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Em um mundo onde animais e humanos eram capazes de criar um elo espiritual tão forte entre si, em um mundo onde o status e a força predominavam, onde as pessoas viviam constantemente em guerra, havia um alguém. Um alguém que não buscava por status ou por força, que não se importava com desejos gananciosos. Somente ansiava por encontrar esse elo, esse que era tão forte, que era capaz de mudar os sentimentos e até mesmo uma maneira de pensar um indivíduo. Buscava acima de tudo por uma companhia, alguém para chamar se seu. Para que assim, então, esse sentimento de constante solidão se esvaísse. Isso era o que Elara mais desejava.

Uma garota no auge de seus 20 anos, cujo único lugar no mundo que conhecia era uma ilha onde nascera, cercada pôr um mar de águas escuras, rodeada por rochas de gelo, onde havia pinheiros tão altos e majestosos cobertos de neve, assim como toda a extensão do território. Assim era a ilha de inverno constante, Nevera. Governada por uma família patriarcal, a qual, Elara, faz parte indiretamente, sendo filha adotiva de uma das filhas do rei, Elara compartilhava do mesmo sobrenome da família. Porém nunca era autorizado a participar das reuniões da família ou atuar em efetivo importante, sendo muito conhecida dentro das fortalezas do castelo por seu comportamento selvagem, completamente o oposto das outras damas de sua idade.

- Ela faz o que ela desejar, afinal, a vida é dela - era o que sua mãe dizia sempre que alguém reclamava de seu comportamento. - Eu não vou prendê-la igual todos fizeram comigo. Ela tem o direito de escolher uma vez que nem do sangue dessa família ela compartilha.

Sua mãe era uma pessoa que Elara mais amava e respeitava no mundo, pois essa a recebera como uma filha. Elara a amava mais ainda, pois fora a primeira pessoa com quem tivera contado, desde que acordara um certo dia completamente desnorteada e com um branco completo em sua cabeça, sem nem um único resquício de seu passado, seu nome ou até mesmo família. Era como se ela nunca tinha existido antes.

- Não se preocupe com o seu passado - sempre dizia essas palavras, quando a questionava sobre seu passado. Que sua mãe parecia conhecer, mas nunca compartilhava com ela. - O que passou não voltará mais, o importante é o que você vai fazer a partir de hoje e amanhã. Você confia em mim, querida?

- Claro. - respondia infeliz, mas não queria ser ingrata com uma pessoa que de certa forma a salvara.

Mas o que mais a incomodava não era seu passado inexistente, e sim o fato de não encontrar seu espírito guardião ou elo, todos no país tinha um companheiro animal ao seu lado, compartilhando de uma conexão única, onde um não podia existir existe sem o outro. Era algo que só ocorria uma vez na vida. Elara pôr sua vez não havia o encontrado ainda, geralmente o elo acontecia na adolescência, era raro casos de pessoas que não tinham um, e ela tinha medo de pertencer a essa minoria.

O animal espiritual de sua família era o lobo, sua mesma mãe compartilhava sua vida com um, Salem, um lindo lobo das Neves enorme de pelos cinzas em degradação, de um cinza escuro do meio das suas costas até o branco das pastas, os olhos bicolores o direito castanho e o esquerdo azul. Elara vivia em uma constante disputa pela atenção de sua mãe com ele, que era muito ciumento. Salem era muito amigável com os demais membros da família, mas com ela era sempre arisco, rosnando sempre que estava perto dela, Elara acreditava que ele só não a atacava por respeito a sua mestra. E, além dos rosnados, era obrigada a conviver com os insultos constantes do animal.

Dotada de um dom que era inexplicável, Elara era capaz de compreender que os animais falavam, conversando um com os outros através de pensamentos, algo que poucos acreditariam se ela falasse em voz alta. Os únicos que sabiam sobre sua habilidade era sua mãe e Salem, e era algo que ela não deveria dizer para qualquer um.

No meio de uma de suas realizações, Salem levantara um ponto que ela nunca pensara antes.

"Você é adotada - disse ele grosseiramente. - Por que não vai procurar seu elo em outro lugar? É óbvio que seu guardião não é um lobo. Você não é uma Gilbert de verdade." - bufou impaciente.

- Você é tão adorável, sabia? - disse ela revirando os olhos. - Não precisa jogar isso na minha ca ... Espera o que você disse?

"Você é adotada".

- Não, não! Isso eu já sei. Depois disso!

"Por que não vai procurar seu elo em outro lugar?"

Elara pulou de alegria, poderia abraçar aquele lobo rabugento naquele mesmo instante, mas ainda estava a sã e sabia que se assim o fizesse ele poderia arrancar seus braços fora.

- Obrigada, Salem! - disse sincera. Essa olhava com os olhos estreitos. - Foi a coisa mais inteligente que você me disse até hoje.

Passou dias lendo um livro atrás de outro, conhecendo os diversos tipos de animais com quem poderia criar um elo. Em um livro de lendas antigas dizia que um guardião podia se transformar em humano, se o pacto afetivo entre guardião e mestre fosse forte. Achou aquilo um tanto bizarro, e se perguntou se aquilo poderia não ser uma lenda.

- Isso pode acontecer, Salem? - perguntou ela um dia, interrompendo a sua soneca da tarde.

"Céus, como você é insuportável garota! - disse ele bufando. - Não sei, essa lenda é muito antiga."

- Nossa você é tão sucinto. Só isso que você tem para me dizer?

"O que você quer que eu faça? Eu não sou uma enciclopédia ambulante ''. - disse ele se virando, deitando-se de costas para ela.

Ela fez questão de mudar de lugar se posicionando novamente na frente do lobo, em seguida, deitando-se ao seu lado, olho no olho, esse rosnou, mas nada fez.

- Você não tem nem uma hipótese? - perguntou persistente.

"Magia" - disse hesitante. "Se o imperador pode usar magia, porque outras pessoas não podem?" - disse isso e se virou novamente, Elara resolveu deixá-lo em paz.

Fazia sentido, diziam que o imperador era o único que tinha o poder de quebrar os elos, sem que nenhuma das partes saísse ferida, e que essa magia podia ser passada para outra pessoa, ou melhor, o próximo herdeiro. Se tal magia existia, por que não existiria uma que transformasse guardiões em humanos? A ideia de tal magia existe uma deixava empolgada.

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