Capítulo XIX: O sol e a lua.

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Pode conter gatilhos.

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Reza a lenda que, em meio à Floresta Amazônica, existiam duas tribos rivais: uma vivia no alto de uma montanha, e outra vivia no fundo do vale.

Embora a distância entre elas fosse pequena, não era permitido que houvesse contato entre os membros das duas tribos, dada sua grande rivalidade.

Certo dia, o filho do cacique da tribo do alto da montanha saiu para caçar em meio à floresta, e acabou encontrando uma bela índia da tribo do vale. Depois daquele encontro, surgiu entre os dois um grande amor, e todos os dias, os dois iam à floresta para que se encontrassem escondidos. Após um certo tempo, um grupo de indígenas da tribo da montanha encontrou os dois, e os levou para o alto do monte.

Uma das leis da tribo da montanha proibia o contato entre integrantes das duas tribos, com risco de pena de morte. Ao descobrir que seu filho estava envolvido no ocorrido, o cacique da tribo ficou desesperado, pois não queria que seu filho morresse. Desse modo, pediu ao pajé da tribo que preparasse uma poção para transformar o casal em astros do céu. Desse modo, seu filho o sua amada seriam punidos, mas não precisariam morrer para pagar a pena.

Ao beberem a poção mágica, logo foram transformados, sendo o rapaz em Sol e a moça na Lua. Viveram assim, eternamente longe da tribo, e é por isso que o Sol vive indo atrás de sua amada, a Lua, mas raramente se encontram. Quando se encontram, se abraçam, fenômeno conhecido como eclipse lunar.

É triste, não é? O vazio. A perda de esperança, o castigo sem motivo. Aquela sensação de solidão imensa, incontrolável. Os dois sentiam, os dois sentiam muito a falta um do outro. Mesmo estando alí, de carne e osso, frente a frente.

Michael sentiu Luke prestes a se jogar do prédio, não tardou um milésimo sequer  chegar lá. Ele precisava salvá-lo. Ele era sua vida, seu gêmeo.

Estavam tão cegos pela missão, pelos ideias de seus mestres que esqueceram quem são. Se perderam em sua própria existência. É tão doloroso saber que falta algo mas não saber o que é. Se ao menos tivessem a noção de que o que falta neles são eles mesmos, talvez a dor fosse menor.

A dor de perder um gêmeo, um pedaço de você em outro ser, um outro você com uma visão diferente de mundo. É como se você tivesse morrido também. É tão insuportável, queima, arde. Não importa quando o perdeu, se sempre soube dele ou não, você vai sentir. Era isso que os dois sentiam. O vazio vai estar ali dia após dia, nunca vai embora. Você deve aprender a lidar. Honra-lo em vida.

Não eram irmãos, mas eram um ser só. Partidos, quebrados e vazios.

— Luke... Desce. Eu imploro.

— Por que? Isso faz alguma diferença para você, Michael?

— Por Deus Luke, você se ouve?

— Você me ouve, Michael? Eu estive gritando por você, esse tempo todo. Onde você esteve?

— Resolvendo coisas.

— Você deveria mudar seu conceito de resolução de problemas. Não acho que cheirar pó ou beber litros seja a melhor opção. Até porque não tem efeito algum no seu corpo, ou se esqueceu que não é humano?

— Não, não esqueci.

— Tem certeza? Considerando o seu estado, acredito que tenha virado humano. Começou a sentir também, ou isso é demais para o padrão demônio de existência?

Entre Anjos e Demônios • MukeOnde histórias criam vida. Descubra agora