e uma blusa com botões, por cima tinha um roupão enorme, que ele me deu e disse pra eu tirar minhas roupas molhadas.
Sajou foi esquentar água pra me fazer um chá enquanto eu tirava cada peça devagar, estavam molhadas e incomodas no meu corpo. Eu não sabia onde colocar, na verdade. Talvez… perto dos sapatos? Resolvi deixar encima do meus tênis para pegar depois e secar. Enrolei seu roupão no meu corpo, estava quente… será que ele estava dormindo com isso? Era confortável.
Andei devagar para a cozinha. Ele pegava copos e separava ervas. A cozinha tinha muito louça suja na pia, bem como eu tinha imaginado. Sua casa era um caus quando ele tinha provas semestrais.
— Sajou… — chamei. Estava com medo de dizer "Rihito".
Ele estava apático, quase bravo. Não olhava pra mim. Meu corpo doía. Andei de moto por quatrocentos quilômetros parando só pra comer ou ir ao banheiro. Era uma viagem cansativa e cara. Vários pedágios pelo caminho além da gasolina e comida. E andar de moto por tanto tempo não era exatamente confortável, mas ir de trem era uma fortuna que não tinha como pagar.
— Você está... irritado?
Ele só suspirou e colocou a erva na água quente. Olhou pra mim parado embaixo o batente da porta e perguntou:
— Porque eu estaria?
-
O quarto dele estava escuro. Liguei a luz e vi o chão bagunçado. Com papéis e livros espalhados por todo o canto e no meio um futon desarrumado no qual ele dormia. Nunca tinha visto a casa dele assim, era estranho. Sajou sempre era organizado. Como eu pensava, ele deve estar sem tempo pra cuidar da própria casa.Abri seu guarda-roupa. Subi pra pegar uma toalha só que não tinha nenhuma. Eu sabia que elas ficavam por aqui, ele sempre tirava elas desse armário, mas não estava achando. Só tinha casacos pendurados nos cabides e sapatos meticulosamente alinhados. Namorados normalmente sabem onde as coisas um do outro ficam, mas eu não fazia ideia.
Ouvi seus passos subindo a escada. Ele logo apareceu na porta, se aproximou e abriu uma gaveta tirando uma toalha e dando na minha mão. Estava bem debaixo do meu nariz.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Hitotema - Uma vez
Romance"Fazia um ano que eu e Sajou vivíamos em cidades diferentes. Ainda era estranho pra mim. Quando ele foi embora eu tinha certeza que eu não aguentaria, mas aí se passou um mês depois, dois meses, depois um ano inteiro. Eu já vim visitar ele, uma, dua...