lado A

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[17:21]

As cinco sempre foi o horário de mais movimento no restaurante e consequentemente de mais estresse. Meu chefe fez uma reforma para comportar mais gente nesses horários de pico, mas só esqueceu de contratar mais funcionários. (O que não é nada surpreendente, já que ele é um unha-de-fome.) A chapa ficava ligada na maior potência e todo mundo na cozinha suava bicas. Toda hora tinha mais pedidos chegando e por isso é sempre mais carne no fogo e mais água no macarrão. 

— KUSAKABE! — meu chefe gritou. — VAI ENTREGAR ESSES PEDIDOS NA MESA SETE! DEIXE A CHAPA COM O KURAMA!

— SIM, SENHOR! — respondi com outro grito, porque essa é a única forma de se comunicar na cozinha.

Larguei a chapa com carnes e ovos que fritavam a todo vapor e fui entregar os pedidos. Era sempre assim, quando faltava gente para servir ou anotar os pedidos, era Kusakabe que resolvia. Quando precisavam de alguém pra olhar a chapa, era Kusakabe que resolvia. Quando algum pirralho derrubava o copo de água na mesa, era Kusakabe que resolvia. Quando o banheiro entupia no meio do expediente, era infelizmente o Kusakabe que resolvia.

Eu era um quebra-galho, não era um cozinheiro ou nada do tipo. Estava ali pra ajudar no que faltava, mas eu tenho certeza que sou explorado nesse trabalho. Era o que menos ganhava e o que mais trabalhava.

[18:45]

Meus pés doíam de tanto ficar em pé. Eu tinha voltado pro fogão e já estava aqui há um tempão. Fritava ovo após de ovo e hambúrguer após de hambúrguer. Com certeza meu cabelo ia feder óleo por uns dois dias. Essa com certeza era a pior parte… o cheiro da comida gruda em você. Eu vou ter que lavar bem já que Rihito está chegando hoje…. Rihito está chegando hoje! Finalmente ele veio pra Tóquio desde o início do ano. Ah meus deus! Eu posso cair duro no chão agora mesmo. Estou tão ansioso...

Desde que ele me disse que viria não pensava em qualquer outra coisa. Está bem, não é o melhor cenário possível. Ele veio pra ver a mãe com câncer e, só veio, por que sua casa está em reforma. Eu não era exatamente sua prioridade, mas estava bem com isso. Ele disse que ficaria na minha casa uns dias e isso já era bom o bastante.

Olhei para relógio dá cozinha e...

— DEZOITO E QUARENTENA E OITO? — exclamei. Meu expediente já acabou há quase vinte minutos! O que eu estou fazendo aqui? Estava tão concentrado na porra da chapa e esqueci de olhar o relógio. Larguei as espátulas e fui em direção ao meu chefe. — Senhor, meu horário já acabou há 20 minutos!

— então o que você está fazendo aqui? — ele franziu as sobrancelhas cheias de rugas. Talvez seja assim por causa de anos fritando batatas no óleo quente. — Vá pra casa e na quarta-feira que vêm chegue no horário certo.

Eu assenti e saí apressado da cozinha, correndo para o vestiário. Tirei meu avental e minha toca antes de abrir meu armário. Puxei minha mochila e procurei meu celular. O trem de Rihito chegava às 18h30. Ele disse que me avisaria. Aguardava o dia todo pra isso.

Hitotema - Uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora