CAPÍTULO UM

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brasas amenas de uma lareira

A diversidade literária era evidente na Corte Noturna, algo que Azriel admirava enquanto caminhava pelos corredores da biblioteca, desviando a claridade das lâmpadas amareladas que iluminavam o ambiente, fazendo-a desaparecer em meio a escuridão que o emanava.

As mãos do illyriano não possuíam tanta sensibilidade quanto se era esperado, resultado das inúmeras cicatrizes de infância, porém, ele ainda tocava suavemente nas lombadas dos livros expostos, imaginando seus relevos disformes causados pelo tempo ou uso constante. Aquelas histórias eram uma carícia à imaginação, alimentando a parte essencial que lhe implorava pelo drama. Este é, talvez, um dos motivos pelo qual gostava de ser mestre-espião.

Azriel tinha noção que não deveria pensar sobre trabalho, mas não conseguia controlar a necessidade de se manter informado, apesar de todos os sermões de Feyre, afirmando que ele trabalhava demais.

Então, apertando levemente a capa do livro de romance que ganhou de um escritor local, repreendeu-se mais uma vez por não conseguir relaxar e aproveitar sua folga tão merecida.

Os murmúrios de uma rebelião nos acampamentos illyrianos precisaram de observação constante, sendo Azriel, o principal responsável por monitorar e relatar qualquer ação fora dos conformes, ouvindo os segredos que seus espiões lhe contavam sobre os próximos passos dos rebeldes, fazendo-o neutralizar, junto de Cassian, qualquer ameaça com rapidez.

Seus amigos notaram o quanto ele estava distante e as olheiras sob seus olhos evidenciaram a insônia. Mesmo depois de terem neutralizado parcialmente a ameaça dos soldados de Illyria, o illyriano continuava pertubado, se isolando dos demais, preferindo a companhia de suas sombras. Eles não eram discretos, mesmo que tentassem muito, Azriel percebia cada olhar atento, buscando por aquilo que o incomodava. Nem ele sabia o que havia de errado.

Antes que pudesse reagir, suas amigas mais antigas o cercaram como um manto, protegendo-o instintivamente. O mestre-espião sentiu o alerta: alguém o observava. Ele aguçou seus sentidos, insistindo pela calmaria de suas sombras, escutando a respiração controlada de seu observador.

- Se esconderá pela eternidade ou virá para a luz? - sua voz soou firme, apesar de baixa.

Lucien abandonou seu esconderijo, atingido pela luz amarelada dos corredores, fazendo com que Azriel pudesse avaliá-lo discretamente. Seus fios ruivos estavam presos numa trança desleixada; os olhos brilhavam em um atrevimento quase mortal; suas roupas possuíam um tom de verde vibrante, semelhante aos que usava em sua antiga Corte, não combinando com o ambiente que estava inserido. O perfume natural do emissário tornou-se mais evidente, e Azriel recusou o instinto de inspirar aquele aroma de grama molhada e framboesa, prendendo a respiração por alguns segundos.

- Poderia te dizer o mesmo, encantador de sombras - o sorriso debochado do feérico preencheu a visão do illyriano. O olho metálico de Lucien fez um barulho tão baixo que ninguém poderia escutar, exceto por Azriel, quando o olhou da cabeça aos pés.

- O que quer? - o mestre-espião pensou que pudesse estar sendo desnecessariamente grosseiro, porém, pouco se importou.

De alguma forma, o feérico estava se acostumando com a desconfiança de todos, nenhum dos residentes de Velaris confiava nele. E ele não confiava em ninguém. Não mais.

- O que é suposto de se fazer em uma biblioteca, Azriel? - o homem semicerrou os olhos castanhos em um aviso silencioso para que não abusasse da própria sorte, ocasionando em mais um sorriso sarcástico de Lucien.

A escuridão do encantador rodopiava por suas asas, atrás de sua orelha e por entre seus dedos como uma carícia. Azriel não parecia notar que elas faziam aquilo, provavelmente está acostumado, pensou Lucien quando seus olhos se fixaram com atenção na figura imponente a sua frente. A postura do homem mostrava um porte illyriano invejável com seus músculos definidos por ter que sustentar o peso natural das enormes asas de morcego, suas feições eram inexpressivas e duras, seus olhos castanhos e as ondas de seu cabelo escuro caindo nas laterais do rosto. Era inegável o quanto ele era atraente.

TALKING TO THE MOON || lurielOnde histórias criam vida. Descubra agora