Capítulo III

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— O que é que você sabe a respeito desse tal de Roarke Madison? — quis saber Tisha, num tom de voz incisivo, deixando de olhar para a estrada durante um rápido momento para poder avaliar a expressão de Blanche. — Eu imagino que ele é o tipo de homem que se julga irresistível.
— Então você está se interessando pelo meu vizinho — respondeu sua tia com um leve tom de gozação. — Depois da maneira como você saiu da sala ontem e do jeito que impediu, a qualquer preço, que o nome dele aparecesse nas nossas conversas, eu estava começando a ficar intrigada.
— Não estou interessada nele do jeito que você está insinuando.
— Tisha apertou as mãos no volante, desejando ter debaixo de seus dedos a garganta daquele homem. — Acho, apenas, que é uma atitude muito inteligente procurar descobrir tudo o que é possível a respeito de um inimigo em potencial.
— Você formou uma imagem totalmente errada de Roarke. Ele não é o Dom-Juan dominador como pensa — declarou Blanche. — Ele é o vizinho mais simpático e mais prestativo que tive em toda a minha vida: além disto, é um arquiteto muito talentoso. Aposto que, considerando-se a sua boa aparência e a sua posição financeira relativamente boa, deve existir uma porção de mulheres muito ansiosas pela oportunidade de lhe fazerem companhia, mas, da mesma forma, como nunca se intrometeu na minha vida particular, eu também não sei maiores detalhes sobre a dele.
— E como você explica aquela pavorosa declaração que ele fez a respeito das mulheres casadas?
— Na minha opinião, você provocou, e recebeu o que ouviu. Acho que ele aceitou com muita classe as maldades que você disse a respeito dos homens; e não se pode negar que há uma boa parte de verdade nas coisas que vocês disseram.
— Ele é exatamente como todos os outros homens: admite que o único lugar adequado para as mulheres é dentro de casa, na frente do fogão ou na cama.
— Você não deveria menosprezar o papel da mulher como esposa e como mãe de família. Não existe nada que possa ser um desafio maior do que isto; nem existe alguma coisa que possa dar mais realização a uma mulher. E muitas mulheres não se sentiriam satisfeitas, se tivessem de representar qualquer outro papel.
— Eu não acredito que você, justamente você, seja capaz de pensar uma coisa dessas! — Tisha ficou realmente surpresa.
— E por que você acha que justamente eu não deveria nunca pensar assim?
— Bem, você nunca se casou. Você tem realmente uma carreira profissional bem-sucedida, conseguida graças ao seu próprio esforço. Você é um exemplo para toda e qualquer mulher que se julgue liberada, Blanche.
— Você sabe por que foi que eu nunca me casei Tisha?
— Eu suponho que tenha sido porque nunca sentiu a necessidade ou o desejo de fazê-lo.
— Houve um par de vezes em que considerei seriamente essa possibilidade. — Era a primeira vez que Blanche falava com tanta sinceridade sobre sua vida. — Mas sou suficientemente inteligente para reconhecer que, no fundo, sou muito egocêntrica. Eu não quis assumir a responsabilidade que um marido e filhos trariam inevitavelmente com o casamento. De certa forma, não fui apenas egocêntrica; fui muito covarde também. Não me arrependo da decisão que tomei e, nas mesmas circunstâncias, não hesitaria em fazer outra vez exatamente o que já fiz. Pois é, Tisha, em minha opinião, isto é uma coisa individual, que não tem nada a ver com o fato de a pessoa que toma a decisão pertencer a este ou àquele sexo.
— O que é que você está querendo provar Blanche? Que você é a exceção que confirma a regra?
— Estou querendo dizer que são poucas as pessoas capazes de fazer uma coisa destas em função da carreira profissional.
— Você acha que eu sou capaz?
— Você vive para pintar? — perguntou Blanche com muita suavidade. — A arte é a meta final da sua vida?
De maneira hesitante, mas o mais sinceramente possível, e sabendo reconhecer sua capacidade, ela respondeu à pergunta da tia:
— Para mim, a pintura é um passatempo, com o qual estou tentando ganhar o suficiente para poder me manter de maneira independente.
— E é um passatempo que não entra em conflito com uma eventual vida de mulher casada.
— Agora você está começando a falar exatamente como meu pai — censurou-a Tisha, suavizando um pouco as palavras com um sorriso. — Parece que você está querendo que eu me case porque acha que isto só irá me fazer bem.
— Só se for com um homem que você ame.
— Caso exista essa criatura. — Seu riso soou como um ponto de exclamação. — Seria terrível se eu encontrasse apenas os Roarke Madison do mundo.
— No seu lugar, eu não eliminaria Roarke do material necessário para um bom marido. Tenho certeza que o fato de você não ter caído aos pés dele em adoração perpétua despertou o interesse dele e também você não está completamente indiferente.
— Aquele sujeito só consegue provocar o que existe de pior dentro de mim.
— Talvez isto seja apenas uma espécie de mecanismo de defesa totalmente seu Tisha; uma maneira de impedir que você se sinta atraída por ele.
— Eu não quero um homem que pense que será o senhor absoluto de minha vida e dos meus atos!
— Você também não seria feliz ao lado de um homem que você pudesse modelar à vontade. Um pouco de espírito dominador não seria nada mal, desde que o seu pulso de ferro estivesse sempre oculto por uma luva de veludo.
— Blanche, você é tão teimosa quanto meu pai. Você está realmente tentando fazer com que eu goste daquele sujeito?
— Ele é meu vizinho. Não posso dizer que sentiria muito prazer se você declarasse guerra total contra ele. Seria bem mais agradável se vocês conseguissem ter certa amizade.
— Está bem. Eu concordo com sua colocação. Prometo que não vou começar a brigar com ele.
— O que já é um bom começo. — Blanche sorriu. — Você pode me deixar na próxima esquina. As termas ficam a apenas um quarteirão de distância daqui.
Depois de deixar a tia onde ela quis ficar Tisha dirigiu-se à funilaria. Quando entrou na oficina, a primeira coisa que viu foi o carro branco de Roarke. Com os lábios firmemente comprimidos estacionou o carro e entrou no escritório da funilaria:
— Em cima da hora — falou Roarke, surgindo diante dela.
— O que é que está fazendo aqui? — quis saber Tisha, esquecendo-se da promessa de rivalidade.
— Não foi apenas o seu carro que ficou danificado com o nosso encontro — respondeu ele, com um sorriso irônico. — Entre outras coisas, eu perdi uma lanterna. O pessoal acabou de consertar o meu carro neste exato momento.
— Compreendo — disse ela, no momento em que um homem de macacão se aproximou, e Tisha desviou sua atenção para o recém-chegado.
— Oi, Mac — disse Roarke —, esta é a senhorita Caldwell, de quem lhe falei.
— Agora estou começando a entender por que você bateu no carro dela; sinceramente, você tem um estilo bem diferente para ficar conhecendo as garotas novas desta região — disse Mac.
Tisha enrubesceu de raiva, mas controlou-se rapidamente: — Estas são as chaves do meu carro. É aquele Mustang que está estacionado ali fora.
— O serviço estará pronto dentro de algumas horas — disse Mac, aceitando as chaves e interpretando de maneira errada o olhar que ela lançou a Roarke. Quando Mac já estava saindo da sala, Tisha ouviu o comentário que fez à meia voz para Roarke: — Você realmente sabe escolher bem as suas gatinhas. Ela é bem melhor do que a última e é mais jovem também.
— Todas as suas conquistas costumam cair no domínio público? — disse Tisha quando ficou a sós, com Roarke.
— Por quê? Você está se enquadrando na minha coleção de conquistas?
— Fico imensamente satisfeita em poder dizer que não tive esse desprazer.
— Então você teria preferido que eu dissesse que nos antipatizamos à primeira vista? Ele não teria acreditado. E depois, que diferença faz o que ele pensa a nosso respeito?
— Eu não me importaria se ele não formulasse os pensamentos de um jeito tal, que acaba dando a impressão de que nós estamos dormindo juntos.
— Você faz muita questão de mostrar que é uma mulher liberada; no entanto, os seus conceitos morais são realmente antiquados.
— Pelo menos, não posso ser acusada de promiscuidade — replicou ela. — Ao contrário de você com as mulheres, não vou para a cama com todos os homens que eu encontro.
— Nem eu — replicou ele.
— Não mesmo? — perguntou Tisha.
Havia algo de muito sedutor na maneira como os olhos dele passeavam pelo rosto dela. Tisha percebeu que seu coração acelerou as batidas devido a essa carícia, que ela sentia como uma coisa quase física.
— Eu não fui para a cama com você! — disse Roarke. Após um momento de pausa, acrescentou com a deliberada vontade de provocá-la: — Ainda não.
— Oooh! — Tisha bateu o pé no chão, furiosa, sem encontrar palavras que expressassem sua raiva, e saiu.
Porém, logo ele a alcançou e pôs a mão no braço dela, forçando-a a parar: — Para onde é que você pensa que vai?
— Não importa desde que seja para bem longe de você!
— Eu reconheço que a culpa foi minha. Peço desculpas. — Os olhos de Roarke fixavam-se nela.
Tisha estava começando outra vez a respirar de maneira descompassada: — Não aceito o seu pedido de desculpas! E agora solte meu braço.
— Eu prometo não provocá-la mais — disse, aparentemente ignorando a tentativa de afastar-se dele.
— O simples fato de saber que você respira me deixa irritada!
— Bem, não pretendo deixar de respirar só para provar que estou arrependido — disse ele com um sorriso. — Vamos fazer uma trégua. Afinal de contas, nós estamos num território neutro.
— Você acha? Eu não sabia que qualquer território onde você esteja podia ser classificado de neutro!
— Como é que você pretende passar o tempo até que seu carro saia da oficina? — perguntou Roarke.
— De uma coisa você pode ficar certo: não tenho a menor intenção de passá-lo na sua companhia! — declarou Tisha. — Vou aproveitar para fazer alguns desenhos. Agora, por favor, quer soltar o meu braço?
Ele balançou a cabeça, num sinal afirmativo: — É mesmo… Você é uma artista, não é? Como a sua tia.
— Infelizmente, não sou tão boa quanto Blanche — corrigiu Tisha automaticamente. — Ela é uma verdadeira artista. Eu ainda tenho muito que aprender.
— E eu pensei que estava na companhia de um novo gênio da pintura. Pelo menos, o temperamento necessário você já tem — disse ele em tom de gozação.
— Você não pode acusar minha tia de ser temperamental. É muito difícil encontrar alguma pessoa mais sensata do que ela. Acho que você não deveria procurar rotular as pessoas.
— Blanche procurou ser tão independente quanto você é agora; caso contrário, ela não poderia ter atingido o sucesso que conseguiu.
Por outro lado, Blanche é uma mulher muito sensível e cheia de calor humano; sem dúvida, é este o lado que ela costuma mostrar para a família.
— Acredito que é exatamente assim que está certo. — Um pouco tarde demais, Tisha lembrou-se da promessa de que não iria discutir com ele, e tentou amenizar.
— Para voltar à minha pergunta inicial, onde é que você pretende fazer os seus desenhos?
— Eu pensei em pegar qualquer condução e ir para o centro da cidade.
— Pegue o seu bloco de desenhos e as outras coisas que precisar e eu lhe dou uma carona.
Tisha ressentiu-se pela maneira com que ele formulou o convite, como se não tivesse a menor dúvida de que seria obedecido:
— Se eu aceitar sua carona, você promete me deixar em paz?
— Prometo que vou levar em consideração essa possibilidade.
— Na esperança de uma decisão favorável aos meus desejos, eu permito que você me leve até lá — disse ela.
— Cuidado! — aconselhou ele, enquanto estavam indo em direção ao carro dele. — Caso contrário posso pensar que você está muito interessada na minha companhia!
— Que lindo dia hoje! — exclamou ela.
No carro, Tisha procurou se encostar o mais possível na porta, para manter um grande espaço entre eles. Mas Roarke parecia não dar a mínima atenção a isso, enquanto dirigia pelo tráfego tranquilo da cidade.
— O que é que você sabe a respeito de Hot Springs? — perguntou calmamente ele.
— Eu já estive aqui antes.
— O que não quer dizer coisa alguma — concluiu ele. — Você morou em Little Rock durante toda a sua vida, não é?
— É — respondeu ela, prometendo a si mesma que só falaria por monossílabos com este homem.
— E da mesma forma, como a maior parte das pessoas, você nunca se preocupou em explorar a região mais próxima de sua casa, estou certo?
Tisha desistiu de sua promessa: — Se você quer saber se papai e eu vínhamos passar nossas férias aqui, a resposta é negativa. Nós geralmente viajávamos para o Oeste ou então para o Sul.
— Então você realmente sabe poucas coisas a respeito de Hot Springs, não é? — insistiu Roarke.
Como o próprio nome já diz, existem fontes de água quente por aqui — respondeu ela, com sarcasmo na voz. — Você pode me deixar aqui mesmo.
— Senhorita Caldwell, eu não estaria cumprindo a minha obrigação de cidadão se não fizesse o possível para instruí-la, pelo menos um pouco, a respeito da história desta maravilhosa cidade.
— E eu presumo que você não vai aceitar um não como resposta, não é?
— Se eu aceitasse isto entraria em conflito com a imagem que você já formou de mim — disse ele com toda a calma do mundo.
Durante um instante, Tisha ficou estupefata com a resposta dele. Tinha a estranha sensação de que ele estava dizendo a verdade. Blanche também dissera que Tisha não seria capaz de respeitar um homem que ela pudesse malear a seu bel-prazer. No entanto, paradoxalmente, ela se ressentia contra a sensação de ser dominada. E foi este último sentimento que transpareceu na sua frase seguinte:
— Não gosto de ser forçada a determinadas coisas, só porque outras pessoas acham que serão boas para mim.
— Será que existe alguém que goste disso? Obviamente, também existe um lado bom nisso; é a única maneira de saber se realmente gostamos ou não de alguma coisa — respondeu Roarke, enquanto atravessavam a rua, depois de estacionarem o carro, e continuou:
— Você ainda não se permitiu concordar comigo, não é mesmo? — disse Roarke suavemente; porém, sem esperar que ela respondesse: — Os indígenas chamavam este lugar de Vale dos Vapores. Era um lugar sagrado para todas as tribos. Elas traziam, pacificamente, seus doentes e feridos para cá, para banhá-los nas fontes térmicas. Conforme já disse antes, nós estamos aqui num território neutro. Se você concordar, estou plenamente de acordo com a idéia de declararmos uma trégua temporária.
— Eu não tenho alternativa — murmurou Tisha. — Se eu não concordar por livre e espontânea vontade que você me sirva de guia, sei que vai agir exatamente da mesma maneira como se tivesse concordado.
— Coitada! É um caso típico de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, não é mesmo? — Havia complacência na voz dele. Pela primeira vez, parecia que se divertiam.
— Pode me passar o cachimbo da paz — disse ela com um suspiro.
— Considerando-se que você me pegou completamente desprevenido com a sua oferta, você ficaria contente também com um simples aperto de mão?
Unindo a frase ao gesto, ele apertou com força a mão dela; Tisha sentiu uma agradável sensação de calor percorrendo-lhe o corpo.
— Para começar, vamos passear um pouco pelo caminho principal — anunciou com certa calma Roarke. — Isto certamente será a melhor maneira de deixá-la num estado propício para ouvir antigos detalhes históricos.
— Agora eu faço questão que você me conte tudo o que sabe sobre a cidade.
— Tudo o que os indígenas sabiam a respeito das fontes e as histórias dos seus poderes restauradores eram passados de tribo para tribo — começou Roarke, num tom didático. — Acredita-se que tenham sido estas fontes que levaram Ponce de Leon a organizar a sua famosa expedição em busca da Fonte da Juventude; infelizmente, ele não se aventurou a penetrar muito no continente desconhecido, de maneira que não chegou até aqui. Por causa disto, o primeiro europeu que teve a oportunidade de ver o Vale dos Vapores foi o espanhol Hernando de Soto, que procurava minas de ouro e que chegou aqui trazido por índios amigos. — Encontraram um enorme rochedo no meio do caminho e Tisha olhou inquisitivamente para Roarke, que explicou: — A placa neste rochedo, que, segundo os guias especializados, é um tufo, foi colocada aqui para comemorar a chegada De Soto em 1541.
