Eu não pertenço a você

Heather Griffin

Heather Griffin

- Espero que tenha feito sua mala direito, para não esquecer nada.- minha mãe diz em tom alto adentrando meu quarto e sem nem perguntar, abre a janela.
Resmunguei e cobri meu rosto com o edredom, está aí, algo do qual não sentirei saudades. Finalmente terei minha tão sonhada privacidade.
- Sério?- suspirei frustrada.- Precisava mesmo disso, agora?
- Deve me agradecer, caso contrário perderá o seu voo.
- maldita hora que fui pegar o voo da manhã.- bufei e retirei o cobertor que cobria meu rosto.
- estamos te esperando para tomar café, não demore.- minha mãe se aproxima e deposita um beijo em minha testa.
Juntei minhas forças e me levantei da cama. Segui em direção ao banheiro, me despi e adentrei o chuveiro. Eu sonhei tanto com esse dia, conquistar minha independência, algo que sempre almejei. Minha família sempre teve dinheiro, porém eu nunca gostei de ser tão dependente.
Assim que completei meus dezesseis anos meu pai me contratou como jovem aprendiz, não vá pensando que por eu ser filha do dono eu podia chegar o horário que quisesse ou fazer o que bem entendesse. Eu tinha responsabilidades como qualquer um lá dentro, e isso só me impulsionou.
Mesmo sem uma vaga fixa busquei demonstrar que eu merecia essa chance de fazer parte da empresa. E foi o que aconteceu, me destaquei muito naquele lugar. Foi quando decidi que queria levar isso para a minha vida. Porém não me via morando em Ohio para sempre e meu pai me apoiou por completo.
Decidi que me mudaria para Nova Iorque e começaria de lá. Em uma filial da empresa do meu pai, porém em um acordo com ele diminui minha carga horária para que assim conciliasse com a minha faculdade. Não fui a favor disso, porém já estava decidido.
- a Serena está aqui querida.- minha mãe gritou do andar de baixo.
- já estou descendo.
    Sai do banheiro e segui até o Closet, me troquei e logo desci. Minhas malas estavam todas no andar de baixo, caminhei até a cozinha onde Serena conversava com meus pais.
- bom dia amiga.- disse abraçando a mesma.- falei para a gente se encontrar no aeroporto...
- bom dia.- ela retribui o abraço e ri.- não resisti.
- onde está meu irmão?- indaguei notando sua ausência.
- ele teve imprevistos na empresa, mas já está vindo. Chegará a tempo de se despedir.- meu pai me tranquiliza.
- venham, vamos tomar um café para não viajarem com fome.
- eu não estou com fome... você está Serena?- perguntei implorando com o olhar que ela dissesse que não.
- eu vou ter que aceitar o último café da manhã da Ruth.- Serena diz piscando para a cozinheira de casa, que sorri envergonhada.
- não venham com essa de último café.- Nancy, minha mãe balança a cabeça negativamente.
- foi apenas modo de falar Nancy.- Serena abraça minha mãe.- voltaremos sempre que der.
    Tomávamos nosso café, enquanto conversávamos. Já estávamos terminando quando ouvimos o carro do meu irmão estacionar em casa, Serena me fitou com o olhar e não segurou o riso. Balancei a cabeça negativamente e foquei em terminar meu café.
- bom dia família. E Serena.- ele sorri e vem até o meu lado me dar um beijo no rosto, fazendo o mesmo com a Serena e minha mãe.
- qual é, sou praticamente da família.
- terei que concordar, já que vive em casa.- meu irmão a provoca.
- fique tranquilo, não me verá aqui durante um bom tempo.
- nunca reclamei, você quem entendeu errado.- ele dá de ombros.- mas então, vamos despachar essas duas quando?
- agora.- disse e me levantei.- pronta Serena?
- vim de carona com a minha mãe, minhas malas estão na sala.
- vou pedir para o Joseph colocá-las no nosso carro.- Charles, meu pai se levanta e segue até a entrada.
