Entre Anjos e Demônios • Muke

Capítulo XVIII: Castigo de alma.

Havia passado meses, nunca nada tão frio quanto a relação dos garotos foi presenciado.

Luke gritava alto enquanto chorava desesperadamente na esperança de que alguém o ouvisse, atendesse suas suplicas e o salvasse do vazio e frio purgatório que se encontrava. O inferno se tornou muito atrativo para o anjo naquele momento. Ele gritou, gritou tão alto a ponto de sentir seus pulmões quase estourarem. Nunca nada foi tão angustiante do que o som de uma súplica.

Em uma festa, cercado de bebidas, drogas, dinheiro e jovens mimados, estava Michael. Parecia fazer parte desse mundo agora. Ele havia mudado. Têm noção do quão amargurado ele estava para não sentir o veneno a sua volta? Nada fazia sentido alí, mas era alí que sentia que precisava estar para tampar um vazio que sabia bem qual era. Nunca funcionou. Mesmo com tudo para estar em outro planeta sem sair do chão, nada foi tão forte a ponto de o paralisar quanto os gritos desesperados do anjo. Ele sentiu, ele ouviu, ele respirou fundo e ignorou. Luke não era mais problema dele.

Mais um copo.

"Eu sou patético" pensou Michael. Ele era maior que isso, melhor que tudo isso. Mas estava ali, escolheu estar, parecia prudente. Era a alta sociedade afinal, que mal faria? Dinheiro e influência, ele já tinha, era apenas mais e mais para ele. Mas é aí que mora a grande pegadinha. Quanto mais matéria, menos emoção. Um não substitui o outro, nunca seria possível. Estamos tratando de sentimentos, da força humana, nada é tão poderoso quanto, seria insano tentar enterrar sua vitalidade com futilidades. Bens materiais podem ser tirados de você, suas emoções não. É seu núcleo mágico, isso te torna humano, te faz sentir vivo.

Toda a consciência se esvaía da sua cabeça, mas não pelas bebidas, não pelas drogas, não pelo clima de excitação e a música alucinante que tocava. Mas sim pela onda de sensações ruins que sentia a cada grito que ele e apenas ele podia ouvir. Não era a sensação que havia se acostumado a ter em festas como aquela.

Eu disse Devil, a punição do anjo iria doer. A sua foi cruel, mas não mexeu com a sua cabeça e com seus sentimentos. Você está sentindo isso e não consegue controlar toda a dor.

Ele também sentiu a sua, mas o físico não supera a dor de ser abandonado por si mesmo. Quando você mexe com o quê mexe com as pessoas, a fraqueza delas transparece. E Michael, fazer sua cabeça foi tão simples, que te convencer a abandonar parte sua não necessitou de esforço.

Veja, olhe bem, Michael. Ninguém além de você está punindo o anjo.

Tudo isso dói tanto, não é? Julgar quem te liberta, defender quem te cega, acusar de ser o único a ser castigado e depois sentir a prova ao saber a punição de quem só queria seu bem. Isso se chama culpa, Clifford. Esse peso todo no coração, o aperto em sua cabeça, a agonia... Você nunca sentiu, como poderia tendo o passe livre que tem? Por que só agora a atrocidade de seus atos está doendo? Ah, doce demônio, Sei que é um gosto amargo. O da bebida em sua mão também é, mas dessa não há reclamações da sua parte. Vamos, beba, afogue esse sentimento de novo e de novo tentando inutilmente apagar qualquer resquício de humanidade. Falhe miseravelmente outra vez com você, aparentemente é a única coisa que fez nos últimos meses.

Sabe bem que não estou falando do seu corpo.

Michael virou todo o líquido do copo na esperança de não só matar todo aquele sentimento, mas os pensamentos também, como se fosse possível ignorar a sí mesmo. Mais um copo, outro e mais outro. A cada copo sua visão embaçava, seus sentidos se perdiam. Ele precisava daquilo. E então outro copo. Sua respiração estava acelerada e seus olhos enchendo de lágrimas vermelhas. Era sangue.

Outro copo.

Nessa brincadeira ele secou quatro garrafas sozinho, ele não sabe do que se tratava, ele apenas bebeu e sentiu o líquido espesso em seus olhos. Não era isso que esperava quando decidiu se embriagar. O Anjo estava gritando por ele.

E então, como um turbilhão, os sentimentos vieram. Parece que por mais forte que tenha sido sua barreira, Michael, não foi o suficiente.

Saiu correndo da festa sem se importar par onde estava indo. Para a clareira escondida no lugar mais afastado da floresta. Seu lugar, apenas seu. Parou. Respirou. Baixou a guarda e chorou.

Seu peito subia e descia descontroladamente. As lágrimas não paravam. Ele estava caído de joelho apertando seu coração na tentativa miserável de fazer tudo parar. Sua cabeça girava, era um desespero insano, ele se afogava a cada tentativa agoniante de sentir o ar entrando. Tudo que ele queria no momento era morrer. Ele sentia-se impotente. Sumir era atrativo. Ele não conseguia se mexer pois seu corpo todo doía, seu coração estava prestes a explodir e seus pulmões gritavam por um resquício de oxigênio que fosse. Ele se sentia tão humano naquele momento.

Sua visão de mundo se distorce nesse momento. Você sente o vazio e a solidão. Matéria nenhuma cobre o buraco de uma emoção. Nada faz sentido, e aí você quer sumir, quer fazer tudo parar. A dor, a angústia. É massacrante, não é? A primeira dói tanto, machuca o seu ser e mata quem você achava que era. É uma cicatriz, mais uma para o demônio. Ele era cheio delas.

Catatônico. Se levantou e foi até a borda do penhasco, seu chifres a mostra, as marcas do sangue em seu rosto. Tudo estava tão frio ao seu redor. Ele sentiu um frio na barriga e a vertigem de altura, mas não vinha dele. Desespero, nenhum movimento. A impressão era de alguém sem alma. Ele não reagiu até sentir a vertigem mais forte e o formigamento por suas pernas, que ainda não era dele. Sumiu.

E finalmente, gritou. Gritou tão alto que sentiu tudo ao seu redor estremecer.

- EU ODEIO VOCÊ! - Berrou em plenos pulmões. - EU ODEIO VOCÊ, MICHAEL CLIFFORD! VOCÊ ME DESTRIU, DA PIOR FORMA. EU TE ODEIO NÃO SÓ POR ISSO. EU TE ODEIO PRICIPALMENTE PELO FATO DE TER ESQUECIDO QUE EU SOU VOCÊ.

E lá, do outro lado da cidade, parado em cima do parapeito do mais alto prédio, Luke o ouviu.

- Eu não odeio você, Michael.

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Heey

Olha quem decidiu aparecer 🖤

Espero que tenham gostado do capítulo.

Desculpem o sumiço, sinto falta daqui.

Kisses and hugs,

~Liv.