José Contas estava sentado na pequena mesa de sua cozinha tomando café quando ouviu alguém bater na porta, reparou logo pelo padrão de batida que do lado de fora estava alguém do Escritório de Policiamento. Muitos dos costumes do ambiente militar eram carregadas para a vida social dos servidores da Lei, a batida de porta era uma delas, era a forma de pedir permissão para entrar no escritório de seu superior, então precisava ser uma batida ordenada, sem pressa, mas com batidas firmes para serem ouvidas por cima de alguma eventual conversa. Devia ser algo urgente para virem buscá-lo em casa, nos arredores da catedral e não em seu escritório, no distrito comercial.
Olhou para o relógio na parede, 6:20, não tinha nem terminado seu 2° sanduíche de pão torrado e ovo frito. Terminou de beber o café de uma vez só, quase queimando a garganta no processo e foi abrir a porta para quem quer que estivesse do outro lado. Geralmente segurava uma arma quando abria porta para estranhos, mas hoje o seu sanduíche mordido teria que servir.
Era de fato um guarda policial, mas não esperava que um cabriolé pintado de azul claro com detalhes dourados estivesse esperando também. O homem de sobretudo azul escuro fechado com vários botões a sua frente estava com o punho erguido para bater na porta mais uma vez, quase acertou Zé, mas puxou sua mão antes disso, o detetive particular desviou para trás mesmo assim.
"Desculpa interromper o seu desjejum, senhor. Mas o assassinato foi em uma das principais ruas da Cidade Velha, querem tirar logo o corpo de lá, mas para isso precisam de um detetive na cena do crime."
"Tudo bem." Ele responde, já caminhando para a cabine, bufando antes de terminar de comer seu sanduíche.
Após entrar e se sentar José tirou seu chapéu e paletó e os pendurou no gancho posicionado na parede oposta à porta.
"Então, o que tem pra mim?" Zé indaga o jovem cabo enquanto apoiava seus cotovelos nas pernas e juntava as mãos.
"Hm? Ah, sim! Claro." O menino tirou um bloco de notas de arame e começa a ler seu conteúdo. "A vítima é um cocheiro, aparenta ser jovem, caucasiano, seu corpo foi encontrado ao lado de sua locomotiva com uma flecha cravada na testa, a flecha não fez ferimento de saída, o que indica que ela foi disparada de uma besta de mão, não há sinais de luta, o crime foi descoberto por uma patrulha fazendo sua última ronda antes de terminar o turno, isso foi 5:30, o legista determinou que a hora da morte foi entre 4:40 e 5:10. Já engrossamos o contingente policial na região para prender qualquer suspeito.
Zé tira seu bloco de anotações do bolso do paletó e começa anotar suas próprias conclusões. Com certeza o crime tinha sido premeditado, nenhum bandido andaria com uma besta de mão em busca de um trouxa para roubar, esse tipo de arma te nega um contra-ataque, quem disparou tinha certeza absoluta de que não erraria o primeiro disparo. Escreveu "premeditado" em caixa alta no papel, embaixo escreveu "Latrocínio?". Teria que analisar o corpo para verificar isso. Menor e mais abaixo escreveu "Vingança?", mas essa possibilidade parecia distante, crimes de vingança são emotivos, dificilmente eram planejados como esse parecia ser. O que contrariava a teoria de crime planejado era que cocheiros andam pela cidade em rotas aleatórias. Teria que descobrir se a vítima tinha uma rota fixa nesse horário, ou se sua condução foi seguida.
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As Ruas da Vida
ActionJosé Contas é um Detetive Particular de meia idade. Não conseguiu ficar longe da ação policial após se aposentar da Guarda Real de Ventobravo, capital da Aliança. O mundo vive em paz, mas Zé sabe que naquela metrópole "Paz" só existia para nobres e...