Capítulo 1: Prólogo

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Prólogo

"No princípio foram criados os céus e a Terra. A terra era sem forma e vazia, havia trevas sobre a face do abismo, mas o espírito pairava sobre a face das águas, e foi a muito tempo, muito antes das bombas e doenças se juntarem as trevas, e começarmos a caminhar lado a lado junto a dimensão dos mortos..."

 Com os olhos fechados tomados pelo cansaço pequenos raios de luz lutam para entrar em suas pálpebras, o silêncio da noite contém estalos de madeira sendo queimados e gritos suplicantes dos necro-mortos, apesar do clima mórbido que se alastrava pela manhã, ela não se encontrava tomada pelo medo, como se aquilo já fizesse parte de sua vida, e de alguma forma fazia.

 Mesmo com os olhos fechados, a garota sentia a pequena e gelada mão de Elijah tocando seu rosto, ele estava deitado parcialmente em cima dela, mesmo a cama sendo grande ele fazia questão de se aproximar para se sentir protegido. Com coragem abre os olhos se levantando cuidadosamente em direção a janela, o fogo ardente e mortal toma conta da floresta que rodeia a casa, é normal nessa época do ano ter queimadas, pois o mundo aqueceu demais e esfriou demais, mas isso não há assusta, ela viveu bastante tempo na superfície para saber o que tem e o que não tem medo; o que á assusta é saber que a claridade e o barulho atraía vários Berrugos e uma horda de necróticos. Respirou fundo, soltando um pequeno gemido.

"Calma Murphy, está tudo sobre controle", pensou.

 Mesmo sabendo que não estava, ela precisava de um golpe de esperança, mas no fim sempre sabia que algo não iria acabar bem.

 Em sua infância ela sempre ouvia histórias de um mundo diferente, sobre uma Terra antes da escuridão, seu pai lhe contava que as praias continham areias claras e a água do mar eram tão azuis que não sabia ao certo quando o mar terminava e o azul do céu começava. Claro que atualmente nada disso é como antes, depois da grande explosão-atemporal as areias se tornaram escuras, as águas do mar viraram alcatrão, ficando tão densas e poluídas que qualquer peixe ou algo do tipo não conseguisse sobreviver nelas, se tornando escuras também.

 E isso não só ocorreu nos litorais, as grandes e pequenas cidades sucumbiram à explosão deixando os mortos comandarem a dimensão dos vivos. Murphy não entendia como isso podia ser possível. Um dia tudo estava bem e no outro a terra se colapsou em duas dimensões, de certa forma ela não poderia entender, foi a tanto tempo que nem o pai de seu pai havia sequer nascido.

 Murphy se desloca rapidamente até o banheiro que ficava no mesmo andar do quarto, quase um de frente para o outro, assim podendo observar enquanto seu irmão dormia, mesmo pisando nas bagunças que continha no chão, Murphy tomava um certo cuidado para não esmagar as fotografia de uma família que um dia morou ali. Mesmo não parecendo ela era muito sentimental. Se aproximou da banheira se abaixando logo em seguida, após alguns minutos abrindo e fechando inúmeras bolsas, pegou uma pistola dentro de uma delas, foi com aquela arma que seu pai lhe ensinou a atirar, como também ensinou a guardar as bolsas dentro da banheira pois era o lugar mais seguro de qualquer casa.

 Uma pequena e rechonchuda sombra se aproxima em meio a escuridão do corredor, parando no rumo da porta, pelo seu porte meramente baixo e cabelo castanho se perdendo em pequenos cachos, só podia ser EJ que havia acabado de acordar de um sono pesado e gostoso, os traços de lençol em sua bochecha não negavam.

— O que houve? — ele pergunta com a voz baixa esfregando várias vezes os olhos. — Você está com dor de barriga?

 Murphy se levanta seguindo em direção a janela parcialmente quebrada do banheiro, assim podendo visualizar melhor a movimentação do lado de fora. O fogo se alastra mais e mais em direção à casa - diversas criaturas tomam conta dos arredores do local. Os rostos, os olhos, as vozes, tudo perdido em morte; necrosando aos poucos conforme o tempo passa, é estranho pensar que um dia aquelas criaturas foram seres humanos. De olhos cerrados fez um esforço para observar o sol nascendo aos poucos no horizonte, pelo visto não havia mortos naquela direção.

