32 Fazer o bem

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Com a data do dia de natal cada vez mais próxima, um turbilhão de sentimentos me envolveu. Ao mesmo tempo que eu era grata por tudo de bom que estava acontecendo na minha vida, uma parte me deixava triste, senti falta de Mariana, fico imaginando como seria passar esse natal com ela em meus braços. E foi assim que me peguei chorando, enquanto admirava as roupinhas que minha filha sequer teve a chance de usar.

- Débo...- Sabrina perdeu a voz.- Essas roupinhas são de quem?- ela sentou na minha cama e pegou um vestidinho azul.

- Da minha filha, ela não usou.- mordi o lábio inferior para controlar o choro.

- Eu queria muito te perguntar sobre essa bolsa de neném, desde o dia que você chegou, mas estava esperando você se sentir pronta para se abrir.- Minha amiga fez um afago em meu braço.

- Ela nasceu sem vida, passou da hora de nascer.- senti as lágrimas grossas descendo em meu rosto. Meu coração ainda se aperta só de lembrar daquele dia.

- Sinto muito amiga.- os olhos de Sabrina se encheram de lágrimas também.- Não imagino o quanto isso deve ser doloroso para você.

- Dói demais, Mariana era a única coisa boa que pôde acontecer entre eu e o pai dela, mas até isso ele tirou de mim. Henrique me tirou a chance de ter minha filha em meus braços, por pura maldade.

- Tenho vontade de matar esse cara, sempre que o nome dele é mencionado e o nojo que eu já sentia por ele, triplicou.

- Hoje acordei sentindo a falta dela, estou pensando em como seria o natal com ela aqui, com a gente, com o Pedro, como seria o cheirinho dela...- não consegui terminar de falar, porque era muito emoção.- Eu nunca fui visitar o túmulo da minha filha, porque eu não quero aceitar, que ela esteja naquele lugar e me sinto uma péssima mãe por isso.

- Você não é uma péssima mãe Débora, eu acredito que você tenha feito tudo o que pôde.

- Mas não o suficiente.

Chorei por mais algum tempo e fui consolada por minha amiga, até nos darmos conta que já estávamos mais que atrasadas para o trabalho.

...

E a loucura de fim de ano continuava, mas dessa vez Mica não contratou um papai Noel, porque senão estaria mil vezes pior. Tivemos que nos dividir entre atendimento presencial e delivery. Os clientes do delivery, são mais antipáticos, porque eles acham que a comida tem que chegar com cinco minutos após os pedidos serem feitos, parece que são arrogantes porque gostam.

- Aconteceu algo ou é só estresse? Seu rosto está meio vermelho.- Helena comentou.

- Puro estresse, mal vejo a hora de entrar de folga amanhã, isso é tudo que eu mais quero nesse momento.

- Eu também já quero muito essa folga, só estou triste, porque provavelmente amanhã será meu último dia aqui, já que sou do serviço temporário.

- Podemos nos ver em outras ocasiões.

- Vou querer ver você mesmo, te achei muito legal.

- Também te acho legal.

Não tinha nada contra Helena,  apesar de não sermos íntimas, ela parecia ser uma pessoa de bem, as vezes um pouco metida, mas nada com que eu não possa lidar.

- Amiga, olha.- Sabrina apontou para a frente da loja, onde estavam as vitrines que ficam com alguns doces para que as pessoas da rua pudessem olhar.

Duas crianças estavam ali, admiravam os doces como se fossem as coisas mais lindas que eles já pudessem ter visto. Era um menino e uma menina, as roupas não eram as melhores. A menina tinha em um dos braços, uma cestinha e pareciam ser bombons dentro da mesma.

Salvação// Pedro Guilherme✅Onde histórias criam vida. Descubra agora