Contornaram o rochedo e subiram os degraus que levavam pela encosta da montanha a uma espécie de terraço arborizado, onde havia diversos bancos e mesas próprias para piqueniques.
— Mas foi La Salle quem chegou aqui em 1682 — continuou ele — e tomou posse do território em nome da França. Se você ainda não esqueceu completamente o que deve ter aprendido nas aulas de história norte-americana, deve se lembrar que este território foi dado à Espanha, e depois novamente voltou às mãos da França, por um tratado secreto assinado em Madrid em 1801. Pouco tempo depois, Napoleão Bonaparte o vendeu aos Estados Unidos como um dos itens do contrato de venda da Louisiana. O presidente Jefferson, que deu início às negociações de compra, enviou dois cientistas para cá no ano seguinte à assinatura, para que descobrissem mais detalhes a respeito da água quente que brotava diretamente da montanha.
— Você disse que o lugar era chamado antigamente Vale dos Vapores. Por que é que não se vê vapor algum agora?
— A explicação é simples. Existem quarenta e sete fontes termais, mas apenas duas foram deixadas abertas para a visitação pública. As outras foram canalizadas para um reservatório subterrâneo, de onde a água é canalizada para as diversas casas de banhos — explicou ele. — A cidade Hot Springs está situada dentro de um parque nacional. Um decreto promulgado pelo Congresso em 1832 determinou a preservação de toda esta área; posteriormente, porém, foi feita uma emenda para permitir que a cidade crescesse em torno das fontes. As fontes abertas à visitação pública estão um pouco abaixo de onde nos encontramos no momento.
Na encosta da montanha havia dois tanques de tamanho razoável, cheios de água quente, da qual subiam vapores; eles estavam cercados e rochedos de consistência semelhante ao grande rochedo com a placa comemorativa da chegada de De Soto, que Tisha vira no início do passeio. Era um lugar muito sossegado, um cenário romântico. Ela mergulhou os dedos na água quente, mas retirou-os bem depressa.
— Quando a água sai da montanha tem uma temperatura de aproximadamente sessenta e dois graus centígrados — disse Roarke.
— Você pode me explicar como que a água fica tão quente assim?
— Existem diversas teorias a respeito deste assunto, mas até hoje nenhuma delas foi provada. Sabe-se, entretanto, que as fontes possuem uma emanação radioativa natural e acredita-se que esta seja a causa do calor.
— É uma coisa fascinante, você não acha?
— Fico realmente contente em ver que você não é teimosa a ponto de negar isto.
Uma expressão de desagrado apareceu rapidamente no rosto dela. Logo depois, Tisha voltou a perguntar, numa tentativa de mudar o assunto: — Existem mais coisas tão interessantes como estas a respeito da cidade?
— A história de Hot Springs seria suficiente para escrever diversos livros. O que fiz até agora foi apenas lhe dar uma visão muito genérica de tudo. Por exemplo, você sabia que esta cidade foi sede temporária do governo durante a Guerra Civil no século passado? E vamos deixar de lado o fato de que este era um dos lugares prediletos do famoso Al Capone. — Ele lhe estendeu a mão: — Venha, vamos passear um pouco mais.
Tisha não hesitou e deu-lhe a mão. De mãos dadas, o casal enveredou pela encosta da montanha, apreciando na caminhada os pequenos animais e diversas pessoas que se divertiam naquele parque.
— Você gostaria de se sentar um pouco? — perguntou Roarke, ao mesmo tempo em que a conduziu em direção a um banco.
Tisha sentou-se, concordando em silêncio com a sugestão dele e colocou a bolsa e o bloco de desenho sobre a mesa na sua frente. Com certa indiferença, ela acompanhou os movimentos de Roarke, Que se inclinou para trás e colheu um dente-de-leão amarelo e depois ficou brincando com a flor entre os dedos. Seus olhos castanhos percorriam Tisha de cima a baixo.
