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*Flashback on.
- O papai Noel lê minha carta se for escrita de caneta rosa, né? - Perguntei deitada sobre o tapete da sala com a carta e a caneta em mãos.
- É claro que sim. - Minha mãe respondeu enquanto pendurava nossas meias sobre a lareira.
Sorri ao ouvir sua resposta e comecei a escrever minha carta. Naquele ano, eu não pedi um presente, um brinquedo ou um bichinho, eu pedi algo diferente. Eu pedi algo que não era para mim, e torcia para que se realizasse mesmo assim.
Quando terminei de escrever a carta, coloquei-a dentro da minha meia e sorri animada para minha mãe que afagou meus cabelos com sua mão delicada.
- Parece animada com seu pedido para esse ano. - Ela falou com um sorriso.
- Estou. - Assentiu.
- Espero que não tenha pedido nada caro para não abusar do bom velhinho. - Meu pai apareceu na sala de repente.
- Não. O que eu pedi não é caro, eu acho. - Olhei para baixo. Eu realmente não havia pensado naquilo.
- Tudo bem, agora vai escovar os dentes e caminha. - Minha mãe tocou meu nariz.
- Ta bom. - Assenti. - Boa noite. - Falei para os dois e antes de sair da sala, olhei para minha meia novamente. Eu queria tanto que o meu pedido se realizasse.
" Querido papai Noel, eu costumo pedir brinquedos no natal, mas esse ano eu quero algo diferente. O senhor, por acaso, conhece o Luke? Ele é um menino que estuda comigo e é muito meu amigo. Talvez ele não tenha sido um bom menino esse ano, porque ele irrita todo mundo, mas ele é uma boa pessoa, eu juro! Hoje ele me disse que ouviu os pais dele dizerem que não vão ter dinheiro para fazer uma ceia de Natal, e muito menos pra comprar um presente pra ele. Então o meu pedido esse ano é que o senhor cuide do Luke para que ele tenha um Natal bom como eu sempre tenho.
Ass: Anne Wilson. "
...
E naquele natal, meus pais convidaram a família de Luke para ceiar conosco. Ele ganhou brinquedos assim como eu e tivemos um natal muito divertido.
*
*
*Olhei para Luke que comia a comida que ele havia feito enquanto assistia televisão e sorri notando que quem havia proporcionado tudo aquilo haviam sido meus pais.
Abaixei minha cabeça sentindo a saudade bater e Luke logo olhou para mim.
- O que foi? A comida ta ruim? - Ele perguntou.
- Não. - Balancei a cabeça e olhei para frente tentando não deixar as lágrimas já presentes caírem. Eu odiava, mas meus olhos já se enchiam d'água sempre que eu me lembrava deles. - É só saudade.
Luke entendeu o que eu quis dizer e se aproximou.
- Ah bom, porque se fosse falar mal da minha comida... - Ele falou num tom de deboche e eu lhe dei outro tapa no braço. - To brincando. Eu sei o quanto sente falta deles. - Ele apoiou a cabeça no meu ombro. - Sei como eles eram especiais e como você os amava. - O mesmo voltou a olhar para mim. - Mas também sei que eles te amavam muito e que gostariam que fosse feliz. Pode chorar o quanto precisar, meu ombro estará sempre aqui. Mas não se esqueça de sorrir depois.
Eu era grata por tê-lo. Era grata pela vida ter me dado um irmão de outra mãe. Era grata por não estar sozinha naqueles momentos.
Luke me deixou apoiar a cabeça em seu ombro e ali eu chorei. Deixei a saudade que apertava meu peito sair através das lágrimas e desmoronei.
As vezes eu sentia que precisava fazer aquilo para não prender nada dentro de mim. E no fim, eu me sentia mais leve. A falta deles dois ainda existia, mas uma paz de que eles estavam num lugar melhor e que cuidavam de mim de lá me possuía.
[...]
- Por isso eu vou na casa dela ai ai... - Acordei ouvindo Júlia cantarolar pelo meu quarto. - Ai eu só queria um Felipe.
- Deu pra falar sozinha? - Minha voz saiu falha.
- Bom dia! - Ela sorriu.