 Ela volta a atenção a EJ.

— Eu não estou com dor de barriga. — ela diz abrindo o cartucho da arma, percebendo que contêm apenas cinco balas.

"Merda!", ela sussurrou, quase sem perceber. Por estranho que parecesse, Murphy sempre procura não falar palavrões perto de EJ, pelo fato de ele ser muito pequeno é capaz de ficar imitando tudo que ela disser.

 Ele a olha assustado sem compreender o que estava acontecendo, Murphy o entende pois quando tinha sua idade vivia sozinha, tendo que sobreviver contra os mortos e pessoas más, cinco anos não é uma idade fácil para descobrir que o mundo é uma zona de sobrevivência sem ao menos saber o que é sobrevivência. Ela se aproxima de seu irmão com um leve sorriso, erguendo uma das mãos e o tocando no rosto, ficando frente a frente com seus olhos castanhos e fundo.

 Antes que possa dizer algo, um pequeno estalo ecoou vindo da direita, a direção da escada - depois outro e mais outro, algo está subindo as escadas, mas o que será?

— Murphy... — EJ que já posicionado atrás de Murphy, sussurra seu nome aos prantos.

— Está tudo bem, pode ser o Aiden, talvez ele chegou cedo da caça - Aiden era um Modificador, os modificadores são animais altamente modificados para sobreviver na necrose, e Aiden era um deles.

 A garota permaneceu parada, grudada no lugar enquanto silenciava tudo ao seu redor, a não ser pelos gritos abafados dos necróticos vindo do lado de fora. Surgindo uma grande vontade de perguntar a qualquer que seja "Quem está ai?", o que em seu pensamentos era no mínimo ridículo, pois necróticos não falavam. A criatura parou um instante depois de subir o último degrau, dava para escutar o ranger dos dentes, os ossos estalando. Murphy já matou vários necróticos, mas toda vez ela sente o mesmo frio na barriga que sentiu na primeira vez. A criatura volta a caminhar entrando lentamente pela porta do banheiro. Ela congelou, dominada pelo medo, seu irmão assustado puxa várias vezes a blusa de tecido fino que ela usava, Murphy e EJ estavam usando roupas leves, pijamas, ela achou que a invasão não iria acontecer tão cedo então não precisavam se preocupar com roupas pesadas durante o sono. Pelo visto falhou drasticamente.

 Antes que Murphy possa reagir o morto avança em sua direção, desembestado em cima dela fazendo ela se concentrar para não cair em cima de Elijah que permanece paralisado. A menina faz sinal para que seu irmão corra para o outro quarto, sem hesitar ele deixa o banheiro, se trancando no cômodo, outro necro-morto aparece mas desta vez sem prestar atenção em Murphy, ele tenta ir atrás de EJ.

 De onde será que eles saíram ?

 Será que Murphy deixou a porta aberta ?

 A figura já derrubará Murphy no chão, a fazendo bater as costas no vaso, com o impacto o objeto se partiu ao meio, rasgando em vários lugares sua pele. Derrubando seu agressor e o golpeando várias vezes na cabeça, Murphy se lembra da pistola que tinha em mãos a uns minutos atrás, ela corre o olhar por todo o banheiro até avistar o objeto embaixo da pia, empurrando a criatura com toda a força ela se afasta até a arma. Os dentes do morto batiam em desespero, como se não comece a anos, sentindo por fim uma imensa dor em seu pescoço. Murphy gritou, a ferida que jorrava sangue se fechou por segundos, o sangue preto e grosso da garota tingia as roupas claras num tom vermelho escuro. Por fim alcançou a arma que tanto desejava, depositando um único tiro no crânio putrificado do morto. Finalmente, o necrótico caiu para trás; a luta já havia acabado, Murphy respirava fundo tentando aos poucos se levantar do chão, erguendo sua mão até o pescoço tocou na mordida, mesmo a ferida parcialmente fechada ela ainda doía, doía como se arrancasse todo o músculo do pescoço e colocassem de volta.

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A lei de Murphy - O labirinto do arquitetoOnde histórias criam vida. Descubra agora