Após alguns momentos, ele perguntou: — Eu gostaria de saber se você gosta de homens.
Uma pequena ruga apareceu na testa de Tisha, que tentava acompanhar os meandros do pensamento que o tinham levado a formular essa questão.
— Acho que o melhor é procurarmos descobrir isto — murmurou Roarke, estendendo a flor até tocar-lhe o rosto. — Acredito que esta é uma reação bastante positiva.
— Vamos ver que reação você tem? — brincou ela, colocando a mão sobre a dele para poder empurrá-la em direção ao seu queixo. Roarke permitiu a princípio este movimento, mas enrijeceu os músculos do braço, antes que o dente-de-leão lhe chegasse ao queixo.
— O teste não funciona em homens com mais de trinta anos — disse ele com um sorriso. As faces de ambos estavam muito próximas e ele fitava de maneira perturbadora os lábios de Tisha. — Minha barba é espessa demais!
Tisha retirou a mão, afastou-se, criando certo espaço entre ambos:
— Não tem a mínima importância — disse ela, despreocupada. — Afinal, eu sei que você considera as mulheres muito atraentes.
— E como foi que você descobriu isto?
Tisha levantou os ombros, como se quisesse dizer que suas fontes de informações não podiam ser reveladas, e preferiu não formular a reposta. Colocou um pé sobre o banco, abraçou a perna, colocou o queixo sobre o joelho e começou a observar com mais atenção o cenário, que a deixava menos perturbada.
— É um lugar muito tranquilo, você não acha? — comentou ela.
— Tão tranquilo que você até consegue fazer de conta que está gostando da minha companhia.
— Sou capaz de esforçar-me para ser agradável a qualquer pessoa, desde que o ambiente consiga me distrair o suficiente. — Ela estava começando a sentir demais a presença física dele, e por causa disto decidiu apelar para palavras mais agressivas, no intuito de se proteger contra outros momentos de eventual vulnerabilidade.
— O que foi que fez você voltar outra vez ao seu estilo agressivo? Será que você tem medo de se tornar uma mulher?
— Que bobagem? Eu já sou uma mulher!
— Prove isto. Venha jantar comigo na próxima sexta-feira. Tisha recuou um pouco: — para quê?
— Adivinhe.
— Suponho que o seu orgulho masculino, tipicamente arrogante — a expressão dela era propositalmente fria —, está sofrendo muito, porque você ainda não foi capaz de conquistar-me. Eu não me joguei nos seus braços ou na sua cama, com a pressa rotineira das outras mulheres. Agora, provavelmente está pensando que com alguma bebida, num ambiente romântico à luz de velas, você vai ser capaz de me seduzir.
— A explicação que você encontrou é bastante tentadora.
— Neste caso, senhor Madison, vamos fazer de conta que você não fez convite algum, está bem?
— Meu nome é Roarke e eu gostaria que você me chamasse assim — disse ele, com uma calma que a deixou mais furiosa ainda. — Considerando-se que vamos sair juntos na próxima sexta-feira, seria mais agradável se deixássemos estas formalidades tolas de lado.
— Será possível que você não ouviu o que eu disse? Eu não vou sair com você sexta-feira! Seu convite não foi aceito! — respondeu exasperada.
— E por que não? Depois de todas as suas calorosas declarações de que as mulheres são o sexo superior, você não acha que será perfeitamente capaz de se defender dos meus eventuais ataques? Ou será que você mesma não acredita em todas estas bobagens que tem defendido com tanto ardor?
— É lógico que eu acredito no que digo!
— Neste caso, porque é que você tem tanto medo de sair comigo?
— Eu não tenho medo!
— Ótimo. Eu passo para apanhá-la às sete da noite. — Roarke levantou-se devagar, ergueu a mão num gesto de despedida e afastou-se pelo caminho que eles tinham vindo. Ele já estava longe, enquanto Tisha, boquiaberta, continuava ali, incapaz de encontrar palavras que expressassem a fúria que sentia.

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