Por favor me pare. Me amarre se preciso. Me prenda dentro de casa com grades na janela. Corte a internet e qualquer outro meio de comunicação possível. Tranque as portas, não deixe ninguém me ouvir. Não deixe que ouçam minhas lamúrias, meus clamores, não deixe que padeçam de mim ao me ouvir gritar seu nome. Mande me prender, mande chamar minha mãe. Se preciso me deixe largado em uma ilha deserta, e se assegure de que não existe forma possível pra que eu saia, ou eu sairei. Enfrentarei noites frias, e tardes quentes. Venceria predadores, e atravessaria o mar aberto no braço se necessário fosse. Então não me deixe com um coração batendo, pois enquanto ele bater, cada tum é dela. Mate-me então, e me enterre sete palmos abaixo da terra, torça pra que seja só meu âmago que vive por ela, pra que meu espírito mesmo desencarnado não rasteje de meu túmulo esperando por ela. Se esse caso for, chame um pai de santo, um padre, um pastor, um pajé, mas por favor me pare. Me amarre se preciso. Me prenda dentro de casa com grades na janela. Mas por favor, não me deixe voltar pra ela.
-M.
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Fragmentos
PoetryDurante a quarentena cada um de nós teve que encontrar uma forma de sobreviver, Fragmentos foi a forma que eu encontrei de fazer isso. Fragmentos é uma coletânea de poemas e prosas poéticas sobre cura e se reecontrar.