Após colocar todas as malas no carro, seguimos viagem até o aeroporto.
- não pensa em sair de Ohio, Nolan?- Serena indaga do banco de trás do carro do meu irmão.- afinal, nada mais te prende aqui...
Ela não soltou essa.
- tem razão.- meu irmão suspira e leva as mãos ao cabelo, balançando o mesmo para o lado.- mas tenho assuntos pendentes aqui.
Quem sabe um dia me mude para perto da minha irmãzinha.
- nem pensar, olha eu te amo. Mas não quero ninguém me enchendo, justamente por esse motivo estou me mudando.- sorri delicada para o meu irmão e foquei minha atenção na avenida.
- quando foi que te enchi? ambos sabemos que comigo tudo fica mais divertido.- Nolan segura minha nuca e me puxa para um abraço desengonçado e um beijo no topo da cabeça.
- mesmo que eu tenha que concordar com isso... estarei bem morando sozinha.
- vizinhos?- ele insiste me encarando firmemente.
- só dirige Nolan.- sorri.
Eu e Nolan sempre tivemos um relacionamento muito forte, era raro nos ver brigando. No máximo essas discussões bobas, mas sei que independente do problema posso contar com ele. Nolan sempre fez e continua fazendo de tudo para me proteger e me defender.
- vai sentir minha falta, estou sentindo.- ele abre um meio sorriso.
- pode ter certeza, vou chorar todos os dias.
- eu sei que sim.- meu irmão revira os olhos e estaciona em frente ao aeroporto.- vamos garotas.
Pegamos as malas e com ajuda de alguns carrinhos carregamos as mesma até o lugar onde se faz o check-in.
- quero um abraço.- minha mãe abre os braços e sorri.
- nem pense em chorar.- disse perto de seu ouvido, retribuindo seu abraço apertado.
- Tchau pai.- disse abraçando o mesmo.
- Tchau filha, a gente vai conversando. Você já conhece todos daquele departamento, espero que se adapte bem. E quero que me fale se sentir que está muito pesado para você conciliar as duas coisas.
- fique tranquilo pai, sou plenamente capaz de cuidar de tudo.- sorri.
- sei que é.- ele retira meu cabelo do rosto o colocando atrás da orelha.- tenho muito orgulho de você.
- obrigada pai.- abracei ele novamente.
- eu ganho abraço também?- Nolan me encara com os braços abertos, olhando para os lados com um meio sorriso.
- só por que estou boazinha.- me aproximei do mesmo o abraçando forte, seus braços rodeavam minha cintura.
- aproveite muito essa nova fase da sua vida meu amor, eu te amo.- ele diz próximo ao meu ouvido.- aliás, se prepara, logo menos apareço na sua casa pedindo abrigo.
- vai dormir do lado de fora.- brinquei.- brincadeira, obrigada... te amo muito. Sabe que pode ir me visitar quando quiser.
- por que não recebi um convite desses também?- minha mãe cruza os braços.
- por que eu sou mais legal.- Nolan encara minha mãe rindo.
- por que você não precisa de convite mãe.
- puxando o saco da mamãe, a essa altura...
- não preciso mais, então se eu disse é por que é plenamente verdade.
- desculpa então senhorita independente.- Nolan pisca para mim.
- vamos Heather?- Serena indaga.
- vamos.- dei um último aceno e logo nós viramos em direção ao corredor.
Não cheguei a comentar mas Serena trabalha na mesma empresa que eu, meu pai conseguiu uma vaga para ela também. Meus pais tem um carinho muito especial pela Serena, pelo fato de nós termos crescido juntas e nossas mães serem tão amigas.
- planos para hoje?- Serena pergunta animada se sentando em seu respectivo assento.
- causar...- sorri mordendo levemente os lábios.
- por isso eu te amo.
Enfim provarei da minha tão sonhado liberdade, estava animada, eufórica... uma das coisas que mais me deixa ansiosa é a privacidade. Poder chamar quem eu quiser, quando quiser. Não que isso não tinha na casa dos meus pais, mas é totalmente diferente... poder transar em paz finalmente. Não posso esperar.