- Quem é Felipe? - Perguntei confusa.
- Meu crush literário. - Ela respondeu. - Pronta para correr? - Júlia balançou os moletons e eu fiz uma careta.
- Aiin não! - Resmunguei me cobrindo completamente com a coberta.
- Ah Anne! Ta um dia tão lindo lá fora! - Ela tirou a coberta do meu rosto e eu olhei pela janela vendo tudo branco, exatamente como todos os dias anteriores. Fiz outra careta para ela e ela se sentou na beira da minha cama. - Não me olha com deboche não porque eu não to acostumada com dias branquinhos por neve não tá!
Ri da mesma e estiquei meus braços.
- Não são cinco da manhã não, né?
- Não. - Ela riu. - É mais tarde.
- Que horas você chegou ontem que eu nem vi? - Me sentei na cama.
- Não era nem onze horas! Quando cheguei você já estava na cama dormindo. O Luke não veio aqui não?? Eu pedi praquele palhaço vir ficar com você. - Ela balançou a cabeça negativamente.
- Não, ele veio. Mas eu... espera, na cama? Eu estava na cama quando você chegou? - Ela assentiu. - Eu dormi na sala. Eu e Luke estávamos vendo um filme e eu dormi lá, não vim pra cama.
- Ou você é sonâmbula ou o Luke te trouxe pra cá, o que é mais provável, porque quando eu cheguei ele já tinha ido. Pensei até que ele não tinha vindo.
- Ele veio. Fez o jantar e me irritou o máximo que pôde, como ele sempre faz. - Me levantei da cama e notei que Thor não estava ali no quarto. - Cadê o Thor?
- Ta comendo.
- Já deu comida pra ele??
- Já, agora vamos porque eu estou animada! - Júlia saiu do quarto com um sorriso enorme.
- Que bom humor em! Tem algo haver com o tal Oliver ou você está simplesmente feliz consigo mesma? - Perguntei enquanto ela cantarolava na direção da cozinha.
- Um pouco dos dois. - Ela respondeu. - Mas depois eu conto melhor com mais detalhes.
- Se você não esquecer...
- Não me insulta. - Ela falou me fazendo rir.
Naquela manhã, depois de tomar o café da manhã, eu e Júlia fomos fazer a nossa corrida. Corremos até eu pedir socorro porque estava com cãibra.
Depois que voltamos, eu tomei um banho, me arrumei e desci para abrir a livraria. Minhas pernas estavam doloridas, o que me fazia andar letamente e ainda por cima, mancando.
Júlia teve que resolver algo na cidade vizinha sobre o seu campeonato de artes marciais e por isso saiu assim que abri a livraria.
- Bom dia! - Falei quando ouvi o som da porta se abrir, mas nem vi quem era. Estava abaixada pegando a caneta que havia derrubado.
- Bom dia. - Ouvi uma voz feminina e olhei para a porta vendo uma garota de cabelos claros que eu nunca tinha visto.
- Posso ajuda-la? - Perguntei de trás do balcão enquanto a mesma analisava o local.
- Não não, eu não quero atrapalhar. É que minhas amigas falavam tanto desse lugar que eu resolvi vir visitar. Posso dar uma olhada nos livros? - Ela perguntou com um sorriso simpático.
- Claro! Fique a vontade. - Sorri de volta.
- Obrigada. - A garota começou a olhar as estantes de livros. - Ai romance... - Ela sorriu para mim de novo. - Eu sou apaixonada por romance.
- Eu entendo bem. - Nós duas rimos e a porta se abriu de novo, só que dessa vez era Luke. - Você demorou hoje. - Falei num tom debochado para ele que entrava.
- Eu sei, o Steven me enrolou todo hoj... - Luke parou de falar quando viu a garota. Ele simplesmente paralisou.
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Continua...
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Um Café, Um Livro E Um Amor ( A Garota Da Livraria )
RomanceEm uma livraria pequena e aconchegante localizada em Deadwood, Dakota do Sul, uma jovem de 20 anos, apaixonada por leitura e apreciadora de arte, trabalha para manter o local que herdou de seus falecidos pais. A mesma vive uma incansável rotina